Capítulo Um

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O amor aquece o coração; a paixão queima-o; a raiva esfria-o; o rancor congela-o; e a indiferença petrifica-o.

- Gilberto de Araújo Alcântara

Faziam quase dois anos de guerra, todas as mulheres que Aquiles levou seguiram em frente e encontraram amantes e depois maridos em um dos Mirmidões, apenas Briseis ficou, e Aquiles sempre se perguntou o porquê, mas só percebeu a razão na noite em que Pátroclo lhe perguntou sobre filhos e o nome da morena apareceu. O loiro percebeu ali a razão para que a mulher ficasse, ela amava Pátroclo, o seu Pátroclo, e desejava um filho dele. Aquiles queimou por dentro com sentimentos inomináveis, Pátroclo também queria um filho, ele percebeu, e o filho de Peleu desejou que fosse capaz de fazer isso, parir um filho de Pátroclo, mas ele não era; ele era um homem, jamais poderia dar um filho a ele, um filho a si mesmo. Um que seria mais seu que Neoptólemo, seu filho que estava sendo criando por Tetis em algum lugar nas profundezas marinhas. Aquiles não dormiu, se sentindo culpado por tais pensamentos sobre seu próprio filho, e por não poder  dar ao homem que amava o que sabia que mais que tudo ele desejava, mesmo que dissesse que não. Então Aquiles tomou uma decisão e conveceu seu companheiro de que aquela era a decisão certa e a que traria mais felicidade a eles.

- Assim será. - Pátroclo disse olhando no fundo dos olhos verdes de Aquiles.

- Eu vou falar com ela. - o loiro disse e acariciou o rosto moreno de Pátroclo e beijou seus lábios antes de sair da tenda a procura de Briseis naquele fim de tarde.

Aquiles encontrou Briseis sentada junto de algumas outras mulheres tecendo, elas ergueram os olhos de seus trabalhos quando o homem loiro se aproximou.

- Posso falar com você? - ele perguntou, os olhos em Briseis que acenou para ele sem uma palavra e deixou o tear de lado para segui-lo para longe das outras mulheres, para a praia do outro lado do acampamento.

A morena observou os próprios pés lambidos pelas ondas  por algum  tempo em silêncio, ela e Aquiles não eram particularmente próximos, embora a mulher pertencece a ele teoricamente, havia uma única coisa que os dois tinham em comum, uma pessoa na verdade, e essa era Pátroclo. Depois da última conversa que os dois tiveram no entanto, a jovem não sabia.

- Pátroclo me contou sobre a sua proposta. - Aquiles disse direto como sempre quebrando o silêncio. Seu rosto impassível e os olhos distantes. - Não fique brava por ele ter me contado.

- Não. Esta tudo bem. - a morena disse olhando para qualquer lugar exceto para o rosto de Aquiles. - Eu, sinto muito pela forma como agi, eu... devia ter pensando em seu relacionamento. - acrescentou mais baixo mexendo no tecido fino de seu peplos.

Aquiles moveu a mão como se espantasse as palavras da mulher ao seu lado.

- Sabe, eu tenho um filho. Não vejo porque Pátroclo não possa ter um. - o grego disse ganhando um olhar surpreso da morena. - Sei muito bem que Pátroclo quer um filho. Eu não posso dar isso a ele, mas ele... ele cuida e ama você o suficiente para... para que você possa.

Dar um filho a Pátroclo! Briseis sentiu suas entranhas se revirando olhando para o homem a sua frente. Ela sabia que Pátroclo o amava, ele a recusou, recusou quando ela fez a proposta a ele, e aquela fidelidade, entender a extensão do amor do moreno por Aquiles a surpreendeu e a surpreendia ainda mais a do que Aquiles tinha por Pátroclo.

- Pátroclo recusou. - Briseis disse, o tom ainda um pouco baixo. - Ele é extremamente fiel a você. - ela disse e doía um pouco, porque ela jamais poderia ter Pátroclo, não como Aquiles tinha. Não poderia ser amada por ele não como Pátroclo o amava. No entanto aqui estava ela desejando ser a mãe do filho de Pátroclo, um filho que ela sabia que nem se quer seria considerado seu. Um filho que seria de Aquiles e Pátroclo, criado por eles.  Porque ela seria, era uma extensão daquele homem, era isso que Aquiles estava pedindo. Ela seria apenas substituta de Aquiles em algo que ele mesmo não era capaz de fazer sozinho, e ainda assim ela queria por amar Pátroclo e isso doía.

O Coração de PirroOnde histórias criam vida. Descubra agora