CAPÍTULO 2

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- Jessie -

Droga!

Meus pensamentos correm a mil pensando na enrascada que nos metemos por conta dessa mentirinha.

Nós caminhamos pelo corredor da escola. Os alunos estão se preparando para o início das aulas, então a maioria das pessoas não nos nota, mas algumas meninas viram o rosto para nos encarar – encarar Mike, melhor dizendo – e coram quando recebem um olhar furtivo nosso. Alguns caras nos cumprimentam e algumas pessoas só sussurram Gatões, um nome significativo que foi designado para o nosso grupinho.

Somos os Gatões e as meninas as Gatinhas, porém, diferente delas que usam realmente o termo, nós só o ignoramos.

Mike fica maluco quando ouve o apelido, mas agora ele está mais concentrado em Tom e na burrada que ele fez, não ligando para um apelido ridículo – palavras dele, não minhas. Eu, Tom e Doody somos bem indiferentes em relação aos Gatões, Doody, na verdade, gosta do termo, pois ele aumenta o seu ego.

- Obrigado Tom, agora nós temos que participar da organização do baile – Mike dá um tapa na cabeça do Tom.

- Ei... – Ele resmunga, passando a mão na nuca – Se tem um culpado aqui não sou eu, olhem para o lado e descontem no Jessie.

- E na sua pêssego! – Doody completa, debochando.

Mike se vira para mim, pronto para acertar um de seus tapas em minha cabeça. Esquivo-me, fazendo-o acertar o ar.

- Sem violência! O culpado aqui não fui eu não, foi o Mike! Ele que nós chamou para madrugar na escola – Aponto. Meu amigo bufa em indignação.

Seus olhos são severos e parecem prontos para esganar alguém quando ele me responde.

- Por sua causa, idiota!

- Mas eu não pedi ajuda.... – Os três param de andar e olham para mim, como quem perguntasse "Sério?!". Engulo em seco – Não pedi... – Afirmo.

- Se os seus olhos pidões não são um pedido de ajuda eu não sei o que é então, meu amigo – Mike afirma – E outra, sem nossa ajuda você acabaria estragando tudo!

- Não estragaria não, na verdade, se eu estivesse resolvendo isso sozinho, tudo já estaria nos eixos e encaminhado.

Mike arregala os olhos em uma clara expressão de que não acredita no que eu falo.

- Mas ela poderia não aceitar, porque, sabe...as meninas esperam algo grandioso e não um pedido fajuta de "quer ir ao baile comigo?" – Ele completa, confirmando os meus pensamentos.

Suspiro.

Certo, deixa eu começar do começo, porque nunca vi ninguém entender algo lendo de trás para frente. Eu quero chamar a Anne para o baile...na verdade, eu venho querendo chamar a Anne para o baile desde que entramos no escola secundária. Eu também queria chamar ela para o Cinema Drive-in, para tomar um sorvete, só nós dois...mas vamos por partes, o foco agora é o baile.

Eu venho querendo chamar Anne para esses bailes do colégio a muito tempo, porém a oportunidade nunca surge...

Oportunidade a sua cara! Você que não cria coragem.

Está bem...talvez Mike tenha um pouquinho de razão...eu tenho medo de chamar a Anne para o baile, mas quem poderia me julgar? Minha melhor amiga é uma gata, não que eu também não seja bonito – que foi? Não te contei que a autoestima alta é uma das minhas qualidades? -, mas Anne não é só bonita, ela é esperta, carismática, inteligente, bondosa, gentil...

Blábláblá...

Mas que droga, dá para vocês pararem de atrapalhar a minha narração?!

Certo, voltando...Anne tem muitas qualidades, além disso, nós somos melhores amigos...ela é a minha pêssego, a minha pessoa favorita no mundo. E se ela não quiser algo a mais? E se ela só quiser ser minha amiga? Eu posso aguentar um coração partido, mas nunca aguentaria ficar longe da Anne. Por isso nunca arrisquei. Porém, e se Anne sentir a mesma coisa por mim? E se eu estiver com medo em vão?

É pensando por esse lado mais otimista que decidi chamar a minha melhor amiga para o baile. Todavia, eu fiz a besteira de contar para os meus amigos, o que resultou em uma reunião secreta – essa mesma que nos fez madrugar no colégio -, ideias mirabolantes e....nada. Nós não chegamos a nenhuma conclusão!

Sabe, por mim eu só chamaria Anne, ela não é uma menina que espera um gesto romântico....

Você acha que ela não espera um gesto romântico.

Quieto!

Anne gosta das coisas simples, coisas que tenham um significado. Ela não espera coisas grandes, estonteantes...ela vai gostar de algo que seja o nosso estilo. Pensando nisso, eu preparei algo especial para pedir para ela ir ao baile comigo, na minha opinião ela iria adorar. Mexo em meu bolso, sentindo o peso do objeto que carrego comigo para todos os lugares. Eu só preciso de uma chance e do lugar ideal....

Entretanto, de acordo com os meus amigos, eu preciso realizar algo grandioso, algo que fique marcado na vida da Anne. Mas que droga de algo grandioso eu vou fazer?

Fazer um show de fogos de artificio com os dizeres "quer ir ao baile comigo?"

Fazer uma serenata, se declarando na frente de todo o colégio...

Desenhar uma caricatura dela na parede da casa dela com o pedido para o baile...

Vocês já sabem de quem foi a última ideia, né? Sim, do Doody. E não, eu não vou fazer isso!

- Mas cara, ela ia se amarrar nisso – Ele se justifica.

- Doody, isso é ilegal! – Tom afirma.

- Isso é romântico! – Tom olha horrorizado para Doody, para, em seguida, buscar apoio em Mike. O bad boy só dá de ombros. Tom balança a cabeça – Eu tenho pena da futura namorada de vocês.

- Tom-Tom – Doody segura os seus ombros – Não seja tão certinho, o plano vai dar certo. Jessie vai chamar a Anne para o baile, ela vai aceitar e eles vão viver felizes para sempre.

- Isso se ele não for preso... – Balanço a cabeça, concordando. Mike bate palmas.

- Jes não será preso, nós vamos ajudar ele, tudo vai dar certo e, no fim, ele estará aos beijos com a Anne no baile – Doody estala os dedos.

- É assim que eu gosto, cara. Otimismo é o caminho certo – Ele sorri.

- Bem, então eu acho que preciso ser muito otimista para o senhor Paul não me mandar para direção, senão ferrou. Não vai ter baile, não vai ter beijos e nem um final feliz se eu pegar suspensão – Suspiro, vendo que passei dois minutos do horário da aula.

- Viu, otimismo não dá certo... – Tom murmura, olhando para o relógio e sabendo que vou pegar uma suspensão.

Adeus baile. Adeus planos. Adeus beijos. Adeus Anne. Adeus felizes para sempre.

- Isso é fácil de resolver – Doody diz, nós balançamos a cabeça em discordância

Isso não é fácil de resolver, a não ser que um furacão comece e os alunos sejam dispensados

Escuto um barulho alto.

OH, NÃO!

Doody saiu correndo, derrapando no piso brilhante e limpo da escola. O barulho dos seus tênis freando no piso machucou os meus tímpanos.

- Doody, não... – Mike tenta, mas já é tarde demais, porque Doody já quebrou a proteção para acionar o alarme de incêndio.

Todos os alunos, os quais entraram a menos de cinco minutos nas salas, saem correndo, como se o prédio estivesse em chamas...bem, teoricamente eles acham que está. Doody faz um joinha para mim. Olho para os meus outros dois amigos. Eles estão estáticos no lugar, olhando para todo o alvoroço com espanto.

- Qual a chance dele ser pego, Tom? –  Pergunto.

- Considerando que essa é a terceira vez que ele faz isso nessa semana e ainda não foi pego...bem, nenhuma – Nós balançamos a cabeça.

Ah, o furacão é o Doody.

E o lado bom...eu vouao baile.

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