Capítulo 23

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Eu estava no andar de baixo do Fliperama do Bo com as costas para a parede, observando diversos jogos de sinuca. As janelas haviam sido cobertas com tábuas, e eu não conseguia dizer se era dia ou noite. Ninguém pareceu surpreso com a minha súbita aparição. Então lembrei que não estava vestindo nada além de uma blusa e calcinhas. Não sou tão vaidosa, mas ficar no meio de uma multidão praticamente pelada e não ter ninguém olhando para mim? Alguma coisa estava.... esquisita.

Belisquei a mim mesma e estava perfeitamente viva até onde podia conferir. Abanei a mão para afastar a nuvem de fumaça de charuto e avistei Hailee do outro lado do salão. Ela estava sentada em uma mesa de pôquer, jogada para trás segurando uma série de cartas junto ao peito. Atravessei o salão descalça, com os braços cruzados no peito, tomando cuidado
para me manter coberta.

- Podemos conversar? - sibilei no ouvido dela.

Havia algo estranho na minha voz. O que era compreensível, pois eu não tinha a mínima ideia de como fui parar no Fliperama. Em um momento eu estava no motel, no outro estava ali. Hailee juntou uma pequena pilha de fichas e a colocou sobre a pilha que estava no centro da mesa.

- Que tal agora? - digo - É um tanto urgente...

Calei-me quando meu olhar esbarrou no calendário na parede. Era de oito meses antes. Mostrava agosto do ano anterior. Um pouco antes de eu começar o ano do ensino médio. Meses antes de conhecer Hailee. Disse para mim mesma que aquilo era um erro, que a pessoa encarregada de arrancar as folhas andava atrasada, mas ao mesmo tempo considerei rapidamente, contrariada, a possibilidade de o calendário estar certo. Eu é que não estava.

Arrastei uma cadeira da mesa ao lado e me sentei perto da Hailee.

- Ele está com um cinco de espadas, um nove de espadas, um ás de copas.

Parei ao perceber que ninguém prestava atenção. Não, não era isso. Ninguém estava me vendo. Passos ressoaram nos degraus do outro lado do salão, e o mesmo caixa que ameaçara me jogar na rua na primeira vez em que eu fui ali apareceu no pé da escada.

- Tem alguém lá em cima que quer dar uma palavra com você - falou para Hailee.

Hailee ergueu as sobrancelhas, transmitindo uma pergunta silenciosa.

- Ela não quis dizer o nome - respondeu o caixa, como se desculpasse. - Perguntei algumas vezes. Disse que você estava no meio de um jogo, mas ela não quis ir embora. Posso expulsar, se quiser.

- Não, peça para ela descer.

Hailee terminou de jogar sua mão, juntou as fichas e empurrou a cadeira.

- Estou fora.

Caminhou até a mesa de sinuca mais próxima da escada, na qual se recostou, e deslizou as mãos para dentro dos bolsos. Passos leves ressoaram na escada, ficando mais próximos, e quando a srta. Lovato deixou a escadaria escurecida, experimentei um momento de confusão.

O cabelo estava solto até a cintura e completamente liso. Ela usava jeans justíssimos, uma camiseta cor-de-rosa de alças e estava descalça. Vestida daquele jeito parecia ainda mais da minha idade.

O rosto de Hailee é sempre como uma máscara, e nunca consigo adivinhar no que ela está pensando. Mas assim que colocou os olhos na srta. Lovato, eu sabia que estava surpresa. Recuperou-se rapidamente, as emoções desaparecendo enquanto o olhar tornava-se cauteloso e atento.

- Demi?

Meu coração acelerou. Tentei organizar minhas ideias, mas meu único pensamento era que se realmente eu estava oito meses no passado, como então a srta.Lovato e Hailee se conheciam? Ela não trabalhava na escola ainda. E por que ela a chamava pelo primeiro nome?

Sussurro - Hailee Steinfeld/YouOnde histórias criam vida. Descubra agora