Capítulo Oito

52 3 41
                                    

Quem depende do futuro está perdido no presente.

- Sêneca

Pirro havia dito a Automedonte e a si mesmo que iria procurar o homem chamado Heleno no monte Ida, mas na verdade não o fez pelos dois dias seguintes, convocado para reuniões sem sentido na grande tenda no centro do acampamento grego. Não havia um único troiano a vista desde que eles recuaram na última batalharam para dentro das muralhas de sua cidade. Eles estavam escondidos lá dentro e os reis cada vez mais impacientes, Agamenon que se considerava o líder ali encarava a Pirro e o questionava como se fosse responsabilidade dele encontrar uma solução.

- Primeiro você não queria que eu ajudasse na guerra, agora você quer que eu ache uma solução sozinho? - o ruivo questionou cheio dos olhares de Agamenon.

- Não seja insolente! Não foi para isso que sua avó deusa te educou?! - Agamenon praticamente rosnou batendo com os punhos na mesa, se sua intenção era intimidar o ruivo falhou miseravelmente.

- Minha ascendência pode ser nobre, fui realmente educado para me tornar um grande guerreiro e eu posso ter o título de Aristos Achaion. Mas não é por isso que é minha obrigação ganhar por vocês uma guerra em que entraram as cegas! - Pirro respondeu calmamente com seus olhos gelados fixos no rei, mas isso deixou os homens ao redor da mesa mais nervosos do que se o rapaz tivesse gritado. - Eu ouvi dessa guerra muito antes de vir pra cá, ouvi do sangue de nossos irmãos derramados nessa terra por anos e anos a fio. Ouvi das pessoas que morreram por culpa da sua negligência senhor de Micenas. Ouvi o que fez com o meu pai mesmo ele tendo lutado ano após ano...

- Seu pai! Seu pai foi encontrado escondido numa ilha sob as saias de sua avó e ele próprio de saias! - Agamenon cuspiu o acontecimento, desonra aos olhos de muitos, mas todos sabiam como Aquiles tinha se vestido de mulher e Pirro não se envergonhava disso, ele não podia dizer que se envergonhava de qualquer coisa que o pai fez, ainda mais quando foi obrigado por sua avó.

- Sim, e ele provavelmente deve ter ficado uma beleza digna de comparação a própria Afrodite vestido em um peplos fino e adornado de belas joias, já que cita isso com bastante frequência senhor de Micenas. - Pirro sorriu para Agamenon que tinha o rosto rubro, o ruivo não sabia se de raiva ou por sua insinuação.

Houve um silêncio meio estranho entre os homens na mesa, a maioria pareceu achar divertido a interação entre o rei de Micenas e o príncipe de Fítia e Ciros, mas permaneceram em silêncio a fim de evitar que Agamenon explodisse.

- Príncipe Neoptolemo. - Odisseu quebrou o silêncio estranho. - eu estava lá e posso garantir que seu pai estava belo como a minha adorada Penélope. - o homem disse e alguns riram, a esposa de Odisseu era quase como uma piada sempre que citada, já que a maioria dos homens achava que a mulher nem existia que era uma invenção de Odisseu pra se fazer engraçado. Pirro não acreditava nisso, mas no momento a tão famosa Penélope estava servindo ao propósito de seu perspicaz marido de desviar a atenção de todos de Agamenon e do próprio ruivo, mas Pirro não ia deixar estava cansado daquele porco achando que podia mandar em si ou em qualquer um ali. Ele não era o rei deles, todos ali tinham terras a governar.

- Sim acredito que a beleza dos dois deva ser celebrada, mas provavelmente em um outro momento mais adequado. Já que o ponto dessa conversa não é a beleza sem igual de meu pai e sim as ações duvidosas para dizer o mínimo, do senhor de Micenas. E das responsabilidades postas sobre os meus ombros. - Pirro encarou Agamenon. - o senhor age como se fosse nosso rei, como se devêssemos nos curvar, mas todos nós aqui presentes somos reis e príncipes, somos seus iguais, não aja como se fossemos meros escravos seus seguindo suas ordens. Eu vim a Tróia por um motivo, mas o motivo nada tem a ver com a guerra. Fiquei e ofereci meus préstimos ao exército porque sabia muito antes de entrar nessa tenda pela primeira vez que sem mim vocês ficariam presos a essa guerra em um impasse eterno. - o ruivo olhou para todos os homens ao redor agora em um silêncio mortal. - Não há nada, absolutamente nada que me prenda aqui ou que me impeça de tomar meu irmão, os soldados e servas e servos que foram de meu pai e voltar para minha casa. Eu não tenho o meu destino nas mãos, mas o destino de vocês... - tornou a olhar para Agamenon. - o seu destino, depende do meu. - o ruivo se levantou, e sem se dar ao trabalho de empurrar a cadeira em que estava para o lugar seguiu para a saída da tenda onde ele parou por um instante. - Há muitos homens capazes por aqui, tenho certeza que encontrarão uma saída para esse impasse, quando encontrarem conversaremos novamente sobre como proceder.

O Coração de PirroOnde histórias criam vida. Descubra agora