Capítulo Sete

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É preferível suportar os males que temos do que voar para aqueles que não conhecemos.

- William Shakespeare

O sol do meio dia queimava sua pele e o suor ensopava o chiton debaixo da armadura que pesava em seus ombros. Sangue manchava seu rosto e suas mãos e escorria pelos braços pingando dos cotovelos enquanto Pirro se movia para sua próxima vítima segurando a espada com firmeza. Fazia Oito meses desde a chegada do ruivo, e ele realmente não se dava ao trabalho de contar o tempo, mas estava começando a ficar difícil quando todos aqueles reis inúteis apenas reclamavam. Se eles não queriam lutar para quê entraram em uma guerra pra começo de conversa? Eles fizeram a merda e agora achavam que era dever dele consertar tudo apenas porque o título de melhor dos gregos agora era dele. Coloque o príncipe Neoptólemo na frente de batalha, deixe que o príncipe lute com Eneias, deixe que ele lide com as situações mais complicadas, Pirro riu consigo mesmo:

- Se eu não soubesse do quanto dependem de mim diria que estão tentando criar situações para me matar. - murmurou dando um golpe particularmente forte no inimigo mais alto que ele arrancando sua cabeça.

- Falando sozinho Príncipe Neoptólemo? - Odisseu perguntou surgindo ao lado do ruivo, ele não deveria estar ali, se o filhos de Aquile não se enganava o rei de Ítaca deveria estar no lado oposto, mas Pirro realmente não se importava com isso.

- Acho que está mais para fazendo tudo sozinho. - o ruivo respondeu sem olhar para o homem.

- Ora príncipe Neoptólemo, não seja assim. - Odisseu sorriu

- Assim como, realista? - o ruivo tornou mal humorado com uma pergunta.

Odisseu quis responder com: "Não, tão arrogante", mas preferiu ficar em silêncio. Mesmo para um excelente guerreiro como Pirro, criado pelos deuses, não devia ser fácil ser um garoto de doze anos no meio daquela matança, ainda mais que ser um garoto de doze anos não é tarefa fácil em nenhum lugar na Grécia. Gostaria que Neoptólemo fosse um garoto mais fácil de lidar como seu irmão, não importava como tentasse se aproximar o ruivo sempre respondia daquela forma atravessada. Ninguém pode esperar que alguém mude tanto, nem todo mundo gosta de gente.

Pirro não esperou resposta do rei de Ítaca, o meio de uma batalha não era lugar para conversar, seus pensamentos saíram da guerra para se perguntar o que sua avó queria consigo, não que ele devesse se perguntar a respeito, já que ele mesmo evitou ir se encontrar com ela naquela manhã. Alkinoos no entanto não estava na cama ao seu lado pela manhã, e o ruivo soube no momento em que percebeu o vazio ao seu lado na cama que o garoto só podia ter ido a um lugar. Ele tinha escutado a ninfa noite passada quando Pirro imaginou que ele estivesse dormindo e provavelmente tinha ido encontrar com a deusa marinha em seu lugar. A teoria do primogênito de Aquiles foi comprovada e Hedi adentrou a tenda muito feliz e animado e deu um recado de sua avó para ele. As batalhas ficariam estagnadas e os troianos recuariam, nada que Pirro já não soubesse, o que realmente preocupava era o que sua avó disse que aconteceria depois. Para ele se preparar pois em breve chegaria o momento que ele tanto aguardava. Não era o momento que Pirro aguardava mas o que sua avó aguardava, o ato grandioso que o levaria a imortalidade, um garoto mortal transformado em deus, como Dionísio. Pirro não queria isso, só queria achar o que lhe faltava, aquela profecia... Já fazia tanto tempo que não pensava nela. Talvez porque já tinha encontrado aquilo que lhe faltava, aquele... Alkinoos... Será que era dele que os  Fados estavam  falando? Foi ele a única parte que restou de seu pai, Alkinoos era a única família que Pirro tinha além de sua mãe e sua avó. O próprio Alkinoos não tinha ninguém além dele e de sua mãe escrava, seria isso que queria dizer?  Será... perguntaria a sua avó se pudesse, mas... da ultima vez que os dois se encontraram não tiveram a mais calorosa das conversas, desde então Pirro conseguia sentir a presença dela sempre por perto sempre o observando e zelando silenciosamente por ele como agora, mas ela não se aproximou, não falou com ele. Ela estava brava, ele sabia, provavelmente por ele não ter aparecido em seu encontro ao amanhecer, mas principalmente, apostava, por ele não ser tudo o que ela queria que ele fosse assim como seu pai também não foi, mas não podia mudar sua essência e seus princípios. Sua avó queria que ele abandonasse Alkinoos, provavelmente continuaria insistindo nisso, mas isso Pirro não faria por ela e nem por ninguém, preferia ser mais um homem para a lista de decepções de Tétis que abandonar o irmão que seu pai lhe legou o dever de proteger. Ele pensou enquanto observava sem surpresa os troianos restantes recuarem de volta para a segurança dentro dos muros da cidade como Alkinoos disse que aconteceria sem se dar ao trabalho de persegui-los; olhou para o céu limpo e azul onde o sol forte brilhava, Apolo era um deus adorado pelos troianos, Pirro preferia Poseidon, mas pediu silenciosamente para Apolo iluminar o seu caminho para o futuro junto de seu irmão.

O Coração de PirroOnde histórias criam vida. Descubra agora