"Tá ficando tarde, eu devia ir pra casa."Neteyam comentou com pesar na voz. Contemplava o rosto de Aonung, penteando as madeixas onduladas de seus cabelos para trás. Ele mirava diretamente em seus olhos, não era capaz de escapar daquele olhar felino, percebendo que a cor era azul-acinzentada. Poderia passar horas como estavam, apenas trocando olhares, sorrisos, carícias, abstraídos um pelo outro.
"É o que você quer?" A voz de Aonung soou duvidosa. Ele sorriu de canto.
"Minha mãe vai ficar brava."
"Hm. Você pode ir então."
Aonung se levantou, limpando algumas folhas secas e pedaços de galhos grudadas nas pernas e nos braços. Estavam deitados há alguns minutos, talvez já há meia-hora à beira praia. Preferiu prender o cabelo, já que havia suado pela briga com a prima. Neteyam assistia seus movimentos, enquanto travava uma batalha interna entre voltar para casa e evitar uma bronca ou seguir sua única única vontade, estar com Aonung. Percebeu que era incapaz de manter a atenção em outro ponto ou pensamento que não fosse o corpo dele quando o herdeiro esticou os braços e enroscou as mechas de cabelo num rabo-de-cavalo. Estalou os dedos das mãos, reprimindo a vontade de toca-lo.
"Eu vou sozinho então."
"Pra onde?"
As orelhas de Neteyam se ergueram em alarme e curiosidade, receoso, e ao mesmo tempo curioso, para saber onde ele iria àquela hora tão avançada da noite. Guiado por seus instintos, levantou do chão, caminhando até à frente dele.
"Fontes termais." Aonung fechou os olhos, alongou e estalou o pescoço. "Meu corpo todo dói graças aquela-." Parou e pensou com uma careta formada no rosto. "-garotinha."
Neteyam rebaixou o olhar. Entreabriu os lábios algumas vezes ao procurar o que dizer. Entretanto, não passou um sequer fio de pensamento racional por sua cabeça. Ouviu apenas a razão de suas vontades e as batidas aceleradas de seu coração. Desejava estar com ele. Umedeceu os lábios e tombou o rosto, esboçando um meio sorriso como se estivesse relaxado.
"Eu vou."
"E seus pais?"
"Eu me resolvo com eles."
Ele deu de ombros, encenava não se preocupar, quando sabia que entraria em encrenca, mas pouco importava. Estava gostando de ouvir a si próprio, ultimamente sentia-se livre. O Metkayina mordiscou o lábio inferior em precipitação ao conter um sorriso amplo, contente, não passando despercebido por Neteyam que lhe estendeu a mão e ele a segurou, entrelaçou seus dedos aos dele.
Eles caminharam rumo mata à dentro. Não havia rastros de ninguém além deles por perto àquela hora. Os únicos sons ouvidos eram os de seus passos que quebravam as folhas caídas na grama, e os barulhos característicos das cigarras, grilos, e demais criaturas noturnas. Naquele Inverno estava mais frio que o comum. Uma brisa gélida do oceano os atingia vez ou outra, Neteyam sempre sendo o mais afetado.
"É tão frio aqui." Comentou. Sentiu um arrepio e estremeceu.
"Você é que é muito sensível." Aonung zombou por implicância com um sorriso no rosto. Neteyam rolou os olhos em discordância.
"Você que tem couro de crocodilo e não sente frio." Rebateu e arrancou um riso dele. Neteyam induziu que seria frio para qualquer um que não estivesse acostumado com aquele clima. Mas parecia ser motivo de divertimento para Aonung.
"Nós vamos às fontes termais no Inverno justamente por causa do frio."
Neteyam se empolgou. Há tempos que não se banhava em águas quentes como haviam na floresta. Estava se acostumando com as temperaturas gélidas das águas do Recife, mas particularmente não era o que mais gostasse. Talvez passasse a frequentar as águas termais. Pensou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐀𝐖𝐀𝐊𝐄 • neteyam x aonung
FanficApós escapar da morte, Neteyam se recupera e retorna a conviver no cotidiano dos Metkayina. O que não imaginava era que seria sua relação conturbada com o herdeiro do clã o que mais o atordoaria e ocuparia o espaço em seus pensamentos dali em dian...