Lá fora, o clima havia mudado e agora estava frio e chuvoso. Saí correndo do Jonas Joe's, feliz por ter consultado a previsão do tempo mais cedo e carregado o guarda-chuva. Eu estava a alguns quarteirões do ponto de ônibus quando aquela sensação gelada desceu pela minha nuca. Abaixei-me, fingindo amarrar os sapatos e observei à minha volta disfarçadamente. As calçadas dos dois lados da rua estavam vazias.
O sinal de pedestres abriu, e atravessei a rua. Andando mais rápido, coloquei a bolsa debaixo do braço e torci para que o ônibus não atrasasse. Cortei caminho por um beco atrás de um bar, passei por um punhado de fumantes e saí na outra rua.
Andando rápido rua acima, entrei em outro beco e dei a volta no quarteirão. Verificava se estava sendo seguida a cada segundo. Ouvi o ronco do ônibus, e logo em seguida ele virou a esquina, aparecendo no meio da neblina. Diminuiu a velocidade até se aproximar da calçada e eu entrei, rumo à minha casa. Eu era a única passageira. Depois de escolher um assento algumas fileiras atrás do motorista, escorreguei no banco para não ser vista. Ele puxou a alavanca para fechar a porta e o ônibus ganhou a rua.
Eu estava a ponto de soltar um suspiro de alívio quando recebi uma mensagem de texto de Dinah.
" Onde você está?
Woodland, e você?
Eu também, festa com Lauren e Normani. Vamos nos encontrar.
O que você está fazendo em Woodland?"
Não esperei pela resposta. Liguei. Falar era mais rápido. E era urgente.
- Bem? O que me diz? - perguntou Dinah. - Está com disposição de encarar uma festa?
- Sua mãe sabe que você está em uma festa em Woodland?
- Você está começando a parecer neurótica, querida.
- Não posso acreditar que você veio para Woodland com Lauren! - Um pensamento desanimador me passou pela cabeça. - Ela sabe que você está comigo ao telefone?
- Para poder ir até aí matar você? Não, sinto muito. Ela e Normani foram correndo pegar alguma coisa em Carrollton. Estou sozinha, relaxando. Bem que eu precisava de uma acompanhante. Ei! - Dinah gritou ao fundo - Tire as mãos daí? T-i-r-e. S/n? Não estou exatamente no melhor lugar da cidade. O tempo urge.
- Onde você está?
- Peraí... Tudo bem, o prédio do outro lado da rua tem o número um-sete-dois-sete. A rua é Tiradentes, tenho quase certeza.
- Chegarei aí o mais rápido possível. Mas não vou ficar. Vou para casa e você vai comigo. Pare o ônibus! - gritei para o motorista.
Ele pisou no freio. Fui jogada contra o assento à minha frente.
- Você poderia me dizer como chego à Tiradentes? - perguntei assim que cheguei ao final do corredor.
Ele apontou para fora da janela do lado direito do ônibus.
- É a oeste daqui. Você planeja ir a pé? - Ele me examinou dos pés à cabeça. - Pois preciso lhe avisar. É um bairro complicado.
Que ótimo.
Andei apenas alguns quarteirões antes de constatar que o motorista de ônibus fez bem em me avisar. A paisagem mudou drasticamente. As fachadas curiosas deram lugar a prédios com pichações das gangues desenhadas a tinta spray. As vitrines eram escuras, com grades de ferro. As calçadas eram caminhos desoladores que se estendiam através da neblina.
Um som arrastado, atravessou a névoa. Uma mulher empurrando um carrinho repleto de sacos de lixo apareceu à vista. Os olhos estreitaram-se enquanto se aproximavam de
mim numa avaliação quase predatória.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sussurro - Hailee Steinfeld/You
Fanfiction"Os olhos avelãs de Hailee eram como órbitas negras, que absorvia tudo e não devolvia nada... " "Estava difícil convencer a mim mesma de que deveria ignorar algo que já começava a parecer irresistível..." (Essa história é uma adaptação do livro de B...