Intro

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"O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração"


Julie

A campainha tocou, quebrando o silêncio sufocante que me envolvia. Assustada, derramei o café quente nas pernas e soltei um grito. "Espera aí!" gritei para quem quer que fosse do outro lado da porta, enquanto tentava juntar coragem para me recompor. A maquiagem borrada era o menor dos meus problemas, mas era o suficiente para me lembrar de como minha vida estava desmoronada.

Me levantei, cambaleando, irritada por ter de sair do meu refúgio caótico. O carteiro entregou o jornal, e ali estava minha única chance de sair daquele estado miserável. As palavras lidas na noite anterior ecoavam na minha cabeça: "Às vezes, precisamos seguir em frente, não porque queremos, mas porque é necessário."

Não queria a compaixão dos outros. Perder meu filho e meu marido já era um peso insuportável. Se eu não tivesse brigado com Dane naquela manhã, ele não teria saído mais cedo. E talvez, só talvez, ele ainda estivesse vivo.

Com a cabeça pesada de culpa, fui para a seção de empregos. Uma oferta chamou minha atenção: consultora de etiqueta. Não era o emprego dos meus sonhos, mas era algo que eu sabia fazer. Mesmo longe, meu velho fusca teria que aguentar a viagem.

Horas depois, lá estava eu, em frente a uma mansão de tirar o fôlego. O interfone soou como um portal para outra realidade. Assim que os portões se abriram, entrei, estacionando meu fusca em meio àquele luxo surreal. Subi os degraus com uma mistura de nervosismo e curiosidade. Uma senhora elegante me recebeu, mas foi o homem que veio em seguida que roubou toda a minha atenção.

Jason, com uma sunga molhada, exibia um corpo esculpido que parecia uma provocação ao pecado. A água ainda escorria pelos gominhos de sua barriga, e tudo que eu consegui pensar foi no quanto aquele homem exalava tentação. "Esse foi feito para quebrar qualquer autocontrole", pensei.

— Você deve ser a Julie, certo? — ele disse, com um sorriso que fez meu coração dar um salto.

— Sim, sou eu — respondi, estendendo a mão, mas ele, ousado, me puxou e beijou meu rosto. Um gesto atrevido que imediatamente ganhou minha simpatia. "Ele sabe lidar com meu jeito", pensei, já sentindo que as coisas iam ficar interessantes.

Ele subiu as escadas, e eu não pude evitar de observar cada detalhe daquele corpo que parecia esculpido por deuses. Que homem era aquele? Antes que pudesse me perder mais nos meus pensamentos, uma mulher desceu as escadas. Marie. Cabelo bagunçado, maquiagem pesada, e um olhar exausto. Ela parecia um fantasma da mulher que um dia deve ter sido.

— Desculpe a demora, Julie. Sou Marie — disse, visivelmente abatida. — Preciso de ajuda. Perdi o controle de mim mesma, e não sei mais o que fazer.

Ela estava vulnerável, e eu sabia que seria mais do que apenas uma consultoria de etiqueta. Ela precisava de algo profundo, de uma reconstrução emocional. A medida que conversávamos, a história de seu casamento infeliz emergia. Desde o nascimento da filha, Jason não a tocava mais. A dor em seus olhos me tocou, mas não pude deixar de pensar: "Será que Jason, aquele pedaço de homem, tinha mesmo outras mulheres?" Seu sorriso cafajeste certamente indicava que sim.

— Vamos começar por você — disse, tentando ser firme. — Se quiser reconquistar seu marido, precisará primeiro se reconquistar. Se amar, se cuidar. Não por ele, mas por você.

Ela assentiu com lágrimas nos olhos e me guiou até seu closet. As roupas, luxuosas e esquecidas, eram um reflexo da mulher que ela havia deixado de ser. Enquanto ela corria para atender ao choro da filha, fiquei analisando a vastidão de tecidos e acessórios. Aquilo seria um desafio, não pelas roupas, mas pela reconstrução que ela precisaria enfrentar.

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