Parte 2 - Capítulo 19

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 Acordo com o nome dele na boca.

Max.

Antes de abrir os olhos, vejo-o desabar sobre o asfalto novamente. Morto.

Pelas minhas mãos.

Lauren se agacha na minha frente, apoiando a mão sobre meu ombro esquerdo. O vagão do trem chacoalha sobre os trilhos, e Michael, James e Ally estão de pé ao lado da porta. Respiro fundo e prendo o ar, tentando aliviar parte da pressão acumulada em meu peito.

Uma hora atrás, nada do que aconteceu me parecia real. Mas agora parece.

Solto a respiração, mas a pressão continua.

– Camila, vamos. – Diz Lauren, encarando os meus olhos. – Precisamos pular.

Está escuro demais para ver onde estamos, mas, se vamos saltar do trem, devemos estar perto da cerca. Lauren me ajuda a levantar e me guia em direção à porta.

Os outros saltam, um de cada vez: primeiro James, depois Michael e, em seguida, Ally. Seguro a mão de Lauren. O vento aumenta quando nos aproximamos da beirada da porta do vagão, como uma mão empurrando-me para trás, para a segurança.

Mesmo assim, nos lançamos em direção à escuridão e aterrissamos com força. O impacto faz meu ombro ferido doer. Mordo o lábio para evitar gritar e procuro minha irmã.

– Você está bem? – Pergunto, ao encontrá-la sentada na grama a alguns metros de mim, esfregando o joelho.

Ela assente. Ouço-a fungar, como se estivesse tentando conter as lágrimas, e sou obrigada a desviar os olhos para não vê-la chorar.

Aterrissamos na grama perto da cerca, a vários metros da estrada gasta pela qual viajam os caminhões da Amizade quando trazem comida para a cidade, e longe do portão que permite que eles saiam. O portão está trancado, prendendo-nos do lado de dentro. A cerca gigante barra nosso caminho, alta e flexível demais para ser escalada, e firme demais para ser derrubada.

– Deveria haver guardas da Audácia aqui. – Diz Michael. – Onde eles estão?

– Provavelmente estavam sob o efeito da simulação. – Diz Lauren. – E agora estão... – Ela se cala por um instante. – Sabe-se lá onde, fazendo sabe-se lá o quê.

Interrompemos a simulação. O peso do disco rígido no meu bolso de trás não me deixa esquecer. Mas não esperamos para ver o que se passou depois. O que será que aconteceu com nossos amigos, nossos companheiros, nossos líderes, nossas facções? Não há como saber.

Lauren se aproxima de uma pequena caixa de metal do lado direito do portão e a abre, revelando um teclado.

– Espero que a Erudição não tenha pensado em trocar a senha. – Diz ela enquanto digita uma série de números. Ela para no oitavo número e a tranca do portão abre.

– Como você sabia a senha? – Pergunta Ally.

Sua voz está carregada de emoção, tanta emoção que fico surpresa por ela não se engasgar.

– Trabalhei na sala de controle da Audácia, monitorando o sistema de segurança. Só modificamos as senhas duas vezes por ano. – Diz Lauren.

– Sorte a nossa. – Diz Ally.

Ela encara Lauren de maneira cautelosa.

– Não tem nada a ver com sorte. – Diz Lauren. – Eu só trabalhava lá porque queria ter certeza de que conseguiria fugir um dia.

Sinto um calafrio. Ela fala em fugir como se acreditasse que nós estamos presos. Eu nunca havia pensado dessa maneira, o que agora parece uma tolice.

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