PROLOGO¦zero

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Se tivessem me contado a meses atrás que passaria minhas férias de verão sentada olhando para a piscina vazia do condomínio com a minha vó maluca e seu cachorro, eu gargalharia por longos minutos

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Se tivessem me contado a meses atrás que passaria minhas férias de verão sentada olhando para a piscina vazia do condomínio com a minha vó maluca e seu cachorro, eu gargalharia por longos minutos.

Mas a vida tem muitas reviravoltas, e o karma não tem compaixão.

Levei o canudo à boca, sentindo a mistura doce e ácida da limonada, enquanto o sol esquentava minha pele, a deixando rosada.

Que vida de merda. Pensei, enquanto assistia aquela boia de pato sendo levada pelo vento por toda a extensão da piscina.

A invisibilidade social é o maior castigo na vida de uma antiga abelha rainha. Em circunstâncias normais, agora eu estaria em uma festa na casa de alguma pessoa que não faço ideia do nome, mas que quer muito me impressionar, provavelmente muito bebada e com pouquíssima roupa.

Fred desceu as escadas do seu jeito estranho de andar, comprimentando minha vó e depois eu. A velha tem mais importância, em que porra de mundo alternativo caí?

Uma senhora carregando uma caixa entra, provavelmente a nova moradora. A mulher faz o mesmo que Fred, falando com minha avó, e depois percebendo minha presença.

Conta que se mudou de New Jersey com seu filho, e procura por seu apartamento. Sobe a escada em busca da porta com o número 20 na frente.

Deixo a postura ereta, após ouvir o estrondo da porta da entrada dando na cara do Fernandez. Algum idiota achou uma ótima ideia a abrir com um chute.

O garoto pede desculpa, e Fred como um bom frouxo aceita sem nem pensar, e ainda oferece ajuda para carregar sua mala. Não posso ouvir sua conversa, pela distância, mas é o que da para presumir apenas os assistindo.

Pelo menos uma coisa minimamente interessante para me tirar desse loop de tortura.

― Esse lugar é uma droga, devia voltar para New Jersey ― A mais velha avisa, quando os dois se aproximam mais.

― Como sabe que sou de New Jersey?

― Porque eu sou de New Jersey, farejo quem é de lá ― Disfarço a risada, cobrindo a boca.

― De que lugar?

― Parsippany ― Que velha sacana. Henrietta Strader nasceu e viveu toda a vida em Los Angeles ― Nunca devia ter saído.

― O meu tio Louie é de Parsippany.

― Louie Fontini? ― Tira os olhos do jornal, animada. Apenas inventou um sobrenome.

― Não, Louie LaRusso.

― Louie LaRusso ― Fala na mesma intensidade, e ele concorda ― Não, não conheço.

― Ai cara ela é doida ― Fred cochicha para o outro.

― Ei! Eu ouvi isso ― Levanto da cadeira, fingindo me importar, e pego meu copo agora só com gelo ― Você é bem abusado hein, Fernandez.

― Eu achei ela legal ― O moreno diz.

Começam a subir com a bicicleta, e os sigo, curiosa e intrometida.

― O que vai fazer amanhã? ― Já sei para onde essa conversa vai dar.

― Acho que nada.

― Vamos dar uma festa na praia, despedida de verão. Você quer ir?

― Ah, claro que quero.

― E você, Mary, aceita? ― Se vira na minha direção.

Pff. Claro, conte com a minha presença ― Respondo irônica.

― Para de ser tão rabugenta, vai precisar sair daqui alguma hora.

― Não, obrigada, estou muito bem acompanhada se não pode perceber ― Aponto para senhora no pé da escada.

― De qualquer jeito vou te esperar aqui de manhã, se mudar de ideia ― Não conte com isso, colega ― Seu apartamento é o 20, não é? - Questiona.

― É, é sim.

― Parece que são vizinhos, então ― O garoto olha para mim, enquanto estou entrando na minha casa para reabastecer meu copo.

― Daniel LaRusso. Até estenderia a mão para te comprimentar, mas... ― Abaixa a cabeça como se mostrasse sua situação.

― Marilyn Strader, mas todo mundo me chama de Mary ― Me apresento antes de bater a porta na cara dos dois.

[☆]

As paredes deste condomínio são realmente muito finas. Posso ouvir toda a pequena discussão dos meus vizinhos sobre os óculos de Daniel, enquanto tomo meu café da manhã.

Já sabia sobre a confusão na praia, pois mesmo não estando lá, Fred tem a boca grande, e assim que chegou da festa e me viu lá fora, começou a contar sobre a surra que o coitado tomou.

É isso que acontece quando você flerta com a namorada do Johnny Lawrence, na verdade, ex namorada agora.

― Animada para o primeiro dia do último ano? ― Meu pai pergunta ao sair do corredor.

Concordo, sorrindo, ainda de boca cheia.

Ele pega uma torrada, e as chaves da picape, como se me avisasse que é hora de ir embora.

Eu sem dúvida preferia ir para escola de bicicleta, ou ônibus, até caminhando, mas ele insistiu muito para me levar, pelo menos hoje.

E pela primeira vez na história dos primeiros dias de aula, me sinto nervosa. Agarrei a alça da mochila com força, indo até o colégio.

Edifício dedicado a: VERDADE - LIBERDADE - TOLERÂNCIA

Era como se a placa risse de mim nesse momento, zombando da minha situação.

Fui em direção ao meu armário, não foi difícil reconhecê-lo, já que é o único com ofensas escritas com batom vermelho

VAGABUNDA. VADIA. PIRANHA. PROSTITUTA.

Bem vinda de volta ao inferno, Strader.

𝗥𝗘𝗣𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗢𝗡, DANIEL LARUSSOOnde histórias criam vida. Descubra agora