Capítulo 28: Chuuya e Shirase¹

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O fim estava próximo.

O futuro nunca existiu, no presente vivemos de passado, e no passado à espera de um futuro, não vivíamos. O ventilador de teto girava, girava, girava, mas, o vento que vinha da janela tinha um quê de refrigério.

O maço de cigarro era convidativo. Eu estava afundando na miséria, meu apartamento cheirava a fracasso. Eu me levantei da cama, catei as chaves, o cigarro e a fraqueza, e saí pelos corredores.

O frio que fazia no terraço era hostil. Eu me encolhi, o vento gélido congelava meus ossos. Eu cheguei a ponta do terraço na necessidade de inalar a fumaça que apodrecia meus pulmões. Mas, do meu lado havia alguém.

─ Tem isqueiro? ─ Eu perguntei, afim de puxar assunto com o suicida.

─ Por que eu teria? ─ A voz embargada, os olhos inchados e as mãos trêmulas, um olhar de desespero e os pés que balançavam no ar. Eu quis ajuda-lo, mas quem sou eu para apreciar a vida?

Procurei pelos bolsos, e achei uma caixinha de fósforo, não era o essencial, mas serviria.

Acendi o fósforo, mas o vento apagou. Acendi o segundo fósforo, mas o vento novamente apagou. Vi o garoto de fios brancos rir.

─ Minha desgraça te diverte? ─ Eu perguntei, o olhando de rabo de olho.

─ Um pouco.

Quando finalmente acendi um cigarro, traguei a fumaça, acalmava minha mente, fodia meus pulmões, era uma troca viável.

─ Por que não procura um prédio maior?

─ O que?

─ É que daqui você no máximo fratura uma perna. ─ Eu não quis incentiva-lo, mas se quisesse se matar, que fizesse direito.

─ Você acha?

─ Depende, talvez se você pular de cabeça funcione. ─ Os olhos dele se arregalaram, ele tinha medo.

─ Como? ─ Perguntou incrédulo.

─ Vou te mostrar.

─ O que?

─ Com licença. ─ Cheguei onde o garoto estava. ─ Vê se presta atenção, só vai ver uma vez. ─ Eu ri.

─ Não! Isso é loucura.

─ Você vem depois de mim.

─ Para!! ─ Senti meu corpo ser puxado para longe da ponta do terraço. Eu gargalhei.

─ Qual foi do desespero?

─ Não quero morrer com o peso de ter matado alguém.

─ Sei, sei.

O vento batendo contra seus cabelos era a única movimentação daquela noite. As estrelas se escondiam no céu, a falsa luz da lua era a única iluminação naquela noite mórbida e maçante.

─ Como se chama? ─ Acendi outro cigarro.

─ Shirase, Buichiro Shirase. ─ Ele disse.

─ Seu nome é tão bonito quanto você.

─ Está dando em cima de mim? ─ Ele perguntou, e sorriu, ah... eu me deleitei naquele sorriso.

─ Talvez eu esteja. ─ Eu ri.

─ Eu gosto do seu chapéu. ─ Eu o olhei com um sorriso sincero, ele parecia saber o que dizer.

─ E quem não gosta? ─ Ironizei.

Eu joguei fora a última bituca de cigarro, disposto a ir embora.

─ Quer sair comigo amanhã? ─ Shirase me olhou incrédulo. Quem em sã consciência chamaria alguém prestes a se suicidar para um encontro?

─ Eu quero. ─ Ele disse baixinho.

Eu me aproximei, com cuidado para não assusta-lo e lhe dei um beijinho na testa.

─ Então fique vivo até lá.

Eu saí do terraço, em direção ao meu apartamento.

─continua no capítulo 29.

─notas do autor: eu simplesmente não consigo odiar o shirase sabendo o passado dele:/

Cupido ─ SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora