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No dia seguinte, Neteyam acordou sozinho naquele bangalô. Teve a sensação de que ali não era um lugar para ele estar.

Nos dias seguintes, não pôde conversar com Aonung. Observou ele apenas de longe. E cumprimentava brevemente quando se esbarravam. Era difícil tratá-lo como se mal se conhecessem, mas Neytiri estava sempre acompanhando de longe os passos do filho. Em uma conversa com Ronal, ela soube que os dois passaram noites desaparecidos, juntos, mas decidiu não contar para Jake. Ela deixou os afazeres domésticos para Kiri, e passou a vigiar Neteyam, que, sabendo disso disso, se comportou ao longo daquela semana, como normalmente faria, sem viver grandes aventuras.

"Eu estou muito decepcionado com você." Foi a única frase de seu pai que ficou ecoando dia após dia em sua cabeça.

Pela maior parte do tempo, tentou se distrair com as tarefas diárias. Caçou no recife, colheu alimentos na mata, explorou os mares com Loak, e cuidou dos irmãos. Nas horas vagas, jogou jogos com os jovens da vila, fazendo atividades aparentemente inofensivas, ao olhar da mãe. Brincou com Tuk e seus colegas. Era uma boa distração brincar com as crianças. Àquele cotidiano era bom. Realmente gostava das suas responsabilidades.

Porém, dias tão comuns como aqueles se tornaram atípicos, estranhos, sem a presença constante de Aonung.

Não pode evitar pensar sobre ele toda vez que estava em um momento ocioso, ou, até mesmo quando foi dar uma volta em seu Ikran com Loak. A lembrança sobre como ele tinha medo de altura fez seu estômago embrulhar, e um leve sorriso brotar em seu rosto.

Para sorte de Neteyam, não demorou mais do que alguns dias para que Neytiri se voltasse à se seus afazeres, e deixasse de vigiá-lo. Ao contrário de Jake, que demonstrava estar mais cansado que o comum sobre Neteyam, e não estava falando tão bem com ele. Para surpresa de todos, eles confiaram em Loak e Neteyam para que sempre soubessem o paradeiro um do outro, e que não se perdessem de vista. Esse foi acordo após as horas de bronca, dias de castigo, e de vigia.

Era final de semana. Eles estavam na praia com o grupo de adolescentes que costumavam andar. Neteyam havia concluído as tarefas. Vigiava Tuk, que brincava com outras crianças da vila, enquanto conversava com os colegas. Estava disperso. Como sempre, os pensamentos fugiam vez ou outra para outro lugar, ou melhor, outro navi, que não estava lá.

"Ei!" Tuk correu até os irmãos, sorridente.

"Oi, Tuk." Neteyam a acolheu em um abraço. "Como tá a brincadeira?"

"Muito legal." Ela riu. "Tsireya, o Loak diss-." Loak arregalou os olhos, perdeu o ar dos pulmões, correu até ela e tapou sua boca com as mãos.

"Fica quieta, pelo amor de Eywá." Grunhiu entredentes próximo ao ouvido dela.

"Por que?" Ela perguntou com a voz abafada. Franziu o cenho, sentindo-se injustiçada.

"Deixa ela falar, Loak!" Tsireya interviu. Estava desconfiada. Tuk não era o tipo de criança mentirosa. Queria saber o que Loak falou.

"Não é nada, ela quer me irrit- Ai! Tuk!" A menina deu uma mordida em sua mão. Ele afastou em reflexo. Neteyam caiu em risadas. Tsireya olhava para eles, intrigada.

"Loak falou que você tem peitos bonitos!"

Tsireya arregalou os olhos, em choque. Ficou corada tamanha vergonha. Tuk bradou tão alto que todos escutaram. Neteyam gargalhou. Os que estavam em volta riram de constrangimento. Loak abaixou a cara. Cobriu o rosto com as mãos. Praguejou internamente e xingou todas as gerações de sua família. Por que todos seus irmãos eram tão insuportáveis as vezes? Desejou cavar um buraco na terra e sumir definitivamente.

𝐀𝐖𝐀𝐊𝐄  •  neteyam x aonungOnde histórias criam vida. Descubra agora