Capítulo 14

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Já se passou algum tempo desde que saí do hospital. É tão estranho não me lembrar de nada do que aconteceu em quase dois anos da minha vida. Parece que eu não vivi todo esse tempo.

Choro todos os dias pela minha mãe. Sinto tanta falta dela. Me dói tanto saber que ela morreu e eu não pode lhe proporcionar uma vida melhor.

Meus pensamentos estão a mil por hora. Minha cabeça está a ponto de explodir.

Quando fui tomar banho, vi meu corpo no espelho e ele está cheio de cicatrizes. Meu cabelo está curto. Eu tenho um closet cheio de roupas, sapatos, jóias, perfumes, até maquiagem que eu não uso. Porquê eu aceitei tudo aquilo?

Parece que aquela pessoa nem era eu.

Eu deixei minha mãe, meu país, por causa de um homem que nem é tão carinhoso assim. Pelo menos não aperenta ser.

Tenho aulas de inglês e italiano de segunda a sexta. Eu sempre aprendi rápido por isso aprender as línguas não é um problema.

Depois que a professora se vai, custumo arrumar a casa e limpar. Eu cozinho também. Nunca vi casa tão sem vida.

Eu leio na biblioteca, vejo televisão.....

Ítalo disse que eu não posso sair porque não me lembro de nada e posso acabar me perdendo. Eu também achei mais seguro ficar aqui dentro.

Na cozinha tem uma porta que Ítalo disse que em ocasião alguma eu devo abrir. Fiquei um pouco curiosa mas acebei deixando para lá.

Já vi que ítalo é um homem frio.
Sempre que o vejo meu coração acelera e fico desconfortável em sua presença.
Ele me encarra com aqueles olhos azuis que nunca expressam nada depois me dá um "boa noite" e vai para seu quarto tomar banho e trocar de roupa. Quando ele volta sentamos na mesa. Cada um em uma ponta. Ele sempre come em silêncio. Parece gostar da minha comida porque na maioria das vezes ele repete.

Depois ele come a sobremesa, quando eu faço, lava o que ele sujou me diz "durma bem" e vai para seu quarto. É assim todos os dias. Com essas mesmas palavras.

Hoje isso acaba. Não quero viver assim.
Se eu não me lembro do que aconteceu, eu quero criar novas memórias.

***********

— Como foi o seu dia? — pergunto quando sentamos na mesa para jantar como sempre fazemos.

— Normal. — responde vago como sempre.

— Porquê você não fala comigo?

— Eu falo com você.

— Desde que eu sai do hospital você paraticamente não falou comigo.Você é frio e está sempre de cara fechada. Nosso relacionamento era assim? Foi por esse homem que eu me apaixonei perdidamente a ponto de mudar e deixar minha mãe? Digo, você consegue ao menos sorrir?

— Claro que consigo. — responde prontamente.

— Então eu quero ver.

Ítalo olha para mim como se aquilo  fosse um absurdo. Talvez até seja mas eu quero ver.

Cruzo os braços e o encarro com expressão de desafio.

Ele começa a fazer uma expressão estranha na cara reparo que está forçando um sorriso. Depois de fazer um enorme esforço ele finalmente sorri.
Nunca vi sorriso mas falso em toda minha vida.

— Eu sabia!

— Este não é um momento apropriado para sorrir. — justifica.

— Que se dane! Agora existe momento apropriado para sorrir? Eu quero voltar para o Brasil. — digo para ver sua reação.

VendadaOnde histórias criam vida. Descubra agora