Mary viu sua vida virar de ponta cabeça por um boato sobre ela se espalhar por todo o colégio. A tornando odiada e mal falada, mas a chegada de um garoto vindo de Nova Jersey podia mudar tudo novamente?
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Bati minha cabeça repetidamente na parede. Sou tão burra.
Absolutamente nada daquela lista de exercícios fazia sentido para mim. Nunca fui um gênio, mas é fácil ter boas notas quando as pessoas se oferecem para fazer seus trabalhos.
Vamos lá, Mary, coloque sua cabeça para funcionar.
Ouço passos subindo a escada, e me preparo para fugir, já que o segundo andar é exclusivo para os alunos do último ano, e no momento todos ― inclusive eu ― Deveriam estar na aula de Educação Física.
Antes que pudesse correr para algumas das salas, escuto uma voz reclamando.
"Droga de escola, eu odeio aqui" Repete incansavelmente.
Desço alguns degraus procurando pelo dono da voz, que vagamente me lembra alguém. Só quero dar uma espiadinha para conferir o sofredor.
Não reconheço de imediato o garoto.
Quando estava preparada para voltar ao meu lugar de antes, ele percebe a minha presença.
― A quanto tempo está aí? ― Sua cabeça está virada para cima, devido a eu estar a uma distância considerável.
― O suficiente para perceber que o seu dia está sendo tão horrível quanto o meu ― Ele começa a subir mais.
― Pelo menos não tem um olho roxo.
― Não por enquanto ― Digo, relembrando das ameaças de Jennifer Parker.
Sento de novo, suspirando.
― Mexeu com as pessoas erradas, Newark, a galera da alta é bem cruel.
― O aviso veio um pouco tarde demais ― Aponta para o rosto, enquanto se senta ao meu lado - Você não parece o tipo de pessoa que eles implicam.
- Eu não era - Encosto minhas costas na parede.
- O que fez de tão ruim? Matou alguém?
- Não é da sua conta.
- Tudo bem, bravinha - Levanta as mãos em rendição.
- Ainda tem tempo de fugir de confusão, se ficar na sua, longe dessas pessoas, e apenas ser invisível, o seu último ano será tranquilo - O sinal toca, ecoando por todo o corredor - Boa sorte, o Johnny é bem rancoroso.
[☆]
- Milk-shake na mesa dez - O cozinheiro fala, empurrando a bandeja com o pedido.
Seguro o metal tentando equilibrar as taças de vidro, e andar com os patins ao mesmo tempo. Quem foi o idiota que achou uma ótima ideia fazer uma lanchonete com o tema anos 60?
Deixo um sorriso se formar entre os meus lábios pintados de vermelho. Quanto mais simpática, mais gorjeta.
Coloco a bandeja sobre a mesa, tirando as taças.
- Dois de morango, dois de chocolate e um de baunilha - Levanto a cabeça, vendo os clientes.
Ah merda. A gangue do Cobra Kai está ali parada, se divertindo com a minha humilhação, é claro que estar com uma saia rodada com estampa de bolinhas, esse penteado reforçado de spray para cabelo, e andar de patins enquanto sirvo mesas, não é o melhor estado em que já me viram.
- Está mesmo no fundo do poço, não é... Marilyn - Johnny lê no meu crachá.
- Desejam mais algumas coisa? - Pergunto entre dentes.
- Tem certeza que quer saber? - O tom malicioso na voz de Dutch faz meu estômago se revirar de repulsa.
Será que esse dia pode piorar?
- A gente pode conversar? - Na ponta da mesa enxergo Bobby, o dono do questionamento. Claro que pode.
Dou as costas para o grupo, voltando para trás do balcão com rapidez. O loiro vem atrás de mim com dificuldade para passar entre os amigos.
- Vou ser rápido, eu juro - Se senta em um dos banquinhos.
Não consigo o ver, por dar total atenção à pequena janela com visão da cozinha.
- Você simplesmente sumiu por meses, e sabia que trabalhava aqui...
- Então pensou que seria uma ótima ideia trazer seus amigos imbecis?! - O interrompo, agora apoiada no balcão, bem próxima do seu rosto - Para de tentar se redimir, só me deixa em paz.
Ouço uma pigarreada do meu lado, e deixo a postura ereta novamente, meu chefe me encara da cabeça aos pés.
- Senhorita Marilyn, sabe como as regras aqui são extremamente restritas sobre assuntos pessoais durante o horário de trabalho.
- I-isso não é um assunto pessoal, ele é um cliente - Aponto para o Brown - Queria um canudo - Entrego - Viu, prontinho!
- E aqueles garotos naquela mesa também não são um assunto pessoal? - Me viro, vendo o grupo fazendo atos "obscenos" nas minhas costas - Eu sei sobre o que as pessoas falam sobre você, Marilyn, minha filha tem a sua idade, mas deixei passar porque é uma boa funcionária, mas hoje todos os limites foram passados, esse é um ambiente familiar. Está despedida!
A partir desse momento todo o resto do seu discurso ficou no mudo, eu realmente precisava desse trabalho.
[☆]
Sento em um dos degraus da escada, sem me preocupar em sujar aquela saia bufante. Levanto o rosto, observando o céu cheio de estrelas, sentindo as lágrimas molharem meu rosto.
- Ola, senhorita Monroe - Daniel brinca se sentando ao meu lado - Está chorando? - O encaro com uma cara de "é sério?" - Ok, foi uma pergunta idiota.
― New Jersey é legal? ― Ele ri.
― É uma droga... Mas é onde eu cresci.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
― Minha vez de perguntar, por que está chorando?
― Acabei de ser demitida ― Limpo minhas bochechas do rímel borrado.
― Seus pais vão ficar bravos?
― Ah não, meu pai nem vai ficar sabendo, nunca está em casa mesmo ― Sussuro a última parte.
― E a sua mãe? - A frase ecoa pela minha mente, indo para uma memória obscura, que faz com que meu coração se acelere
― Ela morreu ― Murmuro em resposta, tentando engolir o nó na minha garganta
― Sinto muito por isso, se serve de consolo, o meu pai também... ― Baixou seu olhar cabisbaixo, a conversa decaiu muito rápido.
― Estava guardando o dinheiro do meu salário para comprar uma passagem e fugir daqui ― Confesso, nunca tinha dito em voz alta.
― Para onde você vai?
― Não faço ideia, alguma sugestão? ― Ele coloca a mão no queixo, fingindo pensar.
― Vegas parece maneiro.
― E para sobreviver eu viraria striper em um casino ― Sorrio.
― É um meio de vida ― Ri também.
Seu sorriso é tão perfeito, que até me deixa sem fôlego por longos segundos, para piorar Daniel joga o cabelo para trás.
― Essa roupa é bem... ― Tenta achar a palavra certa.
― Ridícula, eu sei, mas dá pra piorar ― Pego o par de patins dentro da bolsa.
