Ⅲ - Das Sombras das Ruas ao Refúgio Oculto

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A noite estava densa e carregada de um silêncio inquietante quando Ervé e Maori saíram do Centro da cidade. A cidade ao redor deles estava envolta em trevas, com os edifícios desmoronados projetando sombras sinistras sob o brilho fraco das lâmpadas de rua quebradas. A atmosfera estava pesada, quase opressiva, e o ar frio da noite parecia cortar com precisão.

— Mantenha-se próxima — disse Ervé, sua voz grave quebrando o silêncio. — As ruas não são seguras. Há muitos que espreitam na escuridão.

Maori assentiu, tentando não olhar para os becos e ruas abandonadas que passavam por eles. Cada passo ecoava nas ruínas, e a sensação de estar sendo observada era constante. Os Elevens, conhecidos por sua crueldade e voracidade, estavam à espreita, e outros sobreviventes, desesperados e furtivos, poderiam surgir a qualquer momento.

Enquanto caminhavam, Ervé manteve-se atento, com os olhos fixos em cada sombra e cada movimento suspeito. Eles passaram por um grupo de Elevens, que estavam encostados em um beco escuro, sussurrando e trocando olhares calculistas. Os olhos brilhavam de forma ameaçadora à luz da lua, e Maori sentiu um frio na espinha ao perceber a intensidade com que eram observados.

— Fique perto de mim e não faça barulho — ordenou Ervé, puxando Maori para mais perto de um edifício parcialmente em ruínas.

Eles continuaram a avançar, movendo-se com cuidado pelas ruas estreitas e escuras. À medida que passavam por uma área mais deserta, o som de passos furtivos e sussurros de outros sobreviventes se tornava mais evidente. Havia um constante jogo de gato e rato, onde a tensão se manifestava em cada esquina e cada passo.

Enquanto seguiam, o som de algo arranhando metal soou nas proximidades, fazendo Maori prender a respiração. Ela olhou para Ervé, que manteve a expressão firme, mas a mão direita, escondida sob o casaco, sobre a pistola no coldre. Era como se, a qualquer momento, eles pudessem ser arrastados de volta ao caos de onde tentavam escapar.

Ruídos de gritos dispersos ecoavam entre os edifícios. Talvez tenham sido sobreviventes em confronto ou meras vítimas da brutalidade dos Elevens.

— Eles nos viram? — Maori murmurou, referindo-se ao grupo que havia passado mais cedo.

— Não importa. Se nos seguirem, lidaremos com isso. — O tom de Ervé era calmo, mas havia algo refinado em sua voz, uma tensão que Maori ainda não tinha visto.

Ela se questionou sobre o motivo de tanta confiança e como ele conseguiria manter a calma diante de tanta hostilidade ao redor. Algo naquela postura protetora dele a confortava, mas ao mesmo tempo deixava claro o perigo constante em que estavam mergulhados.

O silêncio voltou a se abater sobre eles enquanto continuavam a caminhar. As sombras das ruínas se tornavam cada vez mais densas, e Maori não conseguia afastar a sensação de que algo ou alguém os seguia, oculto nas trevas.

Conforme seguiam com cautela, não muito distante, mais gritos ecoavam pelas ruínas, cortando o silêncio denso da noite como facas. O som parecia vir de todas as partes, um misto de agonia e desespero que se espalhava pelas ruas desertas, reverberando entre os edifícios desmoronados. Maori não poderia evitar que sua mente imaginasse os horrores que aconteciam nas sombras, onde o olhar não alcançava, mas o medo sussurrava.

*****

Finalmente, após uma longa e intensa caminhada, eles chegaram a um prédio abandonado, que parecia ter sido um dia uma estrutura imponente. O edifício estava agora coberto de grafites e infiltrações, com janelas quebradas e portas desgastadas. A entrada principal estava parcialmente bloqueada por entulhos e lixo, e a atmosfera ao redor era sombria e desoladora.

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