Pocadel 3 - Impacto Repentino

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Pelos dias que se seguiram, Driiz viveu entre as amazonas. Ela comeu as frutas exóticas que elas cultivavam e a carne dos animais gigantes que elas caçavam. A garota observou elas se prepararem para a guerra: amolando espadas, lanças e fabricando flechas, treinando umas contra as outras. Ela entendeu que as tatuagens eram naturais da raça das amazonas e lhes davam poderes mágicos conforme o espírito de cada uma. Conheceu mais sobre a sociedade delas: algumas das amazonas dedicavam-se a agricultura e a criação de gado, enquanto outras eram hábeis caçadoras. Apesar das funções, quase todas da tribo eram treinadas para saberem se defender. A Lua Vermelha tinha o papel de líder entre todas as tribos, pois seu território era situado na gigantesca Árvore da Vida, que mantinha a floresta inteira de Pocadel viva.

Após o terceiro dia vivendo ali, ela decidiu que participaria ativamente do roteiro de seu sonho e avisou a Rontholene que lutaria ao lado das amazonas na guerra. Bryme então guiou Driiz até Ceres, que se encontrava sozinha em um cantinho remoto da vila, produzindo suas próprias flechas em silêncio e reparando seu arco.

Bryme: Ceres, pode ensina-la a atirar? Eu e as outras estamos ocupadas com o resto dos preparativos para a guerra.

Ceres: Sim, acho que posso... - Ela se levantou, lembrando Driiz de como até a menor amazona era maior que ela.

A jovem gigante entregou a ela um arco adequado para seu tamanho e uma aljava com dezenas de flechas. Ela guiou Driiz até o interior da floresta, onde as duas se esconderam em um amontoado de arbustos.

Driiz: O que vamos fazer aqui?

Ceres: Aguardar. Aqui, isso vai disfarçar seu cheiro. - Ela entregou a Driiz uma jarra cheia de lama.

Driiz: Eca... Então viemos caçar? - Ela começou a se banhar na lama com certo nojo.

Ceres: Sim, o melhor jeito de aprender é na prática. - Ela sussurrava para a pequenina - Na minha tribo, ocasionalmente as crianças só podiam se alimentar do que caçavam.

Driiz: Parece ser um modo duro de se criar pessoas.

Ceres: Vivemos com o que a floresta nos dá, mas precisamos aprender a colher seus frutos.

As duas aguardaram em silêncio por mais de uma hora, porém nenhum animal apareceu. De repente, vários javalis selvagens passaram correndo e Driiz armou uma flecha, mas Ceres sinalizou para que ela abaixasse o arco. Algo não estava certo.

Elas começaram a ouvir o som de cavalos galopando, não de dois ou três, mas dezenas. Cerca de noventa homens avançavam rapidamente em suas montarias, portando mosquetes e vestindo casacas vermelhas por cima de suas armaduras que lembravam Driiz do uniforme de guerra britânico. O batalhão passou ao redor dos arbustos sem notar a presença das duas, ambas suavam frio e sentiam o coração bater a mil.

Ceres: Temos que avisar as outras. - Ela se levantou.

Driiz: Mas como vamos chegar lá antes deles?

Ceres: Não vamos, isso vai. - Ela apontou o arco para cima e atirou uma flecha que voou em direção ao céu.

Na tribo, a flecha acertou o centro do círculo de amazonas que amolavam suas lâminas, as deixando em alerta. Uma delas correu e soou a trompeta de invasão. Bryme analisou a direção da qual a flecha tinha vindo e organizou uma linha de defesa, que antes de ser completamente organizada, já escutava o som dos cavalos. Enquanto isso, Driiz e Ceres corriam o mais rápido possível de volta para a tribo, até que avistaram um javali bebendo água em uma poça próxima

Ceres: Ei, acho que consegui nossa carona.

Driiz: Você já montou uma coisa dessas?

Ceres: Não, mas para tudo há uma primeira vez, não é? - Ela sorriu e saltou para cima do animal. - Você não vem?

Driiz agarrou a mão de Ceres e subiu no javali, que, revoltado, tentou derruba-las, porém a amazona o dominou com facilidade e segurando-o pelas orelhas o guiou até a tribo. Quando as duas aproximaram-se, viram a vermelhidão das chamas tomando conta de toda a clareira. Escutavam sons de tiros e gritos de vozes femininas. A tribo da Lua Vermelha foi atacada sozinha, sem o reforço de suas aliadas para a defesa. O batalhão que invadia a vila era liderado pelo jovem general Buck Yester, que tinha apenas dezenove anos, mas por ser filho do duque de Yestershire, foi encarregado de liderar a colonização de Pocadel.

