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Susan Gilbert

Quando o jantar estava pronto, Emily ajudou Márcia a levar as panelas para a mesa da área externa. As duas ficaram em uma bolha na cozinha, ofereci ajuda porém a mais velha recusou, dizendo gostar de trabalhar sozinha.

Emily prendeu seu cabelo em rabo alto, enquanto desfilava por aí com seu vestido longo. Ela estava bonita, confesso. Sam levantou de meu lado, dizendo que ia até o banheiro e já voltava. Senti uma presença atrás de mim, quando pensei em me virar, a mulher se debruçou atrás do sofá.

- Um beijo pelos seus pensamentos. - Beijou minha bochecha rapidamente, sorrindo.

- Não estava pensando em nada. - A encarei.

- Está com fome? Não te vi almoçar hoje.

-Um pouco, mas nem tanto.

-Pelo menos um pouco tem que comer, desse jeito vai passar mal.

- Prometo tentar. - Sorri..

- Meninas, o jantar está servido na parte de fora. - Disse Maria.

-Pode deixar Maria. Se levantou. Estamos indo, não é doutora?

-Sim, estamos indo. Me levantei também.

Caminhamos até a parte de fora, encontrando tudo organizado. Márcia já tinha ido embora, Maria por uma ordem de Emily se sentou conosco, Sam estava do meu lado enquanto as duas mulheres estavam à nossa frente.

Emily estava descontraída enquanto conversava sozinha com Maria, as duas riam baixinho, não dava ao menos para escutar o quê elas falavam. Sam por sua vez estava perdido no mundo da lua, e esqueceu sua consciência na terra.

Algumas vezes eu olhava para Emily e ela estava me encarando, em seguida sorria, me deixando sem graça.

-A senhora ainda não tem previsão para voltar a São Paulo? - Ssm perguntou do nada. Emily nem fez questão de olhar em seus olhos, enquanto cortava a carne de seu prato.

-Não, nenhuma. Muito menos ao Rio, não sei quando volto. - Me encarou. - Por que? Vocês querem voltar?!

-Eu vou precisar, tenho reuniões com alguns assessores.

- Fique à vontade.

Senti algo passear por minha perna, ao olhar por baixo da mesa, pude perceber que era o pé dela em ato de carinho, me causando um arrepio.

-Mas eu preciso que sua advogada fique. Disse a morena. - Nós ainda temos que conversar sobre algumas coisas jurídicas.

Sam me encarou.

- Tem problema? - Perguntou pra mim, neguei.com a cabeça fazendo com que o sorriso de Emily aumentasse.

-Depois vocês resolvem isso, eu não gosto de falar sobre trabalho quando estou jantando. Falou seca.

E assim foi o jantar, calmo, sem muita conversa. Emily estava claramente cansada, e seu rosto demonstrava isso. Ao terminarmos, Maria recolheu tudo para dentro, com a ajuda da mulher.

Em seguida, Maria foi para sua casa, Emily para seu quarto, enquanto eu e Sam estávamos no nosso. Ele fazia carinho em minha cabeça enquanto provavelmente cochilava.

Assisti inteiro o filme que passava na TV, até sentir minha garganta seca. Me desvenciliei de Sam devagar e desci na cozinha escura.

Ao pegar a água filtrada, me apoiei no balcão, encarando os móveis da cozinha totalmente elegante de Emily.

-Buh! - Senti uma mão apertar minha cintura, me assustando. Era ela.

-Que susto, Emily!. Meu Deus!

- Tá assustada, doutora? - Deu risada. - Deveria ver sua cara, está mais branca que o normal.

- O que está fazendo acordada esse horário?

Iria dar a desculpa que vim apenas pegar uma água, mas sei que isso não vai colar. Então, vou dizer apenas que escutei você levantar, e resolvi vir também. Se encostou no balcão.

-Não perde tempo, né? - Bebi minha água.

-Sou intensa, e direta. Esse negócio de perder tempo não é comigo.

-Quase nem dá para perceber.

Ironizei.

-Tente dormir, doutora, já passou de meia noite, e hoje você irá trabalhar não? Advogada do senhor Samuel.

-Não estou com sono. - Dei de ombros, ignorando sua fala debochada.

Seria o destino eu falar que também não estou? Dei risada.

-Não, seria você forçando uma situação.

-Então pronto, eu estou forçando uma situação.

- Para quê?

- Para conseguir outro beijo seu igual aquele na piscina. Sorriu.

- E você acha que eu vou fazer isso aqui no meio da cozinha? Não! Vou ir me deitar.

-Pelo menos um beijinho de boa noite vai, você não é mal educada. - Fez bico.

- Não sou mal educada.

- Já traiu ele.

- Por influência sua!

-Tenho culpa agora de você deixar eu te beijar? Eu não te forcei, fez por conta própria, sinal que gostou.

Não respondi. Ela é boa com argumentos.

- Te deixei sem palavras? - Brincou.

-Vou subir, até depois. - Deixei o copo no mesmo lugar que estava, ao tentar me afastar, senti ela me puxar pela cintura.

- Ainda quero o beijo de boa noite. -Me beijou

Suas mãos apertavam firmemente minha cintura, enquanto as minhas rodeavam seu pescoço, puxando ela mais ainda para mim. Sabe a questão da necessidade? Ainda sinto.

-Viu só como você gosta?! - Falou assim que terminou o beijo. - Seu beijo tem gosto de traição.

-Eu amo ele Emily, e isso é sério.

- Seu relacionamento é uma merda. Ele não te ama, nem te olha com desejo. Conheço ele há uns 4 dias, e já percebi. Talvez você não o ame de verdade. Talvez seja só uma paixão, isso tem uma grande diferença.

-Qual a diferença, me diga.

- Quando você está apaixonado por alguém, você quer ter essa pessoa. Quando você ama alguém, você precisa dessa pessoa. - Suspirou. - Você quer ele ou você precisa dele?

Confesso que nem eu sei direito. Sam já me traiu no passado, não garanto que ainda trai. Nosso amor esfriou muito com o tempo.

-Eu preciso dele.

- Então pronto, isso não é amor. E se fosse, você não pensaria tanto para responder. - Me deu um selinho rápido e inesperado, para depois caminhar até a escada. - Ah, e obrigada por me defender de um machista. - Subiu.

Sentimentos bagunçados, vontades e nervos à flor da pele, medo constante, não saber o quê fazer.... Sintomas que meu corpo apresenta, me deixando revoltada comigo mesma.

AMANTE - EMISUEOnde histórias criam vida. Descubra agora