Capítulo 3

233 50 43
                                    

Parado perto da mesa da moderna cozinha do apartamento de Namjoon, três andares abaixo da cobertura, onde ficava o salão de festas, Jimin tirou do pote que segurava uma colherada de sorvete de nozes e levou-a à boca, enquanto olhava sua tênue imagem no vidro da porta de um dos armários. 

Sua aparência era de profundo desânimo. Deveria estar com aparência exuberante, como convinha a alguém que ficaria oficialmente noivo do homem de seus sonhos dentro de alguns momentos. No entanto, afinal, não estava se olhando num espelho e sim num vidro, que não refletia seu rosto nitidamente. 

E por que, de repente, sentia-se nervoso? Não havia motivo para isso. Namjoon satisfazia todos os requisitos de sua lista, encaixava-se à perfeição em seus planos para o futuro. O que mais ele queria?

Jimin sempre tecera planos, desde o colegial, quando decidira que sairia de Busan após a formatura. E, de fato, logo após a cerimônia, começara a pôr em ação seu plano de escapar de tudo o que conhecera até então, saindo imediatamente de sua cidade natal. 

Em seguida, executara o plano de cursar a faculdade e iniciar uma carreira. Por último, viera o plano de casamento, que fora o mais bem elaborado de todos, pois ele estabelecera com detalhes as qualidades que um marido devia ter. E Namjoon tinha todas.

Planejar a vida dessa forma fora a única maneira que ele encontrara de proteger-se contra a insegurança que conhecera na infância e na adolescência. Depois de morar com a mãe, a rainha da infelicidade conjugal, Jimin tinha de ter certeza que podia confiar em outra pessoa, que lhe desse uma vida previsível e segura. 

Quantas vezes ele tentara proteger a mãe de suas paixões avassaladoras? A cada nova paixão, Jimin repetia os mesmos conselhos sensatos, as mesmas críticas minuciosas, mostrando os defeitos de cada homem. Mas com sua mãe não havia sensatez, ela se recusava a ver defeitos em seu novo amor, por mais visíveis que fossem. E tudo acabava em sofrimento, pois nenhum de seus relacionamentos durava.

Isso não aconteceria com Jimin, porque ele traçara um plano. Além das qualidades desejáveis num alfa, sua lista incluía profissões aceitáveis e atributos físicos ideais. Ele chegara mesmo a planejar como seria a família de origem de seu marido.

Pouco antes de conhecer Namjoon, quase desistira de levar seu plano de casamento adiante, pois o alfa que idealizara parecia não existir. Saíra com alguns rapazes, mas nenhum satisfizera seus requisitos, nem mesmo de longe.

À medida que seus encontros com Namjoon sucediam-se, porém, ele foi descobrindo que o alfa era um homem com quem poderia casar-se. Um por um, riscou quase todos os requisitos da lista, dando-os como preenchidos, até restar apenas um.

— Paixão — murmurou para si mesmo, olhando-se mais atentamente no vidro.

Talvez aquele requisito deixasse a desejar, mas paixão desenfreada não era tão importante assim. Os livros e revistas que abordavam o assunto diziam que paixão era um fogo que se apagava com o passar do tempo, mas que afeição e respeito eram essenciais num relacionamento.

De toda forma, seria mais agradável, se, em vez de um morno entusiasmo, um desejo sem inibições marcasse sua convivência com Namjoon, pelo menos no início. Jimin sentiu o rubor subir-lhe às faces. Não conseguia imaginar o noivo deixando a libido dominar sua costumeira compostura.

Namjoon era muito educado, muito elegante, mesmo no que dizia respeito a sexo, e o ômega acreditava que isso era devido à maneira como fora criado. Fazia anos que Yuri e Jingoo não dormiam no mesmo quarto, e os dois raramente demonstravam carinho um pelo outro. Não era de admirar que Namjoon fosse tão reservado.

Isso não significava que o alfa fosse ruim na cama. Era prazeroso quando faziam amor e ele conseguia satisfazê-lo na medida do possível, mas, quando tudo terminava, era como se faltasse algo. 

Apenas amigos | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora