Capítulo 21

585 85 30
                                    

Lá fora, o clima havia mudado e agora estava frio e chuvoso. Saí correndo do Jonas Joe's, feliz por ter consultado a previsão do tempo mais cedo e carregado o guarda-chuva. Eu estava a alguns quarteirões do ponto de ônibus quando aquela sensação gelada desceu pela minha nuca. Abaixei-me, fingindo amarrar os sapatos e observei à minha volta disfarçadamente. As calçadas dos dois lados da rua estavam vazias.

O sinal de pedestres abriu, e atravessei a rua. Andando mais rápido, coloquei a bolsa debaixo do braço e torci para que o ônibus não atrasasse. Cortei caminho por um beco atrás de um bar, passei por um punhado de fumantes e saí na outra rua.

Andando rápido rua acima, entrei em outro beco e dei a volta no quarteirão. Verificava se estava sendo seguida a cada segundo. Ouvi o ronco do ônibus, e logo em seguida ele virou a esquina, aparecendo no meio da neblina. Diminuiu a velocidade até se aproximar da calçada e eu entrei, rumo à minha casa. Eu era a única passageira. Depois de escolher um assento algumas fileiras atrás do motorista, escorreguei no banco para não ser vista. Ele puxou a alavanca para fechar a porta e o ônibus ganhou a rua.

Eu estava a ponto de soltar um suspiro de alívio quando recebi uma mensagem de texto de Dinah.

" Onde você está?

Woodland, e você?

Eu também, festa com Lauren e Normani. Vamos nos encontrar.

O que você está fazendo em Woodland?"

Não esperei pela resposta. Liguei. Falar era mais rápido. E era urgente.

- Bem? O que me diz? - perguntou Dinah. - Está com disposição de encarar uma festa?

- Sua mãe sabe que você está em uma festa em Woodland?

- Você está começando a parecer neurótica, querida.

- Não posso acreditar que você veio para Woodland com Lauren! - Um pensamento desanimador me passou pela cabeça. - Ela sabe que você está comigo ao telefone?

- Para poder ir até aí matar você? Não, sinto muito. Ela e Normani foram correndo pegar alguma coisa em Carrollton. Estou sozinha, relaxando. Bem que eu precisava de uma acompanhante. Ei! - Dinah gritou ao fundo - Tire as mãos daí? T-i-r-e. S/n? Não estou exatamente no melhor lugar da cidade. O tempo urge.

- Onde você está?

- Peraí... Tudo bem, o prédio do outro lado da rua tem o número um-sete-dois-sete. A rua é Tiradentes, tenho quase certeza.

- Chegarei aí o mais rápido possível. Mas não vou ficar. Vou para casa e você vai comigo. Pare o ônibus! - gritei para o motorista.

Ele pisou no freio. Fui jogada contra o assento à minha frente.

- Você poderia me dizer como chego à Tiradentes? - perguntei assim que cheguei ao final do corredor.

Ele apontou para fora da janela do lado direito do ônibus.

- É a oeste daqui. Você planeja ir a pé? - Ele me examinou dos pés à cabeça. - Pois preciso lhe avisar. É um bairro complicado.

Que ótimo.

Andei apenas alguns quarteirões antes de constatar que o motorista de ônibus fez bem em me avisar. A paisagem mudou drasticamente. As fachadas curiosas deram lugar a prédios com pichações das gangues desenhadas a tinta spray. As vitrines eram escuras, com grades de ferro. As calçadas eram caminhos desoladores que se estendiam através da neblina.

Um som arrastado, atravessou a névoa. Uma mulher empurrando um carrinho repleto de sacos de lixo apareceu à vista. Os olhos estreitaram-se enquanto se aproximavam de
mim numa avaliação quase predatória.

Sussurro - Hailee Steinfeld/YouOnde histórias criam vida. Descubra agora