Capítulo 20: O preço da humanização

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A falsa luz da lua iluminava minguadamente a varanda. O céu ainda chorava, gritava, clamava por paz. O escuro trazia novamente dores à tona. Após noites em claro, Nakahara finalmente dormia. Osamu se deleitava no próprio desalento, se banhava com a dor, se aconchegava em sua realidade degradante.

Beijou a boca da garrafa, inspirou o ar gélido da noite, suspirou desesperança. Arrastou-se junto ao vinho para dentro de casa e fechou a porta de vidro da varanda.

Entrou trocando os pés em um cômodo desocupado da casa, ficou entre os dois espelhos do cômodo, eles não refletiam seu reflexo. Se sentou e cruzou as pernas, lutava pela própria sobriedade.

─ Satã pai eterno, onipotente, onipresente e justo, ouça minhas preces, ilumine seu filho com os raios de sua justiça, mande seus anjos a prol de teu servo. Ethan.

Os espelhos se quebraram, um som surdecedor vinha do chão, sua cabeça girava e a bebida barata se embrulhava em seu estômago. Uma silhueta escura aparecia em meio aos cacos de vidro, protegeu-se da luz que o cegava.

─ Diga o que quer. ─ A sombra tomava forma, Osamu sorriu assim que o viu.

─ Tagawa, que saudade! ─ Correu e o abraçou, sem objeções.

Akutagawa parecia constrangido.

─ Já disse para não me chamar enquanto estiver bêbado. ─ Tentou o desagarrar de si.

─ Senti sua falta.

─ Isso é tudo? Se não tiver mais nada a dizer irei me retirar. ─ Se virou.

─ Preciso de um favor seu.

─ Eu deveria estar surpreso?

─ Preciso me humanizar novamente. ─ Ryūnosuke suspirou.

─ Sabe o que aconteceu da ultima vez, sabe das consequências.

─ Estou disposto.

─ Por que ir tão longe por ele? ─ Osamu não o respondeu, talvez não tivesse uma resposta. ─ Ele não faria metade disso por você, sabe disso.

─ Eu-

─ Está fracassando com o seu trabalho. ─ Ele aumentava o tom de voz, soava indignação.

─ Eu o amo. ─ Saiu baixinho, em uma entonação triste, se decepcionava consigo mesmo.

─ Claro. ─ Parecia já saber. ─ Irei pedir para o pai, por você.

─ Faria isso por mim?

─ Sabe que pode não voltar a ser um demônio, não sabe? ─ Osamu engoliu a seco.

Akutagawa inspirou, olhou para o céu ao lado de fora e se debruçou na janela, tinha pouco tempo ali e o céu brilhava como nunca. Eram momentos raros, a escuridão o engoliria em alguns instantes.

─ Tem cigarro? ─ Osamu balançou a cabeça em negação.

Ryūnosuke fez carinho nos fios castanhos do maior.

─ Se cuida, irmão.

Osamu Dazai era um grande mentiroso.

─continua no capítulo 21.

─notas do autor: eu sei que vocês me amam, mas evitem ameaças e parem de rastrear meu ip.

Cupido ─ SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora