8 | eu pergunto você responde

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Thaís

Segundo dia de trabalho, na verdade eu acho que hoje é o primeiro dia, já que as consultas iniciam hoje.

O calor não diminui muito pelo contrário ele só aumenta, o que faz minha raiz brasileira saltar, aquela vontade do calção que ta mais pra cinta e o cropped que mostra quase tudo, mas eu não posso.

O que me fez usar uma camisa creme de seda com as mangas até o cotovelo, uma saia que eu não diria que é cumprida mas curta também não é, ta um pouco acima do joelho. Nos pés um salto simples, pouquíssima maquiagem e o cabelo lisinho.

Segundo dia de trabalho, lá vamos nós.

[...]

Eu tô mortinha. E não é de cansaço não, é de calor mesmo.

Já conversei com um jogador, ele foi muito aberto comigo, sempre bom encontrar os que falam tudo da vida deles só com uma pergunta, sabe? Poupamos tempo e o problema pode ser solucionado rapidinho.

Agora eu tô com o Halaand e ele só me fala da namorada dele desde que a bendita secção começou.

— eu sinto saudade dela sabe? — suspirou — ela ficou na Noruega e eu tenho que estar aqui.

— mas você acha que pensar muito nela pode de certa forma, te desconcentrar nos jogos ou treinos?

Porque eu acho, não é possível uma pessoa falar da namorada por uma hora.

— não — disse rápido — eu me concentro sempre nos jogos e dou o meu melhor, mas quando eu penso nela, o que evito fazer durante os jogos, tudo desaparece — pareceu pensar em algo, qual o chá que essa garota deu nele?

— mas, se você ta com saudade dela porque não vai a visitar?

— porque ela já não é minha namorada — falou normalmente. Quer dizer? Você ficou quase uma hora, falando de alguém que supostamente era sua namorada pra no fim dizer que não era? Os terapeutas também enlouquecem, contá as coisas como deve ser.

— ai não? — sorri forçado.

— não, ela foi minha namorada à dois anos, só que nós terminamos — fez cara triste.

Por mim já deu.

— sessão terminada! — levantei — na próxima sessão, a gente vai tentar tocar em outro ponto.

— tá — se levantou também — a doutora é uma ótima ouvinte — meu cérebro riu — até a próxima.

Fomos juntos até a porta e eu abri a pra ele. Quando saiu eu só me joguei no pequeno sofá que tinha ali e abri mais dois botões na minha camisa.

Ainda da tempo pra próxima secção então eu vou pra copa, tomar alguma coisa que me refresque.

Chego lá e me dou de cara com a ruivinha que eu ainda não sei o nome, impressionantemente.

— oi — cumprimentou sentada na mesa.

— oi — respondi sem muito ânimo.

— dia mau?

— você nem imagina, é... — fiz menção de ela me falar o nome dela.

— Stéphane.

— é Stéphane, dia cansativo, mau não diria. — peguei meu bebedor rosa, meti cubos de gelo e uma coca bem gelada e palhinha, melhor sensação que isto passando pela garganta numa tarde quente que nem esta não tem.

— quer me contar?

— infelizmente eu não posso — torço o lábio — tudo que os pacientes dizem deve ser mantido em sigilo.

Minha principal regra, é não descumprir os princípios terapêuticas, tinha um docente que dizia que se Fizéssemos isso, teríamos um futuro brilhante pela frente e eu o faço, por isso também o bom desempenho em Braga.

— eu tenho que ir — me despedi dela.

— boa sorte pra o resto do dia.

— obrigada, igualmente!

Segui pra minha sala ainda tomando minha coca. Abro a porta e me assusto ao ver um intruso nela.

— o que faz aqui? — franzi o cenho, fechando a porta atrás de mim.

—  ta na hora da minha sessão, bonita. — Jude falou, tava com o uniforme de treino, calção preto e regata amarela, sentado todo a vontade na cadeira dos pacientes.

— é Thaís — ele fez cara de confuso — meu nome é Thaís — fui pra minha cadeira e agora eu o encarava — e se conseguir dizer doutora eu agradeceria.

Ele fez cara de surpreso e depois deu um sorrisinho.

— tudo bem, doutora Thaís.

— óptimo. — dei um sorriso falso.

Peguei em sua ficha e li algumas coisas, quando levantei meu olhar, o peguei olhando pra o meu busto, que eu acho que dá pra ver um pouco da pele dos meus seios já que tem TRÊS botões abertos.

Ele não se importou em disfarçar seu olhar, continuou olhando mesmo até levar seus olhos aos meus.

Porra Thaís que desastrada!

O encarei mesmo, até me lembrar que tinha uma sessão pra começar. — Jude, como se sente hoje?

— bem, eu acho — se ajeitou na cadeira

— isso é bom —  coloquei meus cotovelos na mesa — vamos recuar um pouquinho, que tal você me contar do seu passado?

— porque? — ouvi ele dizer e ergui uma sombra — qual é a necessidade de eu falar do meu passado?

— porque eu perguntei, não é suficiente?

— não sei — inclinou a cabeça pra o lado  — não acho que eu contar que jogava bola descalço na rua mude muita coisa. — deslizou ainda mais na cadeira.

— isso não é você quem decide ou é e eu não tô sabendo?

Ele demorou um tempo pra responder e ao invés disso ficou me encarando, caralho, o jeito que ele me olha, me desconcentra e muito. Ai como eu odeio esse garoto.

— nunca disse isso — levantou as mãos em sinal de rendição.

— acho bom — olhei pra ele — vamos estabelecer regras — vi um sorriso sem dentes surgir dele — nesta sala, eu sou sua terapeuta, eu pergunto você responde, simples assim....pode ser?

— claro, bonita — passou a mão na boca como se escondesse um sorriso — quis dizer, doutora Thaís.

Deus dê me paciência pra aturar este insolente!

Vizinhos de TrabalhoOnde histórias criam vida. Descubra agora