Capítulo 6.

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New York
Quinta feira.
16 de Abril.

ROBERT MONTGOMERY POV

Às vezes o homem toma decisões as quais nunca poderá voltar atrás. Eu nunca poderia voltar atrás das minhas e com o passar dos anos, eu parei de querer mudar algumas coisas que fiz.

Sou um homem de 67 anos que tomou decisões boas e ruins ao longo da vida, algumas piores do que as outras, algumas bem melhores. É uma linha tênue entre o que julgam ser o mal menor e mal maior, mas em minha concepção, existe apenas um mal e eu o alcancei.

Nem sempre foi assim. Eu me casei com uma mulher da alta sociedade mesmo sendo um merda, um nada. Nos amamos verdadeiramente, ao contrário do que as pessoas julgam saber do meu casamento. Beatrice sempre foi a mulher certa, apesar de termos afundado nosso casamento após os primeiros 5 anos e proferir palavras ao outro que não poderiam ser apagadas. Atitudes que não poderia ser desfeitas.

Com os anos passando, um muro foi criado entre nós e ele seria incapaz de ser destruído. Ainda mais depois de termos fundado a Montgomery Motors, que por sinal foi com o dinheiro dela, isso me fez sentir com o ego ferido mesmo com o cargo que eu ocupava. Mesmo sendo presidente, apenas 25% da empresa era minha e isso nunca mudou.

Pensamos que as coisas mudariam quando descobrimos sua gravidez, ficamos animados, ser pai deveria ter sido uma experiência revigorante no auge dos meus 37 anos mas não foi. Nunca seria.

Eu esperava ansioso para que um herdeiro homem tomasse posse da presidência quando fosse necessário, um herdeiro para os meus 25% já que a outra porcentagem era única e exclusiva de Beatrice. Mas veio ela, uma menina.

Novamente, meu ego foi ferido. Eu me senti impotente. Me senti menos homem do que eu sempre fui.

Não conseguia olhar para ela, mesmo que tivesse os meus olhos. Não consegui sentir aquele amor de pai, eu não queria uma herdeira. Não queria nada que eu não pudesse moldar à minha maneira porque Beatrice a faria uma boneca de porcelana. Addison nunca seria meu herdeiro à altura, mas eu pequei em me concentrar nisso e esquecer que ela seria a de sua mãe.

Durante 18 anos eu culpei uma criança por não atender minhas expectativas, as expectativas que eu mesmo criei e que ela não tinha obrigação nenhuma de suprir. Ela nunca teria e eu demorei 30 anos para perceber.

O único feito que me arrependo foi ter jogado minha ira de um homem frustrado em cima de Addison. Porque eu, que sempre pensei não ter um herdeiro à altura, sempre pensei que ela fosse ser uma bonequinha mimada, supérflua e mesquinha... Estava errado, de novo.

Quando a agredi fisicamente pela primeira vez, Addison não derramou uma lágrima sequer. Ela escondeu seu rosto com as mãos em uma tentativa falha de se proteger mas eu era mais forte, mais alto e estava possesso. Me lembro exatamente como foi, tenho certeza de que ela também se lembra.

Depois da primeira vez, houve mais outras até que ela foi embora de casa e depois disso, Beatrice faleceu. Eu fiquei sozinho em uma casa cheia de lembranças.

Com o passar dos anos eu continuei presidente, Addison assumiu seu cargo de vice presidente mesmo que o meu fosse seu por direito. Foi nesse tempo em que eu percebi que ela tinha mais coisas parecidas comigo mesmo que eu não tenha a moldado. Mesmo que tudo que eu tenha feito à ela seja rejeição.

Parte de mim queria consertar as coisas e parte, a parte prepotente, egoísta, egocêntrica e arrogante, não queria nada. Absolutamente nada. E eu sempre tive certeza que ela também não queria.

Então continuamos sendo dois estranhos com um passado pendente.

No mundo dos negócios, eu não me arrependo de nenhuma ação que precisei tomar. Sempre tive influência o suficiente para me manter longe de uma cela compartilhada, meus crimes são apenas meus. Eu os cometi e não me pesa a consciência. Não mais.

Dangerous Passion - Meddison.Onde histórias criam vida. Descubra agora