Consequências

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Boa leitura pessoal!

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Roberta Ratzke

3 MESES DEPOIS

Observei Fernanda caminhar de um lado para outro na cozinha da antiga casa da nossa mãe, minha casa agora. Na noite passada ela havia insistido em vir para que tomássemos um café da manhã hoje e não pude recusar.

Eu ainda não queria ver muitas pessoas e sobrevivia de um bico ou outro que fazia em parte do meu tempo livre. Vez ou outra eu ainda ligava para a Pietra, apenas para deixá-la ciente que eu estava bem, mas não passava mais que um ou dois minutos ao telefone.

Fernanda no entanto, eu aprendi que era mais difícil afastá-la do que imaginei. Ela viria mesmo sem minha autorização e bateria na porta insistentemente até que eu abrisse. Ela também me ajudou a encontrar um novo grupo de apoio e terapeuta, porque minha sentença ainda estava vigente, independente de eu ter ido embora.

- Você pretende sair hoje? - Ela questionou colocando alguns ovos mexidos em um prato e os levando até a mesa.

- Não. Eu fiz alguns trabalhos mais pesados ontem, minha perna tem incomodado um pouco. - Respondi sem muito ânimo, sabendo que seria mais um motivo pra ela reclamar comigo.

- Até quando vai fingir que fazer esforços em trabalhos pesados não está piorando o seu estado? - Fernanda revirou os olhos quando não respondi imediatamente. - As vezes você parece uma criança.

Eu não poderia discutir muito sobre isso, ela tinha razão. Nos últimos três meses eu estava forçando meu corpo mais do que ele aguentava e isso resultava em várias e várias crises de dores intensas.

- Podemos comer em paz e falar disso em um outro momento? - Pedi tentando fugir do assunto e ela aceitou.

- A Rosamaria parou de ligar. - Ela disse de repente e eu desejei que tivéssemos nos mantido no assunto anterior. - Ela parou de perguntar por você.

Ponderei por um momento aquela informação. Desde que eu insistentemente pedi que minha, agora ex namorada fosse embora, ela tinha mantido contato quase diário com Fernanda. Algumas vezes eu ainda recebia uma chamada ou mensagem de voz também, mas nunca tive coragem de atender ou ouvi-las. Eu simplesmente não resistiria.

- Como eu disse, era apenas uma questão de tempo... - Deixei as palavras morrerem em minha boca lembrando da expressão quebrada que Rosa me deu quando eu disse isso há três meses atrás.

- Roberta, o que você está fazendo com ela não é justo. - Ela me recriminou mais uma vez, trazendo o resto da comida para a mesa e sentando ao meu lado. - No lugar dela, eu te odiaria.

Comecei a comer em silêncio, não conseguindo responder nada do que ela havia dito. Eu sabia como era ter Rosamaria me odiando e embora quisesse manter distância, imaginar que ela se sentia daquela forma sobre mim novamente, doeu.

Fernanda pareceu acalmar seu falatório e então também começou a comer em silêncio. Eu não conseguia me irritar com ela porque apesar de tudo eu via todo o esforço que ela fazia para se manter presente.

- Você está esperando alguém? - Perguntei quando a campainha tocou.

- Não. - A encarei, tentando ver se ela estava mentindo. - Roberta, eu não estou esperando ninguém.

Bufei em irritação e caminhei até a porta querendo descobrir quem diabos estava aqui. Quando abri, dei de cara com um homem grisalho, engravatado e parecendo pouco amigável.

- Bom dia, senhorita Ratzke? - Ele perguntou enquanto lia meu nome em um papel.

- Sim, sou eu. - Respondi um pouco receosa.

Mistakes - RosabertaOnde histórias criam vida. Descubra agora