Capítulo 11

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POV GABRIELA

Assim que a placa da Escola Castro de Dança Escocesa aparece na rua, viro a cabeça e olho para Sheilla, onde estamos sentadas no banco de trás de um Uber. Ela dá de ombros e abre as mãos em um gesto de “você verá” antes de colocá-las de volta no tecido cinza do assento. Seus dedos pousam a apenas alguns centímetros dos meus, e eu luto contra o desejo de pegar sua mão e entrelaçar nossos dedos.

É o mesmo desejo que me fez soltar verdades que eu deveria guardar para mim, o mesmo que me fez beijá-la naquele corredor, o mesmo que continua me atraindo para ela de novo e de novo quando tudo o que ela representa deveria ser um grande aviso vermelho, um sinal ameaçador o suficiente para me manter longe. Esse sinal deveria ter sido suficiente para me impedir de vir nesse encontro em primeiro lugar. Eu não vou em encontros. Não tenho distrações ou complicações. Toda a minha vida está em um estado constante de desequilíbrio inconstante, e um sopro de vento imprevisível pode me mandar para o buraco profundo e escuro com o qual sonho cair na maioria das noites.

A última vez que namorei foi no final do ensino médio, e durou apenas alguns meses antes de nós duas percebermos que eu não tinha tempo ou mesmo vontade de fazer isso funcionar. Ainda doeu quando ela me deixou. Eu sabia que iria acontecer. Eu estava prestes a fazer isso eu mesma, mas a dor ainda me cravava como uma faca pressionando velhas cicatrizes. Ela estava indo embora, assim como meu pai, assim como o pai de Fernando, assim como o próprio Fernando quando ele começou a aparecer cada vez menos.

Essa dor foi apenas mais um motivo para ficar longe de relacionamentos durante toda a universidade. De alguma forma, estou aqui de qualquer maneira. Estou neste carro, minha mão a poucos centímetros da de Sheilla. Quando olho para seu perfil recortado pelo brilho dos postes de luz que passamos, não vejo uma velha rival ou mesmo uma nova ameaça à única coisa que pode me manter na escola no próximo ano. Eu só vejo uma garota que eu quero mais – mais de suas palavras, mais de sua risada, mais de sua boca na minha e seu corpo pressionado contra mim.

Eu tremo mesmo com o calor forte e eu estou encolhida no meu casaco. Sheilla percebe e abre a boca para dizer algo assim que o motorista estaciona em um lugar vazio no meio-fio e pergunta se estamos perto o suficiente.

–Aqui está ótimo – responde Sheilla. – Obrigada pela corrida.

Descemos do carro e escalamos a mini cordilheira de neve empurrada contra o meio-fio pela última rodada de arados. O estúdio fica a poucos metros da calçada. Sheilla procura em sua bolsa por suas chaves enquanto eu observo o prédio de tijolos.

– Eu nunca estive aqui – murmuro. Reconheço o logotipo com tema de tartã da Escola Castro com um pequeno par de ghillies ilustrados. A loja de bicicletas com a qual eles dividem o prédio parece ocupar o lado voltado para a rua do primeiro andar, com grandes janelas de vidro que dão para um interior escuro cheio de racks de bicicletas. A Escola Castro tem sua própria entrada ao lado, bem perto de um estacionamento estreito, e Sheilla olha para mim enquanto nos conduz.

– Acho que também nunca estive na escola Stewie.

– Stewie? – Repito enquanto ela encaixa a chave na fechadura.

– Ah, ops, sim. – Ela fica de costas para mim, e eu ouço a nota de constrangimento em sua voz.

– É assim que eu chamo qualquer um que vai para a Academia Rebecca Stewart.

Eu tenho que rir disso.

– Você nos chama de Stewies?

– Ei, agradeça por não ter inventado algo insultante.

Ela abre a porta de vidro e nós dois entramos em uma entrada escura com tapetes manchados de sal no chão.

– Quero dizer, eu não diria que Stewie é particularmente lisonjeiro.

The Devil Wears Tartan - Sheibi (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora