𝐔𝐦 𝐝𝐢𝐚 𝐝𝐢𝐟𝐢́𝐜𝐢𝐥 𝐞 𝐮𝐦 𝐚𝐛𝐫𝐚𝐜̧𝐨

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Enid havia tido um dia cansativo, ela falou com seus pais pela primeira vez em semanas, o que foi bastante infeliz, mesmo já tendo se transformado por completo em loba a cobrança de seus parentes ainda a perseguia, seja falando sobre suas notas, arrumar um namorado ou tantas outras coisas que nem vale apena listar.

Além disso, alguns estudantes resolveram que era o dia perfeito para pertubar a loira, nada muito pesado, apenas as zoações de sempre, alguns dos alunos poderiam até levar tudo como uma grande piada, pensar que Enid não se importaria. Mas ela se importava, em especial por que sua personalidade extravagante já havia sido criticada pela família, ao menos hoje seus colegas poderiam deixá-la de lado.

Tudo que Enid queria quando voltava para seu dormitório era um banho quente, pijama, um cobertor e sua namorada. Infelizmente para ela, Wednesday não estava quando ela chegou em seu quarto, então tudo que restou para ela foi tomar um banho relaxante e deitar. Olhando para o teto de madeira com algumas rachaduras e partes quebradas, ela tentava esvaziar sua cabeça, mesmo em uma cama macia e confortável como a que estava seus músculos pareciam rígidos. Um desconforto constante fazia com que ela mudasse de posição o tempo todo, ela mexia nos travesseiros e cobertas como se houvesse algo de errado com eles. Mas quando tudo foi jogado no chão e o conforto ainda não havia a alcançado seus olhos encheram-se de água com o pensamento de que talvez era ela quem tinha algo de errado. Afinal seus pais apontaram inúmeros defeitos nela e os que restaram foram mencionados por alunos irritantes. Talvez ela de fato fosse o problema, talvez sua namorada tenha saído para evitá-la e talvez seus irmãos mal conversem com ela por sua culpa.

Eram muitos os pensamentos que atravessavam seu cérebro como balas,  seu choro não tinha nada a ver com travesseiros, por isso era desesperado e agonizante, porém silênciado pela chuva grossa que começou a despencar do céu e maltratar os telhados de NeverMore, seus trovões superavam todos os barulhos do ambiente desde o ranger das tábuas até o andar dos dedos de Thing correndo para consolá-la sem sucesso, e a pelúcia dos Ursinhos Carinhosos em que Enid enfiara o rosto não permitia que ela fosse ouvida. Às vezes ela desejava que fosse mais assim, sem que ninguém pudesse vê-la ou ouvi-la.

Quando as lagrimas pareceram se esgotar e Thing saiu de seu ombro para buscar por um lenço, ela teve tempo para se preocupar com Wednesday, com uma grande tempestade lá fora ela gostaria de pelo menos saber onde a namorada está. Sentou-se olhando para a porta até sentir o rosto grudar com lágrimas secas, a cabeça pulsar em dor pelo choro e os últimos soluços irem embora enquanto recuperava o ritimo normal de respiração, a última gota de seu choro escorria pela clavícula e sumia no tecido do pijama. Foi quando ouviu a trava da porta e sua namorada entrou encharcada de chuva, suas tranças pingavam na madeira e sua franja sempre alinhada estava bagunçada pelo vento. Em sua mão havia algo que parecia um vazo de flor.

-Oi Wend- Sinclair tentou disfarçar a voz e recolher o máximo de almofadas do chão antes que a namorada notasse seu estado mental.

- Trouxe uma coisa para você.- ela tirava o casaco pesado que molhava o chão- Eu ia pegar uma flor, mas eu gosto mais desse.

Conforme se aproximava, Enid começava a ver mais claramente a forma dentro do vazo, era um cacto em formato de uma grande e achatada bolinha. Enid abriu um pequeno sorriso enquanto agradecia e pegava a pequena planta. Wednesday depositou um beijo suave em sua testa e examinou-a de cima a baixo com um olhar suspeito.

- O que aconteceu?- a morena perguntou segurando o rosto da namorda pelas bochechas, analisando os olhos inchados. Enid colocou o presente na mesa ao lado da cama e suspirou pesadamente. Pode sentir seu corpo voltar a ser tenso e as lágrimas ameaçarem voltar.

- Não foi nada de mais, só...- ela precisou suspirar novamente para controlar a voz trêmula- tive uns problemas com meus pais e uns idiotas aqui da escola.

A gótica ocupou um pequeno espaço no colchão para evitar levar os restos da chuva para a cama, ela pegou a mão de Sinclair e depositou um casto beijo nas costas. Mas Enid precisava de mais do que isso, lançou seus braços ao redor do pescoço da Addams e usou toda sua força para mantê-la por perto.
Wednesday só pode retribuir o gesto e deixar o máximo de beijos que pode no rosto de Sinclair antes de ser puxada para estar completamente deitada com a namorada.

Era isso que estava errado com a cama de Enid mais cedo, Wednesday não estava lá. Era um alívio poder finalmente relaxar o corpo sobre o da namorada e ter alguém para cessar suas lágrimas com amor, sem querer desprezar Thing, mas era completamente diferente. Suas preocupações pareciam desaparecer cada vez que Wednesday acariciava seus fios louros, e mesmo que ninguém mais a desejasse por perto não parecia ter relevância quando sua namorada a queria. A Addams sentia o aperto de Enid ficar mais suave e os suluços tristes menos constantes até que a loba adormecesse em seus braços e parecesse muito mais calma do que quando ela chegou. Ainda a cariciando as mechas loiras, Wednesday desejou a morte dos pais de Sinclair. E mais do que isso, queria protegê-la deles para o resto de sua vida, como Enid merecia.

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𝐖𝐞𝐧𝐜𝐥𝐚𝐢𝐫 | 𝐎𝐧𝐞 𝐒𝐡𝐨𝐭𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora