Capítulo Seis

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Quando deixares o veneno invadir o seu cérebro, livra-te e purifica o teu coração, um coração envenenado é uma alma vazia.

- Tatyane Nicklas

Poeira e sangue grudava em sua pele, a armadura parecia muito mais pesada do que realmente era e Pirro estava desejando mais que tudo se livrar das peças de metal pesadas que muitas vezes mais pareciam atrapalha-lo que ajudá-lo no campo de batalha. As lutas entre os gregos e os troianos estavam cada vez menos frequentes, o intervalo entre elas estavam cada vez maiores e o ruivo sabia que o ponto decisivo daquela guerra estava enfim se aproximando, mas ele não conseguia pensar nisso, só conseguia pensar em sua avó, com quem não falava há muito tempo. O que será que ela queria, será que diria o mesmo daquela vez? "Sentimentalismo é um exercício de futilidade incentivado apenas por tolos à néscios. Laços dessa tipo apenas o tornariam fraco e imprudente Neoptólemo." Sua avó parecia querer que ele fosse um epítome de uma terrível perfeição, será que ela também desejava que Aquiles também fosse assim, será que seu pai viver e morrer para ter a glória de nunca ser esquecido não foi suficiente para ela? Pois se não foi certamente Neoptolemo não seria, ele nunca seria o que Tétis queria dele, não queria ser e certamente não se esforçaria para tal.

- Mestre Neoptolemo? - Pirro piscou os olhos para Briseis diante de si. Estava tão distraído voltando da batalha que seus pés tomaram o caminho que fazia todos os dias depois das lutas para a tenda da serva anatoliana.

- Sim? - o ruivo disse como se houvesse ouvido qualquer coisa que a morena tinha dito.

- O senhor prefere usar água fria ou quente para se limpar hoje? - Briseis disse, e o rapaz sabia que ela estava repetindo uma pergunta já feita antes.

Pirro se lembrou da promessa feita para o irmão naquela manhã, ele provavelmente estava preparado na tenda, Alkinoos era uma criança muito prestativa. O ruivo reprimiu um sorriso pelos pensamentos.

- Nenhuma na verdade, Alkinoos vai me ajudar com isso hoje. - ele respondeu. - Mas gostaria que levasse algo para o nosso jantar mais tarde.

- Sim senhor. - Briseis respondeu e o garoto juntou as sobrancelhas meio incomodado.

Normalmente durante seu dia Pirro é chamado de senhor por muita gente, de escravos e servos a outros príncipes guerreiros, mesmo tendo doze anos apenas, e em algumas semanas treze. Ele não costumava se importar com os outros, mas Briseis chamá-lo de senhor era uma coisa que se tornou muito estranha si, ele realmente não gostava que ela o chamasse assim quando de uma forma ou de outra era mãe de seu irmão.

- Pare de me chamar de senhor, é muito estranho. - o garoto ditou e se foi para a própria tenda sem dar a morena oportunidade de questiona-lo ou protestar.

***

Alkinoos tinha se preparado para a chegada do irmão quando tinha começado a anoitecer, tecidos limpos de linho e uma bacia de água quente que Lila, uma velha amiga de Briseis que costumava ajudar a tomar conta de Alkinoos quando bebê, e que também era sua vizinha de tenda, o ajudou a aquecer a água já que o garoto não queria pedir ajuda para a mãe, agora ele estava sentado na cama ao lado dos pedaços de tecido desajeitadamente dobrados por ele preocupado que a água pudesse esfriar antes que Neoptolemo chegasse ou se ele realmente chegaria, o marido de Lila já havia chegado, seu irmão no entanto não estava ali. Mas Neo prometeu, ele prometeu que viria, que deixaria ele participar mesmo dos momentos ruins. Ele não quebraria sua promessa quebraria? Se Neo resolvesse deixa-lo de fora da própria vida o que Hedi iria fazer? O que faria se seu irmão decidisse que ele era fraco demais para ajuda-lo com qualquer coisa tão simples quanto se limpar? Os dedos ainda meio gordinhos de criança apertaram a barra manchada de terra do chiton e sentiu sua garganta apertar e seus olhos arderem.

O Coração de PirroOnde histórias criam vida. Descubra agora