Depois de alguns minutos caminhando e conversando sobre os talentos de Kaito, ele se virou para Maori com um sorriso caloroso, um gesto simples que parecia contrastar com a escuridão que cercava a todos. Havia algo reconfortante na sua presença, como se, de alguma forma, ele conseguisse transformar aquele ambiente caótico em algo um pouco mais suportável.
— Bem-vinda, Maori. — Ele disse, com um tom gentil. — Sempre que você precisar de algo, qualquer coisa, pode me procurar. Se for um novo par de coturnos, um estilete afiado ou até um corte de cabelo, é só pedir. — Ele parou por um instante, observando-a com uma leve curiosidade, mas sem invadir o espaço dela. — E, mesmo que eu não saiba por que você usa essas bandagens para esconder um dos olhos, ficaria feliz em fazer um tapa-olho decente para você, se quiser.
Maori não pôde evitar um sorriso de agradecimento. Era raro alguém se aproximar dela sem olhá-la com curiosidade ou julgamento, mas Kaito parecia aceitar o que via, sem fazer perguntas que ela ainda não estava pronta para responder.
— Obrigada, Kaito — disse ela, sua voz suave, mas sincera. — Eu vou me lembrar disso.
Kaito deu de ombros com um sorriso satisfeito, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ele então se despediu com uma piscadela amigável e desapareceu entre os outros membros, deixando Maori sozinha com seus pensamentos.
Agora, envolta pela energia agitada das pessoas ao redor, Maori ficou refletindo sobre seu lugar entre eles. Tudo ainda parecia tão novo, tão vasto e incerto. Ao observar o grupo, a dinâmica entre cada um deles, ela não pôde deixar de se sentir um pouco deslocada. Cada um ali já parecia ter um papel, uma função que os mantinha conectados, que os fazia se sentir parte de algo maior. Kaito tinha suas habilidades de adaptação, Tadashi com sua destreza nas lâminas, Haruna com sua discrição letal, Sora com sua habilidade incomparável com armas. E Ervé... Ervé carregava o peso de liderar, de manter todos eles vivos.
Mas e ela? Onde ela se encaixava naquele quebra-cabeça de sobrevivência?
O peso dessa dúvida começou a crescer em seu peito. A vida fora do grupo havia ensinado a Maori a sobreviver sozinha, a lutar pelas próprias necessidades, mas aqui... aqui era diferente. Ela não sabia ainda qual seria seu papel, qual seria sua utilidade. Ser útil — era esse o pensamento que ressoava em sua mente. Não queria ser um fardo, não queria ser apenas mais uma pessoa a ser protegida.
"Eu preciso encontrar meu lugar," pensou. Ela sabia que o treinamento estava prestes a começar, que teria que escolher uma modalidade, que seria ensinada pelos melhores do grupo. Mas qual seria seu talento? O que a tornaria única entre eles?
Maori olhou para as mãos, sentindo o leve tremor da incerteza. Ao mesmo tempo, havia algo dentro dela — uma chama ainda pequena, mas presente. Uma força que ela sabia que poderia despertar. Já tinha visto tanta dor, tanta escuridão. Já havia perdido tanto. Agora, ela queria ser mais do que apenas uma sobrevivente; queria ser alguém capaz de lutar ao lado deles, de proteger aqueles que a acolheram.
Ainda assim, a pergunta persistia: qual era seu lugar nesse mundo quebrado?
Enquanto ponderava, sua mente vagava para Ervé, para as palavras que ele havia dito sobre ela começar o treinamento. Aquele era o primeiro passo, mas ainda não respondia à pergunta mais profunda: o que ela realmente era capaz de se tornar? Havia algo dentro dela, algo mais sombrio, uma determinação que começava a se formar, mas que ainda não conseguia entender completamente.
E, sem que percebesse, seus dedos tocaram levemente as bandagens que cobriam seu olho. As memórias ainda eram confusas, dolorosas, mas uma parte dela sabia que esse pedaço de sua história estava intrinsecamente ligado ao que ela seria no futuro. Não havia como fugir disso.
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BESTIARII
Bí ẩn / Giật gânEm um mundo distópico onde as ruas são tomadas por caos, drogas, sequestros e monstros humanos conhecidos como "Elevens", a esperança reside nas sombras. Quando uma enfermeira se rebela contra um sinistro projeto governamental, ela foge com a única...