𝐀𝐖𝐀𝐊𝐄 • neteyam x aonung

Nostalgic

"Não adianta ficar rosnando de frente pro seu reflexo. Cada vez que você tenta fica pior."

Aonung gargalhou acompanhado pelos amigos. Os adolescentes caçoavam de Loak por tê-lo pego rosnando contra o próprio reflexo na água. Todos concordavam que Loak não era muito habilidoso nisso. Para eles era simplesmente hilário.

"Era um peixe muito grande e agressivo, na verdade não parecia um peixe. É sério!"

Caíram na gargalhada. Loak estava indignado, realmente havia uma criatura esquisita por ali.

"Você tava tentando caçar o peixe ou espantar ele?" Mais um comentário ácido e risonho de Aonung.

"É por essas bizarrices que você é uma aberração."

"E-eu-ele...argh. Quer saber?!"

Perdendo o bom espírito e com pouca tolerância àquelas provocações de mal gosto repetitivas, calou-se e aproximou-se do líder do bando, ficando a poucos centímetros de distância dele. Para Loak, Aonung era irritante demais, sempre com aqueles risinhos e piadas toscas.

"Devia ser o seu reflexo de peixe podre."

Encarou-o de cima abaixo, os garotos urraram e riram. As provocações haviam diminuído desde o incidente com Neteyam, mas, em sua concepção aquele garoto parecia bipolar. Não sabia o que acontecia para o humor dele virar do avesso e do nada voltar a ser sua pior versão, um babaca completo.

Estava pronto para dar uma surra nele de novo. Pretendia humilhá-lo novamente em frente aos amiguinhos dele, e dessa vez, sozinho. Nos últimos meses ele assumiu o posto de irmão mais velho, Jake o havia treinado mais do que o de costume. Provaria seu valor.

O Metkayina mantinha o sorriso debochado estampado no rosto, subestimando-o com apenas aquele singelo olhar de desprezo, demonstrando sua superioridade. Loak mostrou as presas, tencionou as orelhas para trás e ameaçou partir para cima dele, quando sentiu uma pegada em seu braço que o detinha. Aonung olhava por cima de seu ombro, parecia satisfeito, entretanto.

Era seu irmão.

Não sentia falta daquilo. Ele podia lidar com aqueles idiotas sozinho.

"Saudade dos velhos tempos?"

O Metkayina abriu os braços se curvando cordialmente, como se honrasse aos irmãos e a própria cena, similar à que havia acontecido há meses atrás quando os Sully recém-chegaram à aldeia. 7 meses após ele se sentia mais confiante, ainda mais acompanhado por adolescentes mais velhos. Mas não pretendia brigar. Eram apenas provocações divertidas.

"Você não se cansa dessa rotina?" Neteyam desdenhou.

"Não. É difícil algo me cansar."

Aonung semicerrou os olhos, analisando a reação de Neteyam. Loak ameaçou avançar e tomou impulso, sentindo-se profundamente raivoso. Neteyam puxou o irmão pelo braço para trás sem delicadeza, e sem hesitação tomou a frente dele, ficando cara a cara com o herdeiro do clã.

"Eu já lidei com eles várias vezes sozinho, me deixa resolver isso do jeito certo!"

Neteyam, como era sábio, impediria aquilo. Era vergonhoso demais para ele ter de se desculpar novamente com o Ol'okeytan por deixar a cara do filho do líder e seus amigos roxa, e tomar uma bronca do pai pelo mesmo motivo. Entendia que para estar ali deveria evitar conflitos. Eram estranhos naquele povo, não poderiam ter uma má reputação. Dependiam do clã para sobreviver.

Em fim, retornou a sua principal função: manter Loak longe de problemas.

"Me larga. Eu vou tirar esse sorriso ridículo da cara dele com um soco só, que nem eu fiz da ult-."

"Cala a boca, Loak, se não vai ferrar tudo de novo."

Neteyam comandou com o indicador levantado à altura do rosto do irmão. O cenho tensionado entre um dos olhares severos e o tom de voz autoritário que exalava o quanto estava irritado. Para ele, só bastava Loak ser menos provocável, menos sensível e emocional.

"Cara, parece que você não aprendeu ainda a pensar."

"Me larga."

Insatisfeito, Loak correu em direção aos corredores de cordas da aldeia em passos firmes, não sabia para onde ia mas não ficaria ali. Para ele, Neteyam se contentava com injustiças e tolerava provocações só para evitar problemas, ao invés de fazer a coisa certa. Disso não sentia falta.

Agora que tinha lidado com o irmão mais novo, voltou a Aonung, transparecendo o quão farto de seu comportamento ele estava. Apesar de passados 7 meses, para ele era como se dias atrás tivesse acontecido aquela briga além dos inúmeros insultos. Deu alguns passos adiante e arfou, cruzando os braços à altura do peito. Pressionou a língua contra o interior da bochecha e avançou.

"Por que você não se comporta como alguém da sua idade também? Querendo arrumar briga com os mais novos. Isso é covardia."

Deu mais um passo adiante. Estava pronto para um sermão. Ele falaria mais se Aonung não tivesse se antecipado.

"Está tentando me intimidar?"

Abriu um sorriso ainda mais provocativo. Neteyam percebeu aquele ato e retorceu a cara em desgosto. Não parecia o mesmo que o entregou o presente na noite anterior.

"O que aconteceu com você?"

"Vai rosnar pra mim também, como aqueles bichos da floresta?"

Revirou os olhos e cambaleou para trás, desistente. Afastou-se, vendo que não teria sentido em continuar com aquela cena teatral demais para o seu gosto. Levantou ambos os braços para cima num ato de desistência e deu as costas, sem não antes deixar de dizer.

"Eu quase morro. Tô completamente fodido da cabeça." Apontou para a própria. "E vocês dois só querem me encher o saco, arrumando problema atoa pra eu resolver." Riu desgostoso. "Vocês deviam tentar ser mais úteis."

"Mas er-."

"É isso que eu ganho por dar a minha vida pela minha família e pelo seu clã."

Antes de se retirar, completou.

"E vê se não esquece que eu te poupei de outra surra. "

Todos permaneceram calados, uns desviando o olhar para pontos aleatórios, envergonhados, outros encarando Aonung, tal como Rotxo, ansiosos pelo que ele faria, e muito tensos. De repente o clima havia ficado pesado. Todos sabiam que as palavras de Neteyam eram verdadeiras.

"Não era o que eu qu-."

Aonung virou-se para o grupo e iria comentar sobre a situação, mas, repensou e decidiu ficar calado. Sabia que estava errado e inesperadamente sentia-se decepcionado consigo mesmo, por isso não queria dizer nada. Não era bom em lidar com aquele tipo de sensação.

"Vamos embora."

Comandou aos amigos.

Continua...

Notas:

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