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Mia

O vestido verde claro de seda que eu usava, escorrega para fora do meu corpo e se amontoa aos meus pés, decidi trocar assim que Tristan se foi e tive a porta trancada outra vez. Era o mesmo vestido que usei há quatro meses, em meu aniversário de dezoito anos, um presente de Dick. Ele havia me levado para jantar no restaurante mais caro da cidade e me deu um conjunto com colar, brincos e pulseira de pequenos e caros diamantes. Tristan disse que eu parecia uma vadia com ele, foi o mesmo que me disse na primeira vez que usei.

Eu quis voar em seu pescoço, o esganar e bater sua cabeça até que morresse enquanto gritava que mentia, eu tinha era ficado bonita e elegante. Pela primeira vez um vestido caia tão perfeitamente em mim. Ele se agarrava em lugares certos do meu corpo, foi até ele que me fez perceber que eu possuía algumas curvas. De tanto falarem sobre meu corpo, principalmente Fanny, de como era uma magrela que mais parecia uma tábua, só usava jeans e blusões, apesar das muitas peças bonitas que possuo em meu armário.

Eu era uma estupida por cair nas baboseiras de todos eles, mas era mais fácil falar do que fazer. E verdade seja dita, não quero chamar mais atenção do que já chamo. Sempre espero e temo pelo momento em que Dick, me deixará cem por cento por minha conta, quando irá me expulsar para longe de suas asas. E não estou falando sobre me mandar embora. Não quero nunca que ele tenha que escolher entre mim e o seu pessoal.

Apesar de tentar me manter no escuro, eu sei de muita coisa. Fico me iludindo sobre ir embora, mas o negócio é que eu não vou. Quem sabe muito, não pode ir, ou não do jeito que sonho.

No mínimo, eu acabaria como minha mãe e Patrick.




(...)

Mesmo com óculos escuros sei que Tristan, me olha com desprezo quando desliza rapidamente seus olhos cobertos por mim, ele entra em sua caminhonete, uma versão luxuosa da minha. Eu o acompanho, havia chegado cinco minutos antes, para não correr o risco de atraso nem para ir contra o que me mandou fazer. Ficar em meu quarto e não irritar ninguém mostrando minha cara.

Panaca.

Também troquei por roupas da qual não faça ele, me chamar de vadia. Jeans folgado e camiseta, com um moletom jogado por cima e tênis. Enquanto ele move o grande carro, não posso deixar de olhar para a fazenda, que nem mesmo se parecia com uma. Dick só queria um local grande e longe de olhares curiosos, como se essa última parte adiantasse alguma coisa, ainda que o pessoal lá embaixo não soubesse em detalhes o que ocorre aqui, principalmente no antigo celeiro detonado, podiam imaginar.

Dick convenceu o antigo dono, um senhor chegando na casa dos sessenta, a vender sua antiga fazenda assim como com outras duas famílias, que possuíam pequenas terras ao redor do lugar. Depois, derrubou tudo e reconstruiu. Quando cheguei, parte da construção já estava quase finalizada. A terra do chão foi substituída por cimento e paralelepípedos, os animais já não existiam, embora eu soubesse que já teve alguns em algum momento e a horta foi substituída por outro tipo de plantio, não muito, mas ainda sim. Algumas árvores ainda sobreviveram e havia um pequeno pomar do qual eu adorava ir até lá, ficava distante das casas e o pátio dos trailers.

Fico imaginando, ás vezes, como o antigo dono se sente, sei que não está mais na cidade, e como ficaria se visse o que seu antigo lar foi transformado. Piscinas, academia, sala de cinema, trailers, plantio de maconha, seu celeiro que abrigava seus bichos agora um lugar sinistro, violento e sangrento, sua casa agora uma mansão para bandidos. Fico triste por ele, ainda que seja uma das pessoas que desfruta de tudo isso. Dick tinha feito praticamente uma cidade aqui em cima.

Quando tudo vai ficando para trás e os pinheiros e outras árvores na estrada, entram em meu campo de visão, me dou conta como percorremos por alguns bons minutos.

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