Depois da visita inesperada de Sora, eles continuaram a conversa. Maori observava os detalhes ao redor: as prateleiras repletas de livros, as velas acesas, os incensos que liberavam um aroma adocicado, e o leve cheiro de cigarro misturado com bebida alcoólica que ele vez ou outra engolia. Ervé servia a si mesmo em um copo de vidro redondo.
— Agora, me fale um pouco mais sobre você.
— Eu já te contei.
— Não quero saber apenas sobre o que aconteceu ontem. Quero saber sobre você. — Ervé fez uma pausa, observando-a com interesse — Você tem uma vida, não tem?
— Sim.
— E sentimentos também. Quero que me conte o que se passa dentro de você.
Ela hesitou. Sentiu-se seca, como se nada daquilo importasse. Sentou-se ereta, disposta a acabar com aquilo o mais rápido possível.
— Por que quer tanto saber? Não basta o que já contei?
— Preciso conhecê-la de verdade se vou permitir que viva aqui. Você colocaria um estranho em sua casa, Maori?
Ela o fitou, mas permaneceu calada. Pensando na pergunta, entendeu que ele ainda não confiava nela.
— Não. Ficaria desconfiada.
— Exatamente. Eu quero confiar em você.
Ela estava hesitante e tentando organizar seus pensamentos.
— Pode começar, conte-me sobre sua vida.
— Eu não me lembro muito da minha infância, tenho lembranças confusas.
— Como assim?
— Só vejo rostos embaçados e uma luz muito forte acima de mim, como se eu estivesse deitada, mais nada. Minha tia sempre disse que eram sonhos, mas eram muito estranhos. — Ela parou, olhando para baixo.
Ervé a observou em silêncio por alguns momentos, deu um longo gole no vinho e voltou a encher seu copo.
— E... — ela começou, com um tom hesitante — Sempre que me lembro disso ou sonho com isso, sinto uma sensação estranha.
— Que tipo de sensação? — Ervé perguntou, interessado.
— Um vazio. Me sinto totalmente vazia por dentro, e meu olho sempre dói.
— Esse que você cobre?
— Sim.
Maori permanecia sentada, o olhar fixo no chão, os pensamentos emaranhados na confusão das lembranças que a atormentavam. Ervé observava-a com uma expressão pensativa, antes de quebrar o silêncio.
— Essas memórias que você mencionou, — começou ele, com um tom de voz grave e carregado de seriedade — você disse que vê pessoas estranhas e uma luz intensa. Há algum detalhe que se destaca dessas visões, algo que possa te ajudar a entender o que está por trás delas?
Maori desviou o olhar para ele, seu rosto mostrando uma expressão de angústia.
— Não consigo lembrar de muitos detalhes. — Ela murmurou — É como se uma névoa densa envolvesse minhas memórias. Eu vejo rostos distorcidos, sombras que se movem sem formar um padrão. A luz é ofuscante, como se estivesse em um lugar que não pertence a este mundo.
Ervé inclinou-se para frente, sua expressão se tornando mais intensa, quase obsessiva.
— Essas sombras... elas se parecem com algo? Como se fossem rostos ou figuras? Ou é apenas uma presença vaga e ameaçadora?
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BESTIARII
Misteri / ThrillerEm um mundo distópico onde as ruas são tomadas por caos, drogas, sequestros e monstros humanos conhecidos como "Elevens", a esperança reside nas sombras. Quando uma enfermeira se rebela contra um sinistro projeto governamental, ela foge com a única...