Capítulo 28

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 Sangue tem uma cor estranha. É mais escuro do que imaginamos.

Olho para a mão de Marlene, que está agarrada ao meu braço. As unhas dela são curtas. E roídas. Ela me empurra para a frente, e eu devo estar andando, porque consigo sentir meu corpo se movendo, mas, dentro da minha cabeça, continuo diante de Drew, e ele ainda está vivo.

Ele morreu da mesma maneira que Max. Com o corpo caído para a frente, igual ao do Max.

Pensei que a sensação de inchaço na minha garganta passaria depois que ele morresse, mas isso não aconteceu. Preciso respirar fundo para conseguir ar suficiente. Ainda bem que a multidão ao meu redor é tão barulhenta que ninguém consegue me ouvir. Marchamos em direção à porta. A multidão é liderada por Harrison, que carrega Normani nas costas como se ela fosse uma criança. Ela ri, com os braços em volta do pescoço dele.

Lauren apoia a mão nas minhas costas. Sei disso porque vejo-a chegando atrás de mim, e não porque realmente sinto sua mão. Não sinto absolutamente nada.

As portas são abertas de fora para dentro, e quase atropelamos Jack Kang e o grupo de membros da Franqueza que o seguiu até aqui.

– O que vocês fizeram? Acabo de ser informado de que Drew não está em sua cela.

– Ele estava sob a nossa jurisdição. – Diz Normani. – Nós o julgamos e o executamos. Você deveria nos agradecer.

– Por que... – O rosto de Jack Kang fica vermelho. Sangue é mais vermelho que um rosto ruborizado, mesmo que um consista do outro. – Por que eu deveria agradecer a vocês?

– Porque você também queria que ele fosse executado, não queria? Já que ele matou uma de suas crianças? – Normani inclina a cabeça, seus olhos grandes e inocentes. – Bem, resolvemos isso para você. E agora, se nos der licença, estamos indo embora.

– O que... indo embora? – Balbucia Jack.

Se partirmos, ele será incapaz de atender a duas das três exigências que Gavin apresentou. Isso o aterroriza, e seu rosto mostra isso com clareza.

– Não posso deixar que vocês façam isso.

– Você não precisa nos deixar fazer nada. – Retruca Lauren. – Se não sair do caminho, seremos obrigados a passar por cima de você.

– Vocês não vieram aqui atrás de aliados? – Pergunta Jack, irritado. – Se fizerem isso, juro que nos aliaremos à Erudição, e vocês nunca mais nos terão como aliados, seus...

– Não precisamos de vocês como aliados. – Diz Normani. – Somos da Audácia.

Todos gritam, e, de alguma maneira, os gritos cortam o atordoamento em minha mente. A multidão inteira segue adiante ao mesmo tempo. Os membros da Franqueza gritam e pulam para fora do caminho, enquanto enchemos o corredor, como se um cano se rompesse e a água da Audácia se espalhasse para encher o espaço vazio.

Marlene solta meu braço. Desço a escada correndo, seguindo os membros da Audácia que estão à minha frente e ignorando a confusão de cotovelos e os gritos ao meu redor. Sinto-me como uma inicianda novamente, correndo pelas escadas do Eixo depois da Cerimônia de Escolha. Minhas pernas ardem, mas não tem problema.

Alcançamos o saguão. Um grupo de membros da Franqueza e da Erudição nos espera lá, incluindo a mulher loira e Divergente que foi arrastada pelos cabelos até os elevadores, a menina que ajudei a escapar e Cara. Eles veem os membros da Audácia passarem correndo com olhares de impotência.

Cara me vê e agarra meu braço, puxando-me para trás.

– Para onde vocês estão indo?

– Para a sede da Audácia. – Respondo. Tento soltar o braço, mas ela não quer largar. Não olho para o seu rosto. Não consigo olhar para ela agora. – Fujam para a sede da Amizade. Eles prometeram abrigo para qualquer pessoa que quiser. Vocês não estarão seguros aqui.

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