"Você me deve uma explicação melhor." Aonung cruzou os braços. Estava agitado, nervoso. "Eu não te entendo." Andava em círculos ao redor do cômodo, inconformado. "Pra que tocar nesse assunto?""Ele defendeu você de Loak, e parece que ele... queria te entender."
Tsireya estava preocupada. Era difícil saber o que esperar de Aonung. Apenas tentava ajudá-lo.
"Eu até entendo..." Admitiu. "...mas quando você contou, você não sabia qual seria a reação dele. Ele podia ter reagido mal, ou pior, todos estarem comentando sobre isso de novo."
Pausou pra pensar sobre as palavras que o confortaram na gruta no dia anterior; o desfecho foi melhor do que esperava, tudo tomou um rumo - até então - melhor, graças àquilo. Estava contente, mas não baixaria a guarda, levando em consideração a cautela que deveria ter sobre seu passado, e, não menos importante, sobre o que estava para vir no futuro.
Sempre esteve colocado em situações em que teve de adotar a postura mais racional para permanecer dignamente de pé. Continuamente pensava com antecipação sobre os outros, planejando estar dois à três passos adiante de todos. Lia através dos atos dos Navi para enxergar suas intenções, sendo um nato observador - e julgador - e a realidade era; ele não sabia o que esperar por parte de Neteyam. Poderia tentar se convencer do contrário, como insistia Tsireya sobre os irmãos Sully, mas estaria enganando à si mesmo e seus princípios; e detestava estar enganado. Neteyam não era confiável, e não deveria ser tratado como tal.
"Eu não confio neles..."
Seu discurso soava como algo que diria sobre qualquer um que conhecesse há tão pouco tempo. Mas, falando sobre Neteyam, se sentia incomodado pela própria rigidez e frieza das palavras.
"...e você confia fácil demais, irmã."
Ele alfinetava-a sobre outro assunto, mas, preferiu não deixar claro que era sobre Loak.
"Aonung..." Ela clamou em tom de súplica. Pegou nas mãos do irmão e olhou em seus olhos, buscando comovê-lo através de seus sentimentos. Já havia se desculpado. "... me desculpa."
"Eu só confio em você." Olhava no fundo de seus olhos. Ele precisava de Tsireya. "Entendeu?"
"Sim." Respondeu, desistente. Ela deixou a tenda, mesmo que triste. Afinal, era compreensível que ele permanecesse chateado.
Aonung saiu logo após a irmã. Ele estava se preparando para encontrar com a patrulha da névoa. Era inverno no recife, e devido a condensação do vapor d'água em baixas temperaturas, a visão do perímetro diminuía, e os guerreiros deveriam patrulhar a área ao redor da ilha com mais frequência para garantir a segurança da aldeia. Isso era chamado de patrulha da névoa.
Ele pensou em convidar Neteyam, mas, era arriscado. Apesar de suas boas habilidades montando o ilu, ele não era treinado com os Tsurak. Eles patrulhariam para além do Recife naquele dia, e no inverno o mar se tornava revolto e haviam muitos obstáculos pouco visíveis. Era muito perigoso para um novato.
Avistou Neteyam que estava na faixa de área encostado à um coqueiro, conversando amigavelmente com Rotxo e um círculo de adolescentes Metkayina. Estreitou o olhar. Por que ele era tão simpático com todos? Não fazia sentido para Aonung que nunca agiria daquela forma. Ele parecia se divertir durante a conversa. Aonung não admitiria, mas sentia ciúmes. Não gostava quando tinha a impressão de que outros recebiam mais atenção de alguém que ele considerava do que ele próprio. Haviam ali as garotas do grupo de Nayla. Apesar de primos, ele não era próximo de Nayla, e não a considerava uma boa companhia para os irmãos Omatikaya. Decidiu que não tocaria no assunto caso não fosse realmente necessário.
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𝐀𝐖𝐀𝐊𝐄 • neteyam x aonung
ФанфикApós escapar da morte, Neteyam se recupera e retorna a conviver no cotidiano dos Metkayina. O que não imaginava era que seria sua relação conturbada com o herdeiro do clã o que mais o atordoaria e ocuparia o espaço em seus pensamentos dali em dian...