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- Está bem? Parece pálida. - Ele perguntou assim que me sentei na mesa novamente.

-Sim, está tudo bem.

Sinto minhas mãos suarem, minhas pernas trêmulas... Única vez que eu me senti assim foi quando descobri que estava grávida.

- Tem certeza? - Colocou a palma de sua mão em cima de meu braço, mas eu tirel.

- Absoluta.

O celular que estava em meu colo vibrava, e o visor indicava mensagens de Emily.

"Tem certeza do quê quer fazer? Arrumei tudo rápido aqui, peguei o primeiro vôo para o Rio de volta, daqui uma hora e meia mais ou menos estou aí novamente."

-Sue? - Sam me chamou, fazendo-me encará-lo sem saber o quê falar. - Amor, tem certeza que está bem? - Segurou meus dois braços. - Está toda arrepiada.

- Tá tudo bem, é só o vento que está vindo em mim. - Sorri fraco. - Podemos terminar aqui?

-Claro, podemos.- Sorriu-. Eu precisava muito conversar com a Emily, será que você pode dar um jeito nisso já que agora trabalha com ela?

-Por que você mesmo não vai atrás?

- Já tentei, ela está viajando. - Revirou os olhos. - Com o mundo inteiro caindo em suas costas.

- Algum motivo ela deve ter Sam, não a julgue.

-Não estou julgando, amor.

Suspirei pesado.

-Nem tocou na sua comida. - Falou me encarando. - O quê está acontecendo?

-Estou apenas sem fome, Sam.

Ele franziu as sombracelhas. Em seguida pegou seu celular, para por fim me encarar novamente.

- Tem certeza?

-Por que está me pressionando tanto? Já falei o que estou sentindo.

-Desculpa, você ficou esquisita do nada, sinto que algo não está certo. Mas já que disse que está bem...

-Estou bem, não se preocupe, vamos terminar aqui e ir para casa.

Ele apenas sorriu. Depois de... uns 20 minutos arrisco, nós fomos para casa. Sam foi tomar seu banho enquanto eu estava sentada na sala, pensativa como sempre.

Os mesmos pensamentos traiçoeiros de sempre, e a culpa dando esmurros em minha cara. Quero saber em qual parte da minha tudo começou a dar errado, e nem estou falando de Emily.

Irônico isso rimar.

Também não coloco a culpa em ninguém. Eu errei, e muito. Sabendo da situação que me encontrava, da enrascada qual eu me meti... por Deus, que raiva de mim mesma! Não tenho como culpar Emily, ela se aproximou porquê não tinha nada a perder, já eu, tantas coisas... Tantas coisas conquistadas... Confiança, amor, a sua pessoa interior, eu lhe trai. E não me orgulho disso.

Porém... Se não nos perdoamos por nossos erros, e aos outros pelos sofrimentos que nos infligiram, terminamos debilitados pela culpa. A alma não consegue crescer sob um cobertor de culpa, porquê a culpa é isoladora, enquanto o crescimento é um processo gradual de reconexão com nós mesmos, com outras pessoas, e com um todo maior.

Cometi muitos erros e, sem dúvida, irei cometer muitos ainda até morrer.

Em meio a esses meus fúteis pensamentos, o cheiro do perfume de Emily parece que está espalhado por toda casa. Eu consigo senti-lo.

Carlos Drummond de Andrade disse uma vez; "Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado: é o amor que chegou na sua vida".

AMANTE - EMISUEOnde histórias criam vida. Descubra agora