Día De Los Muertos

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Nada como uma celebração aos mortos para animar o humor da família Addams. Um evento com tantos convidados certamente movimentaria todos na mansão, mas considerando sua completa ausência de alteração de humor, nada soou mais incomum do que a primogênita dos Addams demonstrando algum interesse. Usava o vestido que ganhou de Thing, o mesmo da fatídica noite de banho de sangue falso.

Do alto das escadas olhava para a porta ocasionalmente, como se esperasse a chegada de algo, ou alguém. Os mesmos olhos decrépitos.

O grande portal se abre, como das últimas vezes, mas essa foi capaz de arrancar algum esboço de surpresa.

—Xavier?

O rapaz estava acompanhado do famoso médium Vincent Thorpe. Seus olhos de peixe prontamente se reviram com a atenção sufocante do pai em meio aos convidados e na busca por uma linha de fuga, encontra a expressão confusa da amiga.

—Wednesday?

Ao seu lado, o anfitrião de gestos convidativos indica ao garoto para falar com sua filha. Ela poderia lhe apresentar a mansão Addams enquanto Gomez acompanha o Thorpe mais velho até o famoso altar da família e aproveitam para conversar sobre os velhos tempos de alunos em NeverMore.

Nada poderia soar tão convidativo: se afastar do pai e poder atormentar sua amiga durante as férias. Se encontram na base das escadas, a garota parecia confusa com sua presença.

—Pensei que odiasse eventos públicos, ainda mais acompanhado do grande médium...

—Feliz Día de Los Muertos para você também, Wednesday. E sim, está certa, mas posso tolerar algumas interações sociais para conseguir checar como você está.

—Pensei que me vigiar fosse a função do celular. Poderia ter avisado que vinha.

—Seria se você o usasse mais do que uma vez na vida para me telefonar. E se eu avisasse, tenho quase certeza que você daria um jeito de desaparecer do evento.

A garota quase esboçou um sorriso de escárnio e indicou que seguissem andando para longe do salão, os corredores da mansão estavam recheados de história das famílias místicas mais tradicionais dos Estados Unidos e isso certamente seria do interesse do rapaz.

—Você não é tão relevante assim para me fazer mudar de planos em um dia como esse, Xavier. Apesar de que eu provavelmente tentaria me misturar com a paisagem para não ser notada.

Quase como um sussurro, o garoto respondeu que seria impossível ela não lhe chamar atenção. Se foi ouvido ou não, não importa, já que foi prontamente enganado. Podiam ver os vários quadros acumulados por gerações das famílias. Mesmo o lado solteiro de Mortícia, os Frumps, descendiam de gerações de wiccas do norte europeu e isso enriquecia ainda mais a árvore genealógica que percorria as paredes de pedra.

Pararam do lado de uma ampla janela. A lua já voltava a dar o ar da graça de dar seus novos suspiros de crescimento.

—Pode não acreditar em mim, como sempre, mas vim justamente pela data ser pertinente. Hoje é uma boa noite para encontrar um guia ancestral, posso ajudar nos rituais e te ensinar o que já sei sobre desvendar os sonhos. Sei que não é muito, mas... Posso te apoiar, Wednesday, como sempre fiz.

—Se for tão bom com a mediunidade quanto é com pontaria, certamente estarei mais segura sozinha.

Aquilo soou mais ríspido que deveria e o olhar magoado a agradou, é claro.

Antes de ouvir uma resposta, os sons de uma lambreta em alta velocidade ressoavam pela janela e parecia vir dos portões de entrada. Ela sabia do que se tratava e apenas correu de volta ao salão, sendo seguido pelo rapaz que chegou a pensar que já havia sido desprezado o suficiente.

Wicked game - WeylerOnde histórias criam vida. Descubra agora