Unforgettable

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Nas semanas conseguintes, a voz majestosa de Lewo ecoou repetidamente na mente de Neteyam, como trilha sonora para todas as inúmeras vezes em que se pegava pensando em Aonung. Estava com o olhar perdido, voltado para um cardume de pequenos peixes que passavam entre suas pernas e faziam-no cosségas.

Incapaz de parar de refletir sobre as falas da sábia baleia, ele estava desorientado. Eram tantas possibilidades do que àquelas palavras significariam. Rondou o perímetro da praia com outros jovens guerreiros àquela tarde. Tentava relaxar. Montado em seu ilu, fechou os olhos, sentindo a leve brisa do fim de uma tarde de Inverno, e arfou com pesar. Neteyam tentou conversar com o Tulkun outras vezes para esclarecer as dúvidas sobre o afastamento repentino do herdeiro. Mas não pode entende-lo como da primeira vez. A voz não ecoou em seu ouvido. Tão pouco Lewo parecia compreende-lo. E por isso estava frustrado.

Aonung estava muito concentrado no combate à uma possível guerra, e por isso mal se encontraram àquelas duas semanas. Certo dia, quando encontrou o Aonung na enseada, comentou que havia ouvido a voz do Tulkun, e que conversaram. Ele duvidou, disse ser impossível, e que provavelmente se tratou de um sonho. Neteyam pôs em dúvida se aquilo realmente havia acontecido, ou fora fruto de sua imaginação.

As grandes criaturas permaneceram no recife. Tonowari, aconselhado pelos guerreiros e anciãos da tribo, decidiu que, para a segurança de todos, as famílias Tulkun não deveriam partir até que desvendassem o mistério dos incêndios, e houvesse certeza de que era seguro partir. No recife poderiam protegê-los. E para o infortúnio dos Metkayina, durante as extensivas patrulhas, foram encontrados em torno de uma dezena de incêndios marinhos. Cada vez mais próximas à aldeia. Neteyam percebeu que um ar de medo e angústia pairava no ar. Eles pareciam temerosos, preocupados. A família Sully também estavam apreensivos. Haviam fugido de uma guerra, e Jake e Neytiri temiam em breve estar envolvidos em outra.

Mas eles concordaram que, se fosse o caso, não abandonariam os Metkayina. Não era do feitio do casal fugir, e sim guerrear para proteger os que amavam. Experientes em batalhas, eles até mesmo aconselharam Tonowari, Ronal e os guerreiros. Em uma certa tarde, Jake reuniu os filhos no bangalô para ter uma conversa séria.

"Vocês tem que redobrar a cautela de agora em diante." Ele olhou demoradamente para Loak e Neteyam, que ficou cabisbaixo. Um pouco culpado ao ouvir o sermão do pai. "Nada de exploração além do recife, dormir fora, principalmente sem avisar, perder uns aos outros de vista além do tempo necessário, ou se distrair com futilidades. Entenderam?"

"Sim, senhor." Neteyam respondeu de prontidão.

"Entendi." Loak falou. As irmãs assentiram. Tuk abraçava o braço de Loak. Ela não gostava da situação.

Jake segurou no ombro do fiho mais velho e balançou o garoto. De forma amigável, sorriu para ele. "Continue sendo assim, Neteyam. Eu posso contar com você, não é?"

"Pode, pai. Eu tô sempre aqui pra isso." Neteyam sorriu torto.

Deu um aperto de mão e recebeu um abraço afetuoso de Jake. Ele deu batidinhas em suas costas. E como de costume, bagunçou seus cabelos. Neteyam sorriu. Estava contente de ter se acertado com ele. Era importante para ele ter a aprovação de Jake, em especial. A realidade era que não desgostava de cumprir seus deveres, ou cuidar das crianças. Pelo contrário. Gostava de se sentir útil, apenas não era suportável ter todas as responsabilidades em suas costas. Mas Loak pareceu se tornar mais solidário, desde então, ficou fora de confusões e situações arriscadas, além de também revezar com o mais velho e vigiar as irmãs.

Passando mais tempo com ele, Neteyam percebeu que talvez, durante àquele tempo em que esteve adormecido, e ausente, Loak tenha desenvolvido um senso maior de responsabilidade, o que era bom para os dois.

𝐀𝐖𝐀𝐊𝐄  •  neteyam x aonungOnde histórias criam vida. Descubra agora