ROGUE - Daemon Targaryen

𝟙𝟠 - ℙ𝕒𝕚𝕟

Não tive pesadelos, mas quando eu senti água entrar pelo meu nariz, acordei assustada. Estava deitada no chão no fim do acampamento, atrás das últimas tendas, havia barro por causa da chuva, e eu estava encharcada. Sentia dores no corpo, e uma baita ressaca que fez com que eu vomitasse algumas vezes enquanto dormia, pude notar pelo estado do meu vestido e do chão.

Me levanto com dificuldade, não me lembrando exatamente do que aconteceu. Meu olho ainda não abria completamente, não sabia em que lugar estava. Vejo uma árvore se aproximando de mim e me apoio ali, finalmente relaxando. Escoro minha cabeça na madeira e olho para o sol que brilha em cima de mim.

Um dragão sobrevoa, não sei dizer qual é, mas não é Mercury. Oh, minha dragão, eu preciso de você.

Começo a caminhar lentamente pelas árvores, arrastando meus pés que doem muito, tentando não pensar em nada além das escamas azuis que vão me esquentar daqui à pouco. Mas então eu tropeço, em algum galho ou coisa parecida, e eu desisto. Como eu vou conseguir lutar contra isso? A dor, eu digo. Não consigo suportar.

Fico de barriga para cima enquanto observo o céu vazio através de algumas folhas. Escuto barulho no acampamento: homens falando, cavalos relinchando, carroças passando. Mas havia algo se aproximando. Porém, não encontrei forças para ficar em pé e ver quem era.

- Princesa?

Eu reconheceria a voz de Ben em qualquer circunstância, fecho meus olhos e agradeço por ser alguém gentil. Ele me ajuda a me levantar, pergunta se eu estava bem, e eu nego.

- Me leve à minha dragão, Ben.

- Mas você está machucada, devo chamar um meistre... - Ele segura a minha mão para me ajudar no equilíbrio.

- À minha dragão, Ben.

Ele acena positivo e me ajuda a subir em um cavalo. Por alguns metros, ele puxa o marrom, mas meu corpo começa a cair. Ben então, sobe no animal e me segura enquanto guia para longe do acampamento. Seus braços me guardam firmemente e eu me permito de fato respirar aliviada. Aliviada por aquela noite ter acabado.

Não precisei abrir meus olhos para saber que estava perto de Mercury. Minha dragão estava andando de um lado para o outro, rosnando para o vento que tocava as árvores. Ela estava nervosa, assim como eu. Desço sozinha do cavalo e vou ao seu encontro, me apoiando em seu peito com um longo abraço. Suas asas me cobrem, me protegem e me consolam.

Mesmo ali, segura e cansada, eu digo no tom mais alto que consigo.

- Me deixe sozinha, Ben!

- Mas...

- Você disse que eu poderia confiar em você. - Eu começo a chorar, mas limpo a garganta para que ele não perceba. - Vá.

Escuto o cavalo se distanciando rapidamente, e enxugo meu nariz. Quando volto a colocar a palma da minha mão nas escamas azuis, eu vejo que a mesma estava sangrando. O vermelho jorra entre o azul, se derramando em duas vertentes. Duas.

Me lembro da garota no dragão, e consigo enxergar dois rostos ali, no meio do sangue e da dragão. Meu estômago dói, e Mercury grunhe.

Começo a subir nela, colocando minha mão no abdômen, falhando em tentar parar a dor que sinto. Mercury levanta voo entendendo que quero sair dali o quanto antes.

Subimos, e subimos. A Azul se inclina totalmente e subimos para além das nuvens. Pego um pouco de chuva, mas logo para. Subimos ainda mais, eu mal consigo respirar. Choro, grito, me agonizo. Nada adianta. Nada me faz melhorar. Olho para as meu vestido, todo rasgado e sujo; minhas pernas vermelhas e com arranhados; vejo um sinal de mordida em meu antebraço esquerdo. Minhas mãos vermelhas de sangue.