Quando as coisas se encaixam (penúltimo capítulo)

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Em uma coisa eu precisava dar o braço a torcer sobre tecnologias: Era realmente bom não depender do rádio e poder escolher as músicas que ouviríamos na viagem.

Meu papel seria o de motorista por 4 horas de viagem e Tyler, como um bom copiloto, tinha o dever de nos manter entretidos.

"when the sun goes down and the moon comes up..."

Pensei que teria de aguentar alguns country ou outros clichês musicais, mas Tyler montou uma playlist repleta de músicas do The Cramps e outros clássicos, segundo ele, para dar um ar de nostalgia à nossa aventura. Meloso, eu sei.

Estaria mentindo se dissesse que odiei sua companhia. Longe disso... O problema é que eu gostava até demais.

O castanho cantava algumas letras e colocava o rosto de fora da janela para sentir o frio do início de dezembro. As árvores pintadas de branco tornavam o clima ainda mais agradável e a paisagem complementava seu sorriso irritante.

—Ei...Você sabe a letra dessa...

Eu conhecia aquela balada, o acordeão com uma voz grave que parecia presa ao passado. O pior de tudo é que nem poderia esconder, já que meus dedos tamborilavam no volante. Malditos acordes!

É claro que poderia ficar pior, já que em seguida Tyler declara a letra como se fizesse uma serenata, exceto pela letra melancólica.

Bem, você não acordou esta manhã porque não foi para a cama... Você estava vendo o branco de seus olhos ficar vermelho. O calendário na sua parede marcava os dias de folga. Você tem lido algumas cartas antigas... Você sorri e pensa o quanto você mudou.

Todo o dinheiro do mundo não poderia comprar de volta aqueles dias. Você puxa as cortinas e o sol queima em seus olhos. Você vê um avião voando através de um céu azul claro.

Por fim, Tyler me encara como se me desafiasse a cantar o refrão da música do The The. Sorte a dele por fazer isso em uma música que me agrada.

This is the day, your life will surely change!

This is the day, when things fall into place.

Gostaria que estivéssemos parados, não pegando estrada, assim eu poderia me libertar com a música e me deixar mover livremente aos olhos do meu Hyde. Desde a primeira vez que dançamos juntos eu já tinha convicção de que ele seria minha perdição. Quem sabe hoje seja realmente o dia em que as coisas se encaixem... Como devem ser.

* * *

Fizemos uma rota mais longa para evitar paradas policiais, já que eu só tinha minha carteira provisória e Tyler era um procurado da justiça, mas o único policial que nos parou pareceu se assustar com minha típica expressão cadavérica e apenas desejou um "Bem vindos a Salém!"

—Já chegamos a Salém?

Olhei para meu copiloto levemente confusa... Foi tão rápido, realmente não vi o tempo passar.

Lá fora o sol se punha, chegamos no horário previsto e sabíamos exatamente para onde ir a procura do acampamento. Fizemos a maior parte do trajeto de carro, mas chegou um momento em que era inevitável caminhar.

—Pronta, escoteira?

Não respondi sua brincadeira, apenas segui em direção a campina já coberta pela neve.Seu passos vinham logo atrás.

Parte de mim, uma parte bem distante da minha consciência, estava se preparando para a possibilidade real daquela ser a última vez que veria Tyler. Haviam certas... alternativas que ainda não consegui processar completamente, principalmente ao comparar o peso entre tudo que sinto e as consequências. Sempre me considerei uma garota que funcionava bem sob pressão, mas agora me sentia como se estivesse completamente sem respirar, não de um jeito bom.

Wicked game - WeylerOnde histórias criam vida. Descubra agora