Eles sacrificariam o amor verdadeiro pelas suas carreiras sem pestanejar. Mas toda escolha tem uma consequência.
Após um acontecimento crucial em sua vida, um dia do qual não se lembra, ele se torna um jovem ator em ascensão, cercado de prêmios e f...
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*Considere o que está escrito assimno texto como se as palavras estivessem riscadas :) *
03/08 - Ela
A xícara de chá de baunilha aquece a ponta dos meus dedos enquanto o falatório da televisão ecoa como um ruído incompreensível pelo meu quarto. Mesmo que eu continue incapaz de sequer entender uma frase em alemão, o barulho da TV ao fundo parece uma companhia reconfortante para terminar o dia.
Este é meu momento de paz, declaro para mim mesma, permitindo-me adiar por mais alguns minutos minha última tarefa e relaxar na cama. Dou goles lentos no chá, sentindo o líquido morno descer pela garganta suavemente, fornecendo um pouco de calor ao meu corpo. Minhas pálpebras tornam-se pesadas quase de imediato, embaçando minha visão, e de repente todo o cansaço que vim acumulando ao longo do dia despenca sobre mim como uma tonelada de concreto.
Com a sonolência começando a me embalar, termino de beber o chá e enfim forço-me a sair da cama. Coloco a xícara vazia na mesinha de plástico minúscula ao lado da janela e busco na gaveta logo embaixo o envelope que eu tinha recebido poucas horas antes. Reprimindo um bocejo, levo-o comigo de volta para a cama.
Mais uma noite, mais uma olhadela na folha de chamada do dia seguinte. Sim, este é o modo fascinante como venho terminando minhas noites nesses últimos dias: conferindo meus afazeres futuros antes de ir dormir. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Talvez seja graças a pequenos hábitos como esse que me renderam o título de "uma das mais adiantadas com o trabalho", ao menos de acordo com Benjamin.
Sentada na cama com as pernas cruzadas, abro o envelope e apoio o papel sobre o lençol. Meus olhos varrem a primeira página com displicência, numa inspeção breve e automática, já esperando encontrar as mesmas tarefas e os horários usuais: enviar novas cenas antes das oito, refazer a terceira e a quinta cenas do segundo ato, talvez alguma reunião com o diretor e a equipe de roteiro antes do almoço...
Mas basta eu ler algumas palavras atípicas — palavras que nunca estiveram na minha folha de chamada antes — que meu sono evapora no próximo segundo.
Não, devo ter lido errado.
Estreito os olhos como se precisasse enxergar melhor, refinar minha visão para ter certeza de que o que acabei de ler foi um delírio momentâneo. Leio uma palavra de cada vez, deixando as frases irem aos poucos se construindo na minha mente como peças de um quebra-cabeça.
Então a compreensão súbita atinge-me em cheio. Eu não li errado.
Mas, antes que um pânico surdo alastre-se dentro de mim, imediatamente cogito a outra possibilidade: isto aqui é um engano. É claro. Porque é óbvio que há algum erro. Meu Deus, essa nem deve ser a minha folha de chamada!
