Além do Esperado

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Boa leitura babys!

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Rosamaria Montibeller

Depois de todo o desabafo de Roberta, tentei manter a conversa um pouco mais amena. Falamos sobre seu dia com Paula e as crianças e um pouco sobre o trabalho dela no abrigo. Eu podia sentir sua inquietude, como se eu fosse questiona-la a qualquer momento sobre o motivo dela estar lá, mas nunca o fiz.

Eu sabia que já tinha sido um grande passo colocar tudo o que ela colocou para fora e estava mais do que grata por ter conhecido um pouco mais da sua história. Eu podia sentir todas as minhas barreiras ruindo por essa Roberta, uma empatia que eu nunca imaginei que seria capaz de sentir surgindo instantaneamente.

Eu queria ter sido amiga dela no passado e segurado sua mão quando ela descobriu que sua mãe estava morta ou tê-la impedido quando ela tomou o primeiro porre. Queria ter incentivado para que ela buscasse os seus sonhos, assim como minha família sempre incentivou os meus.

É claro que com nosso histórico isso não foi possível e eu não estava esquecendo tudo o que havia acontecido entre nós, mas nunca seria capaz de fechar os olhos para o quanto ela sofreu. Que a dor que ela infligiu a mim e a tantas outras pessoas era apenas uma parte da dor que ela mesma sofria.

- Obrigada pela conversa, Rosamaria. - Ela disse quando parei o carro em frente a sua casa. - Obrigada por ter me dado a chance de contar um pouco da minha história.

- Obrigada por confiar em mim o bastante para contar.

Ela abriu a porta para sair, seus olhos encontrando os meus algumas vezes, timidamente.

- Amanha à noite vai haver um evento para as crianças. Nada muito grande, apenas alguns jogos e comidas, sempre fazem anualmente. Essa é a minha primeira vez e vou estar à frente de tudo. Pietra e Sonaly vão estar lá, talvez você quisesse ir também? - Ela parecia insegura enquanto falava, mas ao mesmo tempo esperançosa.

- Não sei se a Pietra ficaria satisfeita com minha presença. - Eu ainda lembrava da forma como ela me olhou da última vez.

- Pietra tende a ser muito protetora às vezes, mas ela não faz isso de propósito. Acho que essa é uma boa oportunidade para vocês se conhecerem melhor. - Ela insistiu e parecia tão fofa e tímida que não fui capaz de resistir.

- Você tem razão. Eu estarei lá e ajudarei você com as crianças. - Ela sorriu satisfeita, o que me fez sorrir também.

- Nos encontramos lá as dezenove horas então. Até amanhã Rosamaria!

Não era um exagero dizer que minha mente esteve em Roberta durante todo o resto do dia e no dia seguinte também. Nossa conversa rondou meus pensamentos e me fez questionar tudo que eu tinha de certezas na vida.

Convidei Paula para ir à festa comigo e ela aceitou prontamente, totalmente animada para estar com as crianças outra vez. É claro que ela estranhou o fato de estarmos indo a uma festa organizado por Roberta, mas não questionou isso.

As dezenove em ponto estávamos parados em frente ao abrigo. O lugar era amplo e aparentemente bem cuidado. Havia um gramado extenso onde algumas decorações estavam dispostas, alguns brinquedos infláveis também. O prédio era maior do que eu imaginava, parecendo ser confortável o suficiente para acomodar todos que precisavam.

Mas meus pés travaram antes que eu pudesse sair do carro quando meus olhos foram de encontro a grande fogueira que tinha ao lado. Era uma noite fria e fogueiras eram mais do que comuns, ainda mais levando em consideração o quanto crianças gostam de assar salsichas ou marshmallows. O problema é que eu não era uma grande fã de fogo.

Mistakes - RosabertaOnde histórias criam vida. Descubra agora