my guardian

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Como se não fosse nada, eu me joguei no sofá.
Minha mãe estava viva, mas longe, e ninguém poderia saber que ela não estava morta.

Forjar a própria morte? Que tipo de pessoa faria isso?
"Sua mãe, Izzy. Não é óbvio?" Silêncio.

Meu olhos eram dois oceanos. Eu chorava tanto de raiva, medo, ódio, quanto de saudade e desespero. Minha mãe estava me protegendo de longe, cuidando de mim. Havia descoberto para onde eu estava indo e mandou um cara, que eu ainda não faço ideia do que é (além de um assassino boboca) para me proteger.
Não é possível que ela tenha mandado um criminoso qualquer para cuidar de mim, não é?

Tentei ignorar ele, mas era impossível. Algo nele me chamava a atenção, e eu não estou falando sobre a beleza dele. Estou falando sobre o jeito dele, a forma como ele me olha e age.

Ele ficou em silêncio, respeitando minha dor enquanto eu descobria que minha vida havia sido uma mentira. Bom, não uma mentira, mas uma falsa verdade.

Os olhos dele eram tão vazios quanto meu coração. O silêncio parecia me engolir por inteira, e por alguns segundos eu desejei que ele começasse a falar. Eu não queria puxar conversa, não sabia o que dizer. Ele era um mentiroso.

"Izzy, mas você literalmente mentiu para nós, desde o começo???" Fiquem quietos, eu menti sobre uma ou duas coisas, e já contei a verdade! Não culpem minha pessoa.

Tate estava sentado no sofá comigo, e pouco a pouco ele ia vindo para perto de mim, se aproximando.
Olho para ele de surpresa, e ele se assusta. Literalmente um frango. Como minha mãe esperava que esse trequinho cuidasse de mim? 

— você vai ficar com essa cara de idiota mesmo? — pergunto. Ele olha para mim envergonhado.

Ele parecia diferente, e eu sei que eu falei isso UM MILHÃO de vezes, mas a cada momento ele parece diferente. As vezes ele parece super perigoso, e as vezes, como agora, ele parece um ratinho assustado. Quem seria ele de verdade?

— me desculpe, está tudo tão...sla, confuso. Eu também estou tentando pensar no que fazer. — ele diz enquanto encarava o chão, com as mãos entre as pernas.

— como assim tentando pensar no que fazer? — pergunto. Não tinha mais nada para de fazer.

— pensando no que fazer com o Gate. Como eu disse, não era ele quem eu esperava encontrar naquela hora...mas eu fiz o que era certo. Ele era um filho da puta mesmo. — ele diz, e de repente ele fica diferente DE NOVO.

Suspiro. Ele era tão estranho. Tentei não pensar muito nisso no começo, porque não queria ficar paranóica e desistir da estádia, mas agora era nítido o quão ele é esquisito.

Reviro os olhos. Eu estava mais calma.
— você está querendo dizer o que? Não me diga que está pensando em ir lá pegar o corpo do fazendeiro e enterrar. — olho para ele indignada.

Ele arregala os olhos como se estivesse ofendido.
— está de brincadeira? Ele não merece nem que joguem terra em cima dele, sem buraco nem nada. — Tate reclama. — estou falando sobre o leite e o queijo. Ele era incrível, cara...

De repente o mundo para. Eu olho para ele, tão incrédula que era impossível expressar de uma só vez.
Encaro ele, sem nem disfarçar.
Eu jurando que ele estava preocupado com polícia ou sei lá, os moradores, e ele me inventando isso.

— eu juro que te daria um tiro agora mesmo. — digo.

ox, e por quê?

— como por quê? Um monte de coisa importante pra ser discutido sobre, e você pensando na porra de um queijo e leite. Certeza que ele gozava no leite, e você fica aí achando que é coisa especial! — digo alto demais. Tate faz uma careta estranha e de repente quase vomita. Olho para ele com os olhos arregalados.

Estômago fraco? Como assim esse cara era a merda de um assassino!?

