O fim estava próximo.
O futuro nunca existiu, no presente vivemos de passado, e no passado à espera de um futuro, não vivíamos. O ventilador de teto girava, girava, girava, mas, o vento que vinha da janela tinha um quê de refrigério.
O maço de cigarro era convidativo. Eu estava afundando na miséria, meu apartamento cheirava a fracasso. Eu me levantei da cama, catei as chaves, o cigarro e a fraqueza, e saí pelos corredores.
O frio que fazia no terraço era hostil. Eu me encolhi, o vento gélido congelava meus ossos. Eu cheguei a ponta do terraço na necessidade de inalar a fumaça que apodrecia meus pulmões. Mas, do meu lado havia alguém.
─ Tem isqueiro? ─ Eu perguntei, afim de puxar assunto com o suicida.
─ Por que eu teria? ─ A voz embargada, os olhos inchados e as mãos trêmulas, um olhar de desespero e os pés que balançavam no ar. Eu quis ajuda-lo, mas quem sou eu para apreciar a vida?
Procurei pelos bolsos, e achei uma caixinha de fósforo, não era o essencial, mas serviria.
Acendi o fósforo, mas o vento apagou. Acendi o segundo fósforo, mas o vento novamente apagou. Vi o garoto de fios brancos rir.
─ Minha desgraça te diverte? ─ Eu perguntei, o olhando de rabo de olho.
─ Um pouco.
Quando finalmente acendi um cigarro, traguei a fumaça, acalmava minha mente, fodia meus pulmões, era uma troca viável.
─ Por que não procura um prédio maior?
─ O que?
─ É que daqui você no máximo fratura uma perna. ─ Eu não quis incentiva-lo, mas se quisesse se matar, que fizesse direito.
─ Você acha?
─ Depende, talvez se você pular de cabeça funcione. ─ Os olhos dele se arregalaram, ele tinha medo.
─ Como? ─ Perguntou incrédulo.
─ Vou te mostrar.
─ O que?
─ Com licença. ─ Cheguei onde o garoto estava. ─ Vê se presta atenção, só vai ver uma vez. ─ Eu ri.
─ Não! Isso é loucura.
─ Você vem depois de mim.
─ Para!! ─ Senti meu corpo ser puxado para longe da ponta do terraço. Eu gargalhei.
─ Qual foi do desespero?
─ Não quero morrer com o peso de ter matado alguém.
─ Sei, sei.
O vento batendo contra seus cabelos era a única movimentação daquela noite. As estrelas se escondiam no céu, a falsa luz da lua era a única iluminação naquela noite mórbida e maçante.
─ Como se chama? ─ Acendi outro cigarro.
─ Shirase, Buichiro Shirase. ─ Ele disse.
─ Seu nome é tão bonito quanto você.
─ Está dando em cima de mim? ─ Ele perguntou, e sorriu, ah... eu me deleitei naquele sorriso.
─ Talvez eu esteja. ─ Eu ri.
─ Eu gosto do seu chapéu. ─ Eu o olhei com um sorriso sincero, ele parecia saber o que dizer.
─ E quem não gosta? ─ Ironizei.
Eu joguei fora a última bituca de cigarro, disposto a ir embora.
─ Quer sair comigo amanhã? ─ Shirase me olhou incrédulo. Quem em sã consciência chamaria alguém prestes a se suicidar para um encontro?
─ Eu quero. ─ Ele disse baixinho.
Eu me aproximei, com cuidado para não assusta-lo e lhe dei um beijinho na testa.
─ Então fique vivo até lá.
Eu saí do terraço, em direção ao meu apartamento.
─continua no capítulo 29.
─notas do autor: eu simplesmente não consigo odiar o shirase sabendo o passado dele:/
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Cupido ─ Soukoku
Fanfic─ Por que não posso apaixonar-me por ninguém? ─ Indagou o tom rude e embriagado. ─ É simples. ─ O tom sarcástico o fazia amaldiçoar aquele maldito cupido por toda sua vida infeliz. ─ Você me pertence. • • •Anime: Bungo stray dogs •Shipp: Soukoku (Da...