Os homens se infiltraram ao quebrar facilmente a barreira criada pelas amazonas: um tiro era o suficiente para derrubar uma delas. Eles atearam fogo em todas as casas e incendiaram a Árvore da Vida. O fogo se espalhou rapidamente pelas raízes da gigantesca planta e atingiu seu caule. Ao chegarem mais perto, Ceres e Driiz avistaram Rontholene derrubando vários homens de seus cavalos com sua lança, mas sendo acertada por um tiro nas costas. Logo, três dos soldados começaram a cavalgar na direção do javali.

Ceres: Pega meu arco e atira, vou tentar despista-los.

Driiz: Mas você nunca me ensinou a atirar!

Ceres: Eu não te disse que o melhor jeito de aprender é fazendo? - Ela deu um tapa no javali, que saiu correndo.

Driiz mal sabia pegar num arco, ainda mais atirar enquanto montada em um javali em movimento, mas a situação pedia que ela improvisasse. A garota gastou as três primeiras flechas soltando a corda do arco sem querer e depois gastou mais duas errando. Sua sexta flecha acertou a perna de um dos cavalos, o derrubando ao mesmo tempo que ela se sentia culpada por ferir um animal. Após mais algumas tentativas, conseguiu derrubar os outros dois soldados enquanto Ceres guiava o javali para longe da vila.

Estava perto de anoitecer e o fogo ao longe logo tornava-se a única iluminação para as duas. Elas fugiram o mais rápido que conseguiram e pararam para acampar em um morro não muito distante da Árvore da Vida, que agora iluminava Pocadel inteira com sua copa em chamas, alertando todas as tribos da seriedade dos invasores.

Driiz: Estou com sede.

Ceres: Tem um riacho ao norte, a água dele é limpa. Vá beber enquanto eu acendo a fogueira.

Driiz: Certo...

A garota estava nervosa e levemente com medo de se afastar da amazona naquela escuridão da floresta, mas o fez mesmo assim. Ela enxergou algumas luzes e ao se aproximar do riacho viu que milhares de vagalumes reuniam-se ali, talvez amedrontados pelo incêndio na Árvore da Vida, eles se moviam de forma agitada pelo ar.

Driiz se ajoelhou para observar sua imagem na água. Ela viu a iluminação mudar lentamente. Estava de manhã, as frestas de luz solar passavam pela folhagem das árvores para revelar seu reflexo: seus cabelos loiros agora eram quase completamente grisalhos, secos e mal cuidados. Seu rosto tinha três cicatrizes na parte esquerda, indo da bochecha até abaixo do queixo e um tapa-olho adornava seu lado direito. Ela lembrava de jogar LoL com sua irmã como se fosse ontem, quem diria que cinquenta anos passam em um piscar de olhos.

Driiz: É, talvez isso não seja um sonho. Vamos, Fred.

Um lobo gigante e de pelo branco que terminava de beber água no riacho se aproximou de Driiz e lambeu seu rosto. Ela acariciou o animal e montou em suas costas. Portando uma pistola de pederneira roubada em uma mão e uma espada longa na outra, Driiz assobiou alto, alertando suas irmãs. Centenas de amazonas que montavam animais gigantes a seguiam em direção a batalha.

Driiz: ESCUTEM, IRMÃS! ESTE SERÁ NOSSO ULTIMO EMBATE!

Ela gritou para as amazonas, que urraram gritos de guerra tribais em resposta. O exército de mulheres atacou a costa, onde os colonizadores haviam estabelecido uma de suas cidades portuárias. Elas saltaram com seus animais por cima das casas, derrubado seus telhados e paredes, além de esmagar os residentes. Rapidamente assassinaram e saquearam centenas de pessoas e soldados da cidade e em seguida desapareceram na floresta.

A ideia não era fazer mais um dos saques que elas vinham fazendo pelo menos dez vezes por semana nos ultimos anos, elas queriam a atenção do duque, por isso atacaram justamente Nova Barebarrow, onde o general e duque de Yestershire, Buck Yester, estava morando. Ainda naquela tarde, ele reuniu milhares de homens de toda a colônia, incluindo um jovem rapaz que estava apenas a procura de sua namorada. Eles invadiram a floresta a procura da líder das amazonas. Ao ver um exército muito maior que o seu entrar em seu território, Driiz se lembrou de quando era uma criança e de tudo que vivera até ali e decidiu entrar de vez naquela dança.

Driiz: Podem vir, eu estou aqui!

To be continued...

Aventuras dos Picotados nas Terras Fantásticas e Distantes de DrangleicOnde histórias criam vida. Descubra agora