Capítulo 21

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 Naquela manhã, acordo ao som de um secador elétrico. Lauren está diante do espelho, com a cabeça inclinada para conseguir secar o cabelo.

Abraço os meus joelhos cobertos pelo lençol e a assisto.

– Bom dia. – Diz ela. – Dormiu bem?

– Dormi. – Eu me levanto e, enquanto ela inclina a cabeça para frente, para alcançar os fios de cabelo impossíveis com o secador, abraço-a, encostando a testa nas suas costas, onde a tatuagem da Audácia surge sob a camiseta.

Ela coloca o secador na pia e segura as minhas mãos. Nenhuma de nós rompe o silêncio. Escuto a sua respiração, e ela acaricia os meus dedos lentamente, esquecendo-se do que estava fazendo.

– É melhor eu ir me arrumar. – Digo, depois de alguns segundos.

Não tenho vontade de ir embora, mas preciso trabalhar na lavanderia e não quero que os membros da Amizade pensem que não estou cumprindo a minha parte do acordo que nos ofereceram.

– Vou arrumar alguma coisa para você vestir. – Fala ela.

Caminho descalça pelo corredor alguns minutos depois, vestindo a camiseta com a qual dormi e um short que Lauren pegou emprestado da Amizade. Quando entro no meu quarto, James está em pé ao lado da minha cama.

Instintivamente, ajeito o corpo e procuro algum objeto no quarto que possa usar como arma.

– Saia daqui. – Digo com o máximo de confiança que consigo. Mas é difícil evitar que minha voz trema. Não consigo deixar de lembrar do seu olhar quando ele me pendurou pela garganta sobre o abismo, ou quando me empurrou contra a parede no complexo da Audácia.

Ele se vira para me encarar. Ultimamente, quando ele olha para mim, não vejo a malícia de antes, mas apenas exaustão. Sua postura parece a de uma pessoa vencida e seu braço está apoiado em uma tipoia. Mas ele não me engana.

– O que está fazendo no meu quarto?

Ele se aproxima de mim.

– Por que você está seguindo o Michael? Vi o que você fez ontem, depois do café da manhã.

Eu o encaro de volta.

– Não é da sua conta. Vá embora.

– Estou aqui porque não entendo por que você foi escolhida para cuidar do disco rígido. – Continua ele. – Não é como se você fosse uma pessoa muito estável.

– Eu sou instável? – Solto uma risada. – Acho isso um pouco engraçado, vindo de você.

James comprime os lábios e fica calado.

– Por que você está tão interessado no disco rígido? – Pergunto com desconfiança.

– Não sou idiota. – Responde ele. – Sei que contém muito mais do que os dados da simulação.

– Não, você realmente não é idiota, não é mesmo? Você acha que, se entregar o disco rígido para a Erudição, talvez eles desculpem a sua indiscrição e o aceitem de volta.

– Não quero que eles me aceitem de volta. – Ele se aproxima ainda mais. – Se quisesse, não teria ajudado vocês no complexo da Audácia.

Finco a ponta do dedo indicador no peito dele, cravando a unha na sua pele.

– Você me ajudou porque não queria que eu atirasse em você outra vez.

– Posso não ser um traidor de facção e amante da Abnegação... – Ele agarra o meu dedo. – Mas ninguém me controla. Muito menos a Erudição.

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