"Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar."


Julie

Acordo com o sol da manhã invadindo meu quarto, e, ainda sonolenta, arrasto-me até o banheiro para minha rotina matinal. O rosto no espelho parece o de sempre, mas dentro de mim algo se agita. Tomo meu cereal em tempo recorde, leio algumas manchetes do jornal, como venho fazendo há pouco mais de um mês. A rotina, apesar de confortável, começa a pesar. Hoje decido sair mais cedo para o trabalho, antes que o tempo me pregue uma peça e eu acabe atrasada de novo.

Marie, a mulher que tenho ajudado por essas semanas, tem mostrado progresso. Agora ela se veste de forma impecável, parecendo mais confiante, mesmo que seu casamento continue uma incógnita. Não sei se o marido dela, Jason, ainda nutre sentimentos pela colega de faculdade, a tal Mel. O clima entre eles ainda me parece distante, algo que não consigo ignorar.

Meu fusca, velho de guerra, tem aguentado bem o trajeto diário até a casa de Marie. É um alívio não ter que lidar com problemas mecânicos, pelo menos por enquanto. Assim que chego, o portão da enorme mansão se abre com um suave ranger, e entro. O silêncio domina a casa, uma calmaria que parece estranha para um lugar tão grande.

— Bom dia, Julie. — Jason desce as escadas, impecável como sempre. É difícil não notar o quanto ele é atraente.

— Oi, Sr. Jason. Tudo bem? — forço um sorriso, tentando ignorar a sensação de nervosismo.

Ele apenas acena com a cabeça, ignorando minha pergunta. — Marie ainda está na aula de dança. Quer tomar café comigo?

Tento ser educada, mas minha mente já sabe que essa é uma má ideia. — Na verdade, eu já tomei café antes de sair de casa. Não seria apropriado ficar sozinha com você.

Jason sorri de maneira quase provocadora. — Já te disse, me chama só de Jason. E seria rude negar um café que preparei com tanto carinho. Senta, vai. — Ele aponta para a mesa cheia de pães, frutas, queijos e um bolo recém-saído do forno. Um verdadeiro banquete.

Respiro fundo, frustrada, mas me sento. Pego uma fatia de bolo e uma xícara de café.

— De onde você é, Julie? — Jason me pergunta, a voz suave, mas cheia de curiosidade.

— Londres. — Respondo, tentando manter a conversa superficial.

— E como veio parar aqui? Portugal não é exatamente um destino comum para quem mora em Londres.

Não gosto de falar da minha vida, então solto o básico. — Precisava me afastar de algumas coisas. Queria repensar minha vida, e Portugal parecia um bom lugar para isso.

Jason me estuda por alguns segundos, seus olhos analisando minhas palavras. — Sem namorado ou marido para te acompanhar?

Franzo a testa. — Não. Sozinha.

— Eu e Marie também viemos de Londres. Achávamos que um novo começo aqui seria o ideal. Mas nunca entendi muito bem a Marie. Ela sempre desistiu de tudo por mim. Eu deveria ter dado mais atenção ao nosso casamento, mas... o trabalho sempre ficou no caminho.

— Talvez seja isso que falta. Mais esforço de sua parte. — Respondo, sem pensar muito. — Se ela desistiu de tudo por você, o mínimo que poderia fazer é tentar reconquistá-la. Talvez... deixar o trabalho um pouco de lado e focar mais nela.

Jason parece refletir sobre o que eu disse, mas logo solta um suspiro. — Talvez você tenha razão. Mas hoje não quero pensar nisso. — Seu olhar escurece por um momento, como se quisesse enterrar o assunto.

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