Capítulo 14: Amor

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Avisos:
O capítulo a seguir aborda
temas sensíveis para a leitura,
como: menções a suicídio e automutilação.
Caso seja sensível à esse tipo
de conteúdo peço que não
leia.
•Atenciosamente: Belphegor.
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─ É bom estar com você. ─ Caminhávamos pelas ruas pavimentadas.

─ Digo o mesmo. ─ Forcei um sorriso, mentia para ele tanto quanto mentia para mim mesmo.

Vai ficar tudo bem.

─ Se não se incomodar, poderíamos passar em um lugar antes? ─ Me olhou pedinte, tive um mau pressagio.

─ Tudo bem. ─ Dizia o contrário do que pensava.

Viramos mais algumas ruas, algumas esquinas, algumas preocupações me cercavam, alguns palpites inconvenientes sobre o futuro soava desesperançosos. Eu fingia não perceber.

Me agarrei ao amuleto em meu pescoço.

─ Entra. ─ Entramos em um prédio, o reconheci abruptamente.

Shirase cumprimentou o porteiro, sorriu exageradamente.

─ Para onde estamos indo? ─ Ele entrou no elevador, eu o segui.

─ Você vai ver.

Presenciavamos um silêncio infernal, o elevador me dava tontura, ânsia de vômito.

─ Vem. ─ Me puxou pela mão, pude ver que um dos ferimentos no seu pulso se abriu, preferi não comentar e evitar desconforto.

Estávamos no terraço.

─ Você se lembra? ─ Buichirō caminhou até a ponta do prédio, lembranças ruins me cercavam, quis vomitar, colocar para fora sentimentos amargos. ─ Nos conhecemos aqui. ─ Se sentou a beira do terraço, suas pernas balançavam ao ar.

Vai ficar tudo bem.

─ Você estava tentando se matar. ─ Me encolhi, a noite era fria e uma brisa gelida congelava meus ossos.

─ E você me salvou. ─ Se virou para me observar, eu estava distante.

─ Eu não fiz nada.

─ Você me amou. ─ Engoli a seco.

─ Uma pena você não ter feito o mesmo. ─ Você continha um sorriso triste, uma face amargurada e uma voz chorosa. Quis te abraçar, mas fui covarde.

─ Eu aind-

─ Se me amasse não teria me deixado. ─ Minha voz soou aguda, quanto mais o passado vinha à tona, mais eu me perdia de mim, me perdia de você, me perdia de nós, e do que fomos algum dia.

─ Você sabe que não foi assim, tudo o que eu fiz foi pensando em você. ─ Balbuciou.

─ E então como foi, Shirase?

─ Não podíamos ficar juntos, seríamos mal visto pela sociedade. ─ Levantou a voz, que soava desespero. ─ Você me entende não é?

Shirase chorava.

─ Não, eu não te entendo. ─ Sequei a lágrima solitária que escorreu por minha bochecha. ─ Sua solução foi começar a namorar uma mulher?

─ Eu não... a amava. ─ Soluçava.

─ Você sabe o que é amor? ─ Você virou-se com as sobrancelhas arqueadas, suas mãos tremiam, seus olhos avermelhados imploravam por um ponto final.

Olhou para a rodovia abaixo.

─ Eu... estava tentando encobertar o que sentia por você. ─ Chorava e soluçava incessantemente.

─ E funcionou? ─ Buichirō soltou um riso triste.

─ Parece ter funcionado?

─ Parecia.

─ Eu ainda te amo, Nakahara.

Percebi que também chorava.

─ Eu... ─ Minha cabeça estava a mil, não soube dizer o que sentia. ─ Eu também te amava.

─ Me promete uma última vez. ─ Se levantou a observar as luzes em volta no escuro daquela noite fria.

Olhou novamente para a rodovia abaixo de si.

─ Shirase, sai daí. ─ Me aproximei.

─ Me promete que não vai ter medo de ser feliz. ─ Se virou para mim.

─ Shirase, sai da ponta do terraço. ─ Minha respiração descompassada me impedia de me acalmar.

Você olhou para algo ao meu lado.

─ Cuida dele 'pra mim? ─ Olhei para minha esquerda, Dazai concordava com a cabeça, você podia o ver?

Deixa comigo.

Espero que possamos ser felizes na próxima vida, Chuuya.

─ Shirase, não! ─ Gritei, tentando correr até você.

Shirase se jogou do terraço.

─ SHIRASEEEE!! ─ Gritei do fundo de minha alma, que desconsolada me julgava.

Minhas pernas falharam, caí sobre uma angústia sem fim, chorava, gritava, mas não importava o que fizesse, eu não o traria de volta.

Foi culpa minha?

Eu chorava alto, gritava, me esperneava, mas nada te trazia de volta.

Por quê?

─ Vamos para casa, Chuuya. ─ Impedi que me tocasse.

─ Você sabia que isso aconteceria! Por que não o impediu!? Por quê!? ─ Minha garganta doía, Osamu me olhava com pena.

─ Não havia nada que eu pudesse fazer, me desculpe pequeno. ─ Afagou os fios bagunçados de meu cabelo, dessa vez não tive forças para te impedir.

─ Foi minha culpa? ─ Eu chorava, gaguejava, tropeçava nas palavras.

─ Por que seria culpa sua?

─ Se eu tivesse... se eu tivesse dito que o amava, ele n-

─ Acha que mentir resolveria as coisas? ─ Enxuguei as lágrimas em um ato em vão, não o respondi. ─ Vem, eu vou chamar uma ambulância.

─continua no capítulo 15.

─notas do autor: boatos de que o autor se identifica um pouco com cada personagem.

Cupido ─ SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora