doze

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Guizo

Este capítulo contém temas sensíveis, como agressão e homofobia.

Ok, sem surtar. Foi você que quis falar com ele, ninguém te obrigou. Bom, talvez seus amigos. Não, não obrigaram, só sugeriram que eu aceitasse falar com ele. E ninguém pode ficar sabendo o que eu tô fazendo. Por que? Ah, porque eu não quero dar o braço a torcer e admitir que eles estavam certos. Mas e se ele for um babaca e acabar comigo de novo? 

"Você chegou ao seu destino". Avista a voz no aplicativo de viagem. Calma. "Uma conversa amigável" penso enquanto toco o subo o elevador. 

- Oi. - digo ao ver Alexandre na porta. 

- Oi. Entra e fica de boa que o Morato não tá aqui. - ele mora com o Morato? Ah, caralho e se ele chegar? 

Apartamento bonito. Bem organizado. As paredes em tons neutros, pequenos spots de luz em cantos devidamente marcados, os móveis com um aspecto antigo. Grafitis na parede, é o Xande mora aqui mesmo.

- Senta. - convida o mais novo no sofá - Bom, fico feliz que tenha aceitado me ouvir. 

- Só aceitei porque eu fui obrigado, se não eu estaria muito feliz agora na minha casa editando meus vídeos. 

- Caralho Guizo, dá pra ser compreensivo UMA vez? - exclama, tá bom, melhor eu calar a boca - É… eu não sei nem como começar. Ninguém sabe disso, pelo menos não a história completa. Bom, fazem oito meses, oito meses começamos a nos odiar. - seus dedos estão inquietos em sua coxa. 

"Eu morava com os meus pais, até então e depois da sua casa, fui direto pra lá, já que era meu lar. Mas quando eu cheguei, encontrei meu pai sentado na poltrona no canto da sala com um caderno na mão. Era meu caderno de terapia, ou melhor dizendo, meu caderno de poesias."

Terapia? Poesias? Tá, esse é um lado do Alexandre que eu nunca imaginei encontrar. 

- E tava aberto na página que tinha um poema cujo título era "Luz no fim" e ele era sobre você. Sobre como foi o dia em que nos conhecemos naquele hotel, como foi o tempo que passamos juntos como amigos e como desde o princípio eu queria algo a mais. - uma gota de suor sai de baixo do seu boné e logo o mesmo retira o adorno e segura firme em suas mãos. Minhas costas suam também. - Bom, foi naquela noite que meu pai descobriu que eu era pansexual, tcharam. 

"Ele gritou comigo, disse que eu era uma vergonha pra família, me espancou, jogou vasos pela casa e me mandou embora de casa. Ali, naquele dia, eu vi minha vida desmoronando, ele é meu pai porra, não podia me aceitar?" 

Cada palavra era como um soco no estômago, Xande as soltava com raiva, medo e fraqueza. Era como se tudo aquilo estivesse entalado dentro de seu peito há séculos e eu estou disposto a escutar até o final. 

- Além de tudo. Ele disse que se me visse com você algum dia, ia espancar nós dois. Por isso parei de falar com você e comecei a fingir o ódio pra não ter que lidar em ser só seu amigo e te contar toda essa história. Porque, de verdade, você é o primeiro que escuta a história inteira, meus amigos só sabem que meu pai descobriu e me expulsou de casa.  - nossas pernas tremem de ansiedade, meus dedos já não parecem mais dedos e ele roe constantemente a unha do seu dedão esquerdo. 

"Eu não espero que você me perdoe, mas quero que saiba a verdade. Se um dia eu for digno de seu perdão, saiba que estarei radiante! Pode me bater, gritar comigo se quiser, mas essa é a mais pura e dolorosa verdade". 

Ódio. É tudo que consigo sentir e dessa vez não é pelo Xande e sim pelo pai do mesmo. Perdão a avó do Alexandre, mas que filho da puta o pai dele é. Onde já se viu, tratar o próprio filho dessa maneira? Espanca-lo e ameaça de socar eu e ele? Esse babaca foi longe demais. 

- Xande… - sussurro e tudo que meu corpo consegue fazer é prendê-lo em um abraço. Agora, suas lágrimas começam a sair de seus olhos e se transformam em um rio intenso e cheio de dores. Eu fico aqui o tempo que for preciso pra que ele possa se acalmar.

me ame, xanzo (rpg do cellbit)Onde histórias criam vida. Descubra agora