Prólogo

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   Eles saíram do cinema naquela noite, três amigos, nenhuma garota entre eles. A Sessão era: Clássicos do Cinema.

   Aquela era a noite dos rapazes, eles faziam isso vez ou outra, nada de namoradas. Caminharam pelas ruas escuras, deixando as luzes do cinema para trás. Ainda podiam ver as imagens em suas mentes, o filme tinha tocado seus corações e cada um havia se identificado com ele de uma forma. O Poderoso Chefão, o filme que mudaria as vidas dos três amigos.

   Caminharam de cabeça baixa pela noite, mãos nos bolsos, olhos fixos no asfalto e mentes ativas.

   Chegaram por fim ao local de sempre e sentaram-se no encosto do banco central, eles nunca se sentavam nos bancos.

   A praça era pequena, formava um retângulo muito mal esquadrinhado, não tinha árvores, mas tinha muita grama. Quatro bancos eram dispostos ali, cada um voltado para uma extremidade do retângulo, com os encostos voltados para dentro, as pessoas que sentavam ali sempre fitavam a rua. No centro havia um coreto pobre e esquecido, totalmente ocupado pelas trepadeiras secas e espinhos pequenos, escorado no coreto ficava O Banco, o bando deles, onde eles sempre se encontravam. Não era muito grande, o suficiente para eles três. Sobre o coreto, como um estandarte, a velha placa da praça ainda era legível: Praça Cassarano

   - Vocês acham que isso seria possível? – perguntou Fabrício, de pé e com as mãos nos bolsos.

   Fabrício Masserini, um garoto alto para seus dezessete anos, não era um garoto gordo mas estava longe de ser uma magricela. Seus cabelos negros e seus olhos castanhos chamavam atenção, mas suas olheiras precoces e seu nariz Italiano o deixavam com um ar envelhecido. Como se um garoto de dezessete anos vivesse dentro de um velho de oitenta. Vestia calça jeans justa, uma camiseta azul coberta com uma blusa cinza, a única que ele tinha, e um tênis velho que havia sido de um primo distante. Filho de uma mãe solteira que trabalhava tanto que não tinha tempo para ele. Afinal, alguém tem que por a comida na mesa.

   - O que seria possível? - Henrique passou a pergunta para Fabrício novamente. Estava sentado jogando seu iôiô, algo que ele fazia o tempo todo.

   Henrique Passoline, quinze anos, o mais novo dos três amigos. O mais inteligente da turma, orgulhava-se de completar o cubo de Rubik em menos de um minuto. Não era tão alto quanto Fabrício mas tinha menos pneus na cintura, e ainda podia-se ver o pomo-de-adão em seu pescoço. Estava vestido com uma calça de moletom confortável, uma blusa de zíper, e tênis de marca. Os óculos teimavam em procurar a ponta de seu nariz, algo que ele não deixava acontecer de jeito nenhum, arrumando as hastes a cada dez segundos. Morava com sua avó, em um apartamento antigo em cima da padaria do velho Portuga. Nunca tivera problemas com dinheiro, mas o mesmo não podia ser dito em relação à garotas, era o único solteiro do grupo, algo que o chateava.

   - Essa coisa de Máfia? Será que existe mesmo? – Reforçou Fabrício.

   - Claro que existe, Fabri, você está de brincadeira cara? – respondeu e perguntou ao mesmo tempo Henrique – A Máfia existiu cara, nos anos vinte os caras ergueram um verdadeiro império. Al Capone poderia te contar melhor. – Henrique respondeu a própria pergunta.

   - Al Capone? Esse não era aquele juiz que morreu num acidente de carro? – dessa vez quem perguntou foi Ricardo.

   Ricardo Santos, dezesseis anos, na verdade ele era mais velho que Henrique só dois meses, mas isso lhe bastava para não ser o mais novo da turma. Cabelos negros e lisos, rosto muito branco repleto de espinhas, forte e desastrado estava sempre pronto pro que pudesse acontecer, brigas, encrencas e coisas assim, que nunca aconteciam. Usava uma calça jeans surrada, tênis velhos, uma camisa branca amarelada pelo tempo. Não usava blusa, apesar do frio que fazia naquela noite. Morava com os pais, um típico casal perfeito, daqueles que podem se matar quando ninguém estiver olhando.

Família Cassarano (por Marco Febrini) (Sem revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora