Capítulo 17

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Giana

Encaro as paredes do quarto que decidi esvaziá-lo para pintá-lo e transformá-lo em um estúdio com os meus desenhos e mordo meu lábio, pensando por onde começar, aproveitando que estou com a minha dose de serotonina diária.

Graças aos dons de desenhar de papai, todos eles passaram para mim. Mas apesar de não gostar muito de desenhar como ele gosta, eu sempre fui interessada  em aprender – exceto quando se trata de exercícios – e isso foi o que mais me ajudou a saber desenhar perfeitamente bem. Não como papai, mas já me quebra um galho bom.

A pintura do quarto está boa, em tons de cinza e creme com detalhes pretos delicados. Porém, eu preciso de um lugar mais confortável se preciso desenhar, por isso comprei cores azuis, claro e escuro, e verde neutro. Com a ideia de transformar esse lugar em algo mais vivo e mais aconchegante, há esboços de desenhos de flores e entre outros para fazer em uma só parede, que escolhi a do fundo.

Corro até meu quarto vestindo uma legging preta e um suéter mais surrado que tenho, da cor azul clara e escolho por ficar descalça, já que estou em casa e provavelmente o trabalho será puxado. Meu cabelo está preso em um rabo de cavalo rebelde, onde apenas alguns fios estão soltos e caem pelos lados, mas não vou bater cabeça com eles agora, quero gastar minhas energias somente no quarto.

Ligo o som deixando que a Lana Del Rey cante por todos os cantos do cômodo e cantarolo Norman Fucking Rockwell, junto dela. Falem o que quiser, mas sou viciada nessa mulher assim como Hendrick é também, uma vez o escutei ouvindo suas músicas e me apaixonei pela melodia. Parece mórbida e sempre triste na primeira avaliação, mas em seguida, se você estiver disposto a se atentar melhor, percebe-se que se trata de sentimentos expostos em cada canção e, sinceramente, eu amo.

Começo a retirar os móveis de dentro do cômodo, passando para o outro quarto ao lado que estava vazio. Este era o de hóspedes, e eu o achei o segundo maior da casa depois do meu. Para minha sorte, a cama que havia nele não era muito grande, mas tinha como ser desmontada. Como eu faria isso? veremos depois.

Uma gota de suor respinga da minha testa até no chão, estou ofegante e é apenas o quarto móvel que estou retirando, um baú. Ele é delicado e estou pensando seriamente em trazê-lo de volta para cá depois, para guardar minhas tintas e pincéis. É feito a madeira escura e estilo tempos medievais, o que o deixou ainda mais atrativo.

Eu o arrasto pelo que se parece um centímetro a mais e caio de bunda no chão, sem forças em meus braços para continuar com meu serviço. Está certo, eu sei que sou uma sedentária, mas esse troço mesmo vazio é pesado pra caramba.

Arregaço minhas mangas do suéter e limpo o suor em minha testa, bebendo uma garrafa inteira de água em desespero. Meus olhos encaram o baú uma última vez antes de arrastá-lo novamente até o outro quarto, e dessa vez, sem pausas.

— Preciso praticar exercícios – murmuro ofegante, abanando-me com minha própria mão.

São cinco horas da tarde do domingo quando termino de passar todos os móveis para o quarto vazio. E agora estou jogada no chão com dores por toda a parte do meu corpo, suando como uma porca e sem contar que também estou fedendo. Tomo um banho rápido antes de voltar para os meus afazeres, vestindo outra legging e outro suéter dos velhos e suspiro, cansada.

A campainha lá embaixo toca e aperto as sobrancelhas, confusa. Tentando buscar em minha mente se por acaso as meninas avisaram ontem enquanto bebíamos que iriam ver a minha casa nova. Mas receio que não, todas nós estamos em fases diferentes e crescendo na vida, por isso nossos encontros estão diminuindo aos poucos – mas não significa que não sentimos falta uma da outra e não conversamos pelo aplicativo de mensagens todos os dias do acordar até o adormecer.

HERDEIROS #4 - Esse cavalheiro é MEU Onde histórias criam vida. Descubra agora