Ⅳ - O Dilema de Ervé

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Maori estava deitada na cama improvisada, seus pensamentos mergulhados na confusão e no luto. A imagem dos gritos desesperados de sua tia ainda ecoava em sua mente, e ela lutava para lembrar os detalhes da sua fuga. A sensação de ter pulado da janela e a dor que sentiu parecia ter sido apenas um borrão na sua memória. Ela se virava de um lado para o outro, tentando encontrar conforto, quando a batida na porta a fez se levantar abruptamente.

Ao abrir a porta, deparou-se com um jovem alto e magro, com cabelos cumpridos e olhos cansados. Sua expressão era séria, mas não hostil.

― Olá...? ― disse Maori, hesitante.

― Oi. Eu sou Tadashi. O Mestre pediu para levar você até a sala dele.

Maori assentiu sem dizer uma palavra e fechou a porta atrás de si. Seu cabelo estava preso em um rabo, com alguns fios longos pendendo na testa. Eram 2:57 da manhã, e a ideia de ter que seguir um estranho pelo corredor a deixou ainda mais tensa.

Tadashi conduziu Maori por um corredor repleto de portas, onde algumas pessoas passavam rapidamente, suas silhuetas se movendo nas sombras. O som dos passos e murmúrios sussurrantes fazia o ambiente parecer ainda mais carregado. Finalmente, chegaram a uma porta larga no final do corredor. Tadashi parou e se voltou para Maori.

― Espere aqui ― disse ele.

Maori apenas assentiu. Tadashi bateu na porta e entrou, fechando-a atrás de si. Enquanto esperava, Maori olhou ao redor, tentando se familiarizar com o ambiente. Depois de quase um minuto, a porta se abriu novamente. Tadashi acenou para que ela entrasse e saiu pelo corredor.

A sala para a qual Maori foi conduzida estava iluminada por uma lareira acesa, que parecia um luxo inesperado em um lugar tão simples e funcional. Ela se perguntou como uma sala tão pequena podia ter uma lareira.

― Por favor, feche a porta ― disse Ervé, sentado em uma cadeira de aparência confortável.

Maori seguiu o pedido e fechou a porta atrás de si, respirando fundo para se acalmar.

― Você queria me ver? ― perguntou ela, tentando manter a compostura.

― Sim. Venha comigo. Preciso conversar com você ― respondeu Ervé, levantando-se e se dirigindo a uma porta ao lado de uma prateleira de livros.

Enquanto ele abria a porta, Maori observou o ambiente ao redor, sua curiosidade se aguçando com a quantidade de livros nas prateleiras. A imagem de Ervé cercado por tantos livros despertou uma pequena risada involuntária em Maori.

― O que foi? ― Ervé perguntou, virando-se para ela com um sorriso curioso.

― Nada ― ela respondeu, sorrindo timidamente. ― É que você tem muitos livros aqui.

― Já li todos. Mas gosto de reler às vezes ― disse ele, abrindo a porta. ― Entre.

Ela entrou na sala escura, onde a luz das velas começou a iluminar gradualmente o espaço. O cheiro de incenso era suave e acolhedor. Ervé acendeu mais velas e ajustou o ambiente. Maori observou as prateleiras de livros, um armário escuro, uma cômoda imponente, uma cama de casal e uma pequena mesa ao lado, com um cinzeiro, uma garrafa de sakê e outra de café recém-feito.

― Gosta de incensos? ― Ervé perguntou, lançando um olhar atento para ela.

― Não sei... ― respondeu Maori, um pouco confusa.

Ervé sorriu, retirando seu casaco de couro e continuando a acender mais velas. O ambiente foi se tornando mais iluminado e acolhedor. Ervé então se acomodou na poltrona de couro marrom que ficava de frente para a cama.

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