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Música: Sad People - Kid Cudi

Música: Sad People - Kid Cudi

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16/07 - Ele

Alô, alô, planeta Terra chamando Matt... — Nick agita as mãos na minha frente, e é preciso que ele me chame mais três vezes até eu finalmente escutá-lo.

Pisco uma, duas vezes, despertando do meu breve torpor.

— Hmm, o que foi?

— Eeee ele voltou. — Nick deixa o script no colo e junta as palmas das mãos numa pose zen. — Seja bem-vindo, humano. Nossa mãe Terra recebe agora mais um filho de braços abertos.

Esfrego os olhos com a ponta dos dedos. Esta seria uma ótima e produtiva noite se a minha cabeça não estivesse tão abarrotada de preocupações e questionamentos.

— Desculpa, cara. Estou meio aéreo hoje.

— Se quiser, continuamos amanhã, Matt, sem problemas. São quase onze da noite e...

— Não, não, só preciso de um minuto.

Respiro fundo, olhando ao redor e tentando fincar os pés no presente. Uma das minhas músicas favoritas do Kid Cudi está tocando na caixa de som que comprei para a minha sala, a melodia ecoando baixinho pelo meu apartamento (não quero arrumar encrencas depois da última reclamação de barulho alto dos vizinhos do andar de cima). A televisão está no mudo, exibindo um episódio qualquer de Rick and Morty que eu tinha começado a ver antes de Nick chegar — quando estou me preparando para um novo papel, limito-me a assistir a apenas séries de animação e documentários, conteúdos que não tragam a possibilidade de influenciar minha atuação ou desviar minha concentração. A pequena mesa de jantar tem uma magnífica bagunça: sobras do macarrão instantâneo do almoço, chocolates sem açúcar da minha avó, duas latas de refrigerante vazias, meu caderno de sempre, alguns convites para festas exclusivas e uma pilha de roteiros a serem analisados.

Olho para mim e para Nick, esparramados no sofá, as folhas do script de Ich Blute Für Dich jogadas em nossos colos. Meu Deus, nós estamos uma bagunça: os cabelos arrepiados de Nick, sua cara amassada e inchada de quem caiu da cama, o casaco que ele colocou por cima para tentar disfarçar o fato de que está de pijama; eu vestindo uma camiseta de Wallace & Gromit com rasgos na manga e uma calça velha de moletom, meus pés com meias descombinadas (uma roxa e outra verde), sem contar que provavelmente o estado do meu cabelo deve estar pior do que o do Nick. Tento sufocar a vontade de rir. Somos um desastre humano de exaustão e sonolência em plena terça-feira.

— Acho que não foi exatamente uma boa ideia eu ter pedido para você me ajudar com a leitura das minhas falas hoje, né?

Nick me olha com uma cara de e você tira essa conclusão só agora que a merda está feita?

— É melhor que você tenha um travesseiro extra, seu filho da mãe. — Ele suspira, cansado. — Só... vamos continuar o trabalho, Matt. Para todos os efeitos, agora você é o Augustus Kreuz e eu sou Marina Köller. — Nick bate os cílios teatralmente, pestanejando como uma garota num desenho animado.

i will escape death for youOnde histórias criam vida. Descubra agora