CLAUDIA¦dez

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Isso não pode ser real

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Isso não pode ser real.

Minha mãe retornou do mundo dos mortos para me castigar dos meus pecados.

A cada passo mais próximo dela, eu suplicava a um ser maior que tudo isso fosse apenas uma ilusão da minha mente culpada pelas minhas ações egoístas. E quem mais perfeito para me castigar, do que o ser humano mais egoísta do mundo.

— Mas que porra você está fazendo aqui? — Exclamo de frente para mulher, que solta a fumaça da sua boca no meu rosto, antes de contorcer seus lábios pintados de vermelho em um sorriso.

— Minha pedra preciosa — Ela acaricia minha bochecha com as costas da sua mão, que eu afasto rapidamente.

— Não encosta em mim — Ordeno, ríspida.

— Vejo que continua irritada comigo — A mais velha se curva para dentro do carro, pegando no assoalho do banco do carona um embrulho — Trouxe um presente, para te compensar todos esses anos.

Gargalho sem gosto.

— Valeu, Claudia, pelo presentinho de "desculpa por te abandonar" — Faço aspas com os dedos — Mas não quero nada que venha de você.

— Norma, não faça essa cara, vai te dar rugas — Reviro os olhos. A mesma escrota de sempre.

— É melhor ir embora, antes que o meu pai chegue e te veja aqui — Claudia dá uma última tragada no cigarro, antes de amassá-lo com seus saltos.

— Eu e ele precisamos ter uma conversa — Fecho o punho, sentindo minhas unhas perfurarem minha carne — Quero me aproximar de vocês, ter uma segunda chance.

— Como pode ser tão insensível? Tem noção do quanto destruiu ele? Quanto machucou nós dois? — Pergunto de forma retórica.

— Foi um erro, Marilyn, e me arrependo — Tenta tocar meu braço, mas recuo — Tudo bem, eu vou embora, mas com uma condição — Levanta o indicador.

[☆]

Não posso acreditar que realmente estou fazendo isso.

Mexo meus pés freneticamente debaixo da mesa, a lanchonete cheira a fritura, e é preenchida pela som da música antiga da jukebox.

Já tinha me esquecido do quanto esse lugar é ridículo, com esse azulejo preto e branco, garçonetes fantasiadas e de patins, e tudo como se fosse os anos cinquenta.

O som do sino anuncia a presença da mulher, que como sempre está vestida vulgarmente, os lábios vermelhos, saltos de mesma cor, e um cigarro em mãos.

Ela caminha até a minha mesa, e senta no banco de frente ao meu, nós duas permanecemos mudas

— O que vai querer? — Quebra o silêncio — Batatas fritas?

— Eu quero que você vá embora!

— Sabe, Marilyn, realmente não te entendo, primeiro me manda dezenas de cartas pedindo para que eu volte, e quando estou aqui quer que eu vá embora — Deus, como a odeio.

— Isso foi a quatro anos — Soco a mesa — O que é que quer de verdade? Mais dinheiro? — Pergunto — Não caio no seu papo de se reconectar — Falo com desdém.

— É a verdade, Mary, quero voltar a ser a sua mãe — Coloca sua mão sobre a minha.

— Eu precisava que você fosse a quatro anos atrás, agora não passa de uma estranha — Me livro de seu toque — Vai embora! — Repito.

— Seu pai realmente fez um péssimo trabalho — Nega com a cabeça — Mas, tudo bem, estou aqui agora para consertar — Dá de ombros — E não vou embora, me mudei definitivamente com o meu noivo.

— Noivo, é claro que não tinha nada a ver comigo.

[☆]

— O que ‘ fazendo aqui fora? — Daniel para alguns degraus a frente de onde estou sentada.

— Só olhando para o céu, sentindo a brisa — Minto, secando as bochechas.

— Não consegue me enganar, Mary, te conheço, tenho uma lista — Sorrio, fraco.

— Admito, estava chorando escondida — Explico — Não quero que o meu pai me veja assim.

— Quem fez isso com você? — Se junta a mim na escada — Eu já te disse que sei karate, posso resolver — Tenta me animar.

— Foi a minha mãe.

— Saudade dela, não é? — Abraça meu ombro.

— Na verdade, não — Suspiro, abaixando a cabeça, e passando a mão pelos meus fios negros — Eu menti, Daniel, a minha mãe está viva.

— O que? — As sobrancelhas dele franzem — Por que mentiria sobre isso?

— É complicado — Acaricio as têmporas — Minha mãe morreu a quatro anos atrás em um acidente de carro, a minha mãe de verdade, a que me dava beijos de boa noite antes de dormir, trazia batatas fritas, e cuidava dos meus joelhos ralados — Levanto meu rosto, olhando para frente — Eu estava com ela naquele carro, quebrei meu braço e quando saí do hospital tive que passar alguns dias com a minha avó, meu pai chorava o tempo todo, ninguém me dizia nada.

É a primeira vez que conto essa história, as lembranças que passam na minha mente como um filme todos os dias quando deito na cama e fecho meus olhos.

— Os dias viraram semanas, que viraram meses, depois de dez recebi uma carta, era da minha mãe, contou que depois de ter uma experiência de quase morte percebeu que se casar com o idiota que a engravidou no ensino médio e ser garçonete não era a vida que queria, essas foram as palavras dela, ela vendeu a nossa casa e fugiu com o carro, junto com todo o dinheiro que o meu pai guardava para minha faculdade — As lágrimas que escorrem sem parar molham a minha blusa, as palavras saem junto com toda a mágoa e rancor de anos — Aquela escrota me manda um cartão postal dos lugares que viaja todos os anos no meu aniversário, esse ano entregou pessoalmente, é de Hollywood.

O LaRusso acaba com nossa distância juntando os nossos corpos em um abraço apertado, que me pega de surpresa.

Perto dele eu me sinto aconchegada e segura, o que me faz chorar ainda mais.

Por entre os meus soluços, posso ouvir suas frases de consolo.

𝗥𝗘𝗣𝗨𝗧𝗔𝗧𝗜𝗢𝗡, DANIEL LARUSSOOnde histórias criam vida. Descubra agora