Capítulo Dois

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Faça o que você sente que está certo em seu coração, pois você será criticado de qualquer maneira. Você será condenado quer faça ou não.

- Eleanor Roosevelt

- Bem vindo irmão! - A voz do menino despertou o ruivo e espantou aquela sensação quente em seu peito, mas não completamente. 

- Obrigado. - disse tentando manter seu tom duro, mas era impossível diante daqueles lindos olhos escuros. - Eu gostaria de ter vindo antes, mas infelizmente não me foi permitido. É muito bom finalmente conhece-lo Alkinoos.

- Para mim também Neoptólemo! - o garoto disse animado. - Nosso pai me falou muito de você!

- Ele falou? - Pirro estava um pouco surpreso, não imaginava Aquiles falando dele,  os dois nunca tiveram nenhum contato.

- Sim. - Alkinos disse. - Ele sempre perguntava a avó Tetis sobre você. - pode ter sido apenas impressão sua, mas Pirro pensou ver uma sombra no rosto do menor quando ele falou de Tetis. - Ela falava que você era grande, forte e corajoso como ele, criado pelos deuses. O pai Aquiles era tão orgulhoso do quão incrível guerreiro você seria.

- Ele tinha - Pirro não pode evitar a pequena chama de esperança em seu coração indiferente. No mundo em que sempre viveu sua avó o olhava como se o que ele fazia não fosse mais que a própria obrigação ou como se ele fosse a promessa de vida. Sua mãe nas poucas vezes que viu, parecia tentar esconder o arrependimento e a tristeza em seus olhos enquanto murmurava "você é tão parecido com o seu pai." E tocava os seus cabelos. O pai,  desse muito ouviu falar, nunca viu, mas em algum lugar do passado havia uma criança que já quis que Aquiles se orgulhasse dele. Mas aquela criança se foi. - Orgulho de mim, ele tinha?

- Sim. As vezes a noite aqui mesmo nessa tenda. - o menino indicou ao redor. - ele pensava no futuro, falava que você seria um guerreiro maior que ele e eu seria um médico bom como o meu pai Pátroclo.

Pirro não entendo porque o irmão chamou o Therapon de seu pai de pai, mas preferiu ignorar aquilo no momento, provavelmente era algo que apenas se devia a convivência.

- Aquiles foi um grande guerreiro. - disse o ruivo.

- E você vai ser também. - Alkinoos disse. - e vai tomar conta de mim como o pai Aquiles disse que faria. - sorriu um sorriso de olhos fechados que fez o seu rosto brilhar. - Acho melhor deixa-lo descansar! A viagem até aqui deve ter sido longa. - disse a criança de repente. - Eu só queria ver você. Desculpe atrapalhar.

- Não atrapalhou. - Pirro respondeu sincero.

- Ah tudo bem. - Alkinoos sorriu e se virou para a saída da tenda. - Agora eu vou...

- Espere Alkinoos!  - Pirro se levantou e o menor parou no meio de seu movimento. - Você... poderia ficar e me contar mais sobre o nosso pai?

O garoto olhou para o ruivo e mais uma vez sorriu.

- Claro. Ficarei feliz em fazer isso. - respondeu e aceitou a mão que Pirro o ofereceu guiando-o para a grande cama que pertenceu a Aquiles, o único outro móvel disponível para sentar na tenda.  - E pode me chama apenas de Hedi irmão. 

Hedi, suave, perfeito com certeza para a criança, Pirro pensou consigo enquanto balançava a cabeça em positiva para o pequeno.

- Assim será.

Alkinoos narrou os feitos de seu pai até adormecer na cama dele. Pirro saiu da cama onde estava ouvindo as histórias e voltou para sua cadeira, de lá observou o menino adormecido ignorando os ruídos noturnos que agora se espalhavam pelo acampamento, seu pai acreditava que cuidaria dele... Talvez devesse cuidar, ele era uma criança ingênua e o mundo era um lugar terrível. Além do mais eles foram tudo o que sobrara um para o outro,  e por mais frio e cruel que Pirro fosse, por mais rígida que tenha sido sua criação não negaria a si mesmo a presença de seu irmão em sua vida.

O Coração de PirroOnde histórias criam vida. Descubra agora