Capítulo 9

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 Naquela tarde, volto para o dormitório, enquanto todos estão com suas famílias, e encontro Jacob sentado em sua cama, encarando o espaço na parede onde o quadro-negro costuma ficar. Lauren retirou o quadro ontem para calcular nossas colocações no primeiro estágio.

– Aí está você! – Digo. – Seus pais estavam te procurando. Eles te encontraram?

 Ele balança a cabeça.

 Sento a seu lado na cama. Minha perna tem praticamente metade da grossura da dele. Está usando bermudas pretas. Em seu joelho, há um machucado roxo e uma cicatriz.

– Você não quis vê-los?

– Não queria que eles me perguntassem como estou indo. – Diz ele. – Eu teria que dizer, e eles saberiam se estivesse mentindo.

– Bem... – Esforço-me para encontrar algo para dizer. – E qual é o problema em como você está indo?

 Jacob solta uma risada forçada.

– Perdi todas as lutas desde minha vitória contra o Max. Não estou indo nada bem.

– Mas foi uma escolha sua. Você não poderia dizer isso a eles?

 Ele sacode a cabeça.

– Meu pai sempre quis que eu viesse para cá. Quer dizer, eles diziam que queriam que eu ficasse na Franqueza, mas só porque era isso o que eles deveriam dizer. Eles sempre admiraram a Audácia, tanto meu pai quanto minha mãe. Eles não entenderiam se eu tentasse explicar.

– Ah. – Bato com os dedos em meu joelho. Depois olho para ele. – É por isso que você escolheu a Audácia? Por causa dos seus pais?

 Jacob balança a cabeça.

– Não. Acho que foi porque... acredito que seja importante proteger as pessoas. Defendê-las. Como você fez comigo. – Ele sorri para mim. – É isso o que a Audácia deveria fazer, não é? Isso sim é coragem. Não... machucar os outros sem motivo.

 Lembro-me do que Lauren me disse, que o trabalho em equipe costumava ser uma prioridade na Audácia. Como será que era a Audácia naquela época? O que eu teria aprendido se estivesse aqui quando minha mãe ainda pertencia à facção? Talvez eu não tivesse quebrado o nariz da Molly. Ou ameaçado a irmã do Max.

 Sinto uma pontada de culpa.

– Talvez as coisas melhorem quando a iniciação terminar. – Digo.

– Pena que eu talvez fique em último lugar. – Afirma Jacob. – Acho que vamos descobrir hoje à noite, não é?

 Permanecemos sentados em silêncio, um ao lado do outro, por alguns instantes. É melhor estar aqui, em silêncio, do que no Fosso, assistindo a todo mundo se divertir com suas famílias.

 Meu pai costumava dizer que, às vezes, a melhor maneira de ajudar alguém é simplesmente ficando a seu lado. Sinto-me bem quando faço algo que eu sei que lhe daria orgulho, como se isso compensasse todas as coisas que fiz das quais ele não se orgulharia.

– Sabia que me sinto mais corajoso quando estou a seu lado? – Pergunta Jacob. – Como se eu pudesse realmente pertencer a este lugar, da mesma forma que você pertence.

 Estou prestes a responder, quando ele estica o braço e o coloca sobre meus ombros. De repente, fico paralisada, com as bochechas ardendo.

 Não queria que minhas suspeitas a respeito dos sentimentos que Jacob nutre por mim estivessem certas. Mas parece que estão.

 Não me apoio nele. Apenas endireito o corpo, fazendo com que seu braço caia dos meus ombros. Então, aperto as mãos uma contra a outra sobre meu colo.

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