— ah meu deus, você não vai vomitar só porque tomou mais de 20 litros de porra, né? — digo provocando. Ele me olha com uma cara terrível. — eu só estou brincando!

De repente me lembro que o conheci a poucas horas atrás. Como eu sentia que fazia anos? Tudo parecia tão...sei lá, rápido.
Mesmo assim não tirei meu foco dele e continuei o encarando.

— para de falar esse tipo de coisa, é tão nojento! — ele exclama. O olhos dele estavam até lacrimejando.

Dou uma risadinha cortante.
— me desculpe, mas é muito patético você estar preocupado com algo tão besta. — digo. — o que faremos agora?

Ele encosta as costas no sofá, suspirando alto. Provavelmente não fazia ideia do que fazer. Era tão tolo quanto eu.

— eu...não faço ideia. Só sei que não posso te deixar sozinha, e que também não posso te deixar ir embora. — ele diz. De repente seus olhos vão até mim.

Suspiro, assim como Tate havia feito segundos antes. Tudo parecia ter ficado normal por alguns segundos, quando eu cheguei na cidade, mas poucos minutos depois tudo virou o mesmo de antes. Talvez eu nunca fosse ter paz, assim como minha mãe também não teve.

Se naquele dia eu não tivesse matado os assassinos de minha mãe...eu teria me livrado de tudo isso? No fim das contas minha mãe ficou viva, os assassinos dela mortos, e todos os outros assassinos acham que ela está morta. E no fim das contas eu me ferrei, me fudi, pensei ter vingado minha mãe, quando na verdade apenas me enfiei em um buraco. Mas como...como ela ficou viva? Eu ouvi ela, eu vi ela. Eu matei quem tentou matar ela.

— por que você está no meio de tudo isso? O que você é? — encaro ele. — quem você é, Tate Langdon?

O rosto dele fica mórbido, sem cor, apesar de ele já ser branco demais.
Ele olha para o teto, fechando os olhos calmamente. Algumas gotas de água caem de seus cabelos loiros.

— eu matei pessoas demais. Fiz um massacre em uma escola, quando eu era estudante de lá. Isso foi quando eu tinha 17 anos. — ele diz baixo, me dando uma leva olhada para ver se estava tudo bem. Eu continuava a mesma. — eu fui caçado, preso. Sua mãe deu um jeito, me tirou da prisão, fez alguma coisa que eu ainda não entendo...e assim eu fui inocentado, visto como um doente que saiu do controle. — ele diz, e nessa hora eu me sobressalto.

— doente que saiu do controle? Mas por que ela te ajudou?

— eu me lembro até hoje das palavras dela. Eu nem conhecia ela, mas ela me disse: "Tate, eu não estou te tirando daqui porque acredito que seja alguém bom, que tenha feito algo sem querer ou sem pensar. Estou te tirando daqui porque preciso de você para cuidar de algo que é meu". Foi exatamente isso. — ele diz. 

Fico olhando para ele, esperando que ele continuasse.
— eu matei pessoas, Izzy. Matei por puro egoísmo. Pessoas inocentes. Mas sua mãe mandou eu cuidar de você, e é o que estou fazendo. Meu passado não é algo a ser julgado agora. — ele diz.

— mas por que você matou aquelas pessoas? Bullying ou o que? E por que caralhos minha mãe te mandou para cuidar de mim, sendo que ela nem te conhecia? — digo. Eram tantas perguntas que minha cabeça explodia.

— não, não. Eu não conhecia ela, mas ela me conhecia. — ele suspirou. — Izzy...eu sou o filho de um dos assassinos que queriam matar a sua mãe. — ele diz receoso. Uma ponta de desespero apareceu em meu coração.

— e por que caralhos era queria você me protegendo? — pergunto tentando parecer calma.

— porque eu sou o único que pode te proteger, Izzy.



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Feliz ano novo.

Kills and Kisses - Tate Langdon Onde histórias criam vida. Descubra